Fabio Eduardo Peake Braga é Engenheiro Mecânico de Produção pela Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo com diversos cursos de pós-graduação
no Brasil e no exterior. 34 anos de trabalho na TRW do Brasil Ltda. Foi Vice-Presidente
de Tecnologia e Qualidade da área de Sistemas de Direção de Veículos. Membro fundador
da SAE BRASIL e membro de seu Conselho Diretor por vários anos. Foi Gerente
Geral e de Relações Institucionais da mesma entidade. Membro do Conselho Fiscal
do IQA – Instituto de Qualidade Automotiva. Membro da ABQ - Academia Brasileira
da Qualidade.
Como
você percebe os impactos e consequências do COVID-19?
A
pandemia do Covid-19 impactou fortemente todas as atividades e organizações de
praticamente todas as nações do mundo. Iniciada em uma região da China,
espalhou-se por diversos países alguns meses depois, obrigando a uma parada
geral de atividades, causando milhões de infectados pelo vírus e centenas de
milhares de mortos. Causou crise econômica séria em todo o mundo, trazendo
desassossego familiar e econômico, com milhões de empregos perdidos e grandes
prejuízos para o setor empresarial. O que era certo, tornou-se incerto e o que
era incerto ficou quase impossível de ser planejado a curto prazo.
Suas
consequências serão sentidas por vários anos. O Estado teve que assumir gastos
e compromissos que estão consumindo suas reservas, comprometendo sua capacidade
de investimento nos próximos anos.
As
empresas brasileiras, que já vinham com grandes dificuldades para competir com
empresas de outros países, por estarem tecnologicamente atrasadas, terão
grandes dificuldades para voltar a ser lucrativas depois da paralisação do
mercado causada pela pandemia.
Por
outro lado, esta crise nos ensinou que podemos aumentar o rendimento de nosso
trabalho, com a ampliação e controle do trabalho executado fora do local da
empresa em escritórios domésticos (home offices)
para muitas atividades administrativas, de compras e de vendas, discussões
técnicas, eventos, reuniões, etc.
Assim,
as pessoas tiveram várias mudanças no seu dia a dia, muitas das quais se
tornarão permanentes. Teremos que trabalhar nossas empresas para que se adaptem
a novos métodos e sistemas organizacionais.
O que fazer no curto
prazo, afora as medidas já tomadas, para atenuar o impacto econômico,
empresarial e social?
Acho
conveniente sugerir ações a serem implantadas em duas fases:
–
1ª fase: Baseados nas respostas da pergunta inicial, temos que enfrentar um grande
trabalho para garantir a sobrevivência de nossas empresas e dos empregos por
elas gerados.
Inicialmente
serão necessárias ações emergenciais para cobrir os rombos financeiros causados
pela pandemia, despesas e compromissos não previstos, queda de faturamento e
atividades, gastos maiores com medidas sanitárias e de controle médico de
funcionários, dirigentes, fornecedores e demais pessoas que interagem com
nossas atividades.
Teremos
nessa 1ª. fase maiores custos de produção, com a reorganização do fluxo de
materiais e de pessoas, além de mudanças nos sistemas produtivos e logísticos.
-
2ª fase: Nossas empresas precisam voltar a ser competitivas. Para isso, terão
necessidade de grandes investimentos em equipamentos atualizados, em relocação
de fábricas, gastos em pesquisa e desenvolvimento e treinamento de pessoal
qualificado às novas técnicas.
Para
atrair investimentos, nosso sistema jurídico deverá ser revisto para dar
segurança jurídica de médio e longo prazo aos investidores privados, com
garantia à remuneração do capital aplicado e à sua acumulação para
investimentos futuros.
O
Estado terá que se concentrar nas suas atribuições básicas em saúde, educação, segurança
e na coordenação da implantação pelo setor privado de estruturas de
movimentação e transporte de pessoas e mercadorias adequadas.
Na
Educação o país terá que investir na melhoria do ensino básico, intermediário e
técnico, para elevar seu nível de qualidade, como forma de preparar melhor os
jovens para o tipo de trabalho que a moderna indústria exige para ser
competitiva.
Como a qualidade e a
gestão podem ajudar para saída da crise?
Como
vimos na resposta anterior e em recentes estudos internacionais, a sociedade brasileira
está diante da necessidade premente de recuperar o terreno perdido nas duas
últimas décadas em termos de competitividade e qualidade.
Para
tornar essa empreitada possível, alguns programas emergenciais são necessários.
A
ABQ tem em seus quadros pessoas altamente capacitadas na gestão de projetos de
aprimoramento da qualidade e da produtividade. Assim podemos levar essa
experiência para oferecer à sociedade sistemas de gestão seguros e eficazes em
atividades como:
1- Implantação
de sistemas de gestão da inovação voltados ao aprimoramento dos processos
produtivos de nossa indústria para levá-la a níveis competitivos globais.
2- Criação
de formas de incentivo a inovações significativas (disruptivas) de curto e
médio prazo em produtos e processos.
3- Prestigiar
programas de incentivos fiscais para atrair investimentos locais e do exterior
para melhoria significativa de processos produtivos, com equipamento e
processos de alto padrão qualitativo.
4- Auxiliar
na criação de sistemas de indicadores significativos sobre a qualidade da
informação e da comunicação como forma de evitar a disseminação de informações incompletas
e inconsistentes.
5- Contribuir
em projetos de diversas áreas para a requalificação das pessoas, com o objetivo
de permitir a empresas e entidades preparar seus colaboradores para a nova
realidade 4.0, de maior automação em geral.
6 - Participar no desenvolvimento de Sistemas
de Segurança Cibernética voltados a garantir segurança e confiabilidade na
transformação digital e nos processos de automação.
7 - Criar sistemas de gestão com altíssima
velocidade de detecção e correção eficaz de problemas, de forma a ter gestão
com o dinamismo requerido pelas novas gerações e pelos novos processos decisórios,
mas com segurança.
Sempre dizemos que o
Brasil é o país do futuro: Isso pode acontecer algum dia? Quando? Como será
possível?
Essa
pergunta revela uma falha no modo de pensar brasileiro, que precisamos ajudar a
corrigir. Para mudar essa percepção é
necessário:
• Desenvolver
senso de responsabilidade em cada indivíduo;
• Disseminar
campanhas de fácil entendimento pelo comportamento ético e honesto em tudo o
que se faz. - (Corolário do item anterior?);
• Criar
mais oportunidades para prestigiar pessoas, empresas e entidades que apresentem
padrões de excelência em suas atividades, como o Prêmio Nacional e os prêmios
regionais da Qualidade, levando-os a pequenas e médias empresas, com a ajuda
das grandes. Atenção também para a qualidade e responsabilidade da área de
prestação de serviços técnicos e digitais.
Qual a recomendação que
você daria a um jovem que está no mercado de trabalho e vive toda esta
incerteza?
Dentro
da problemática atual, empresas e entidades necessitarão de profissionais competentes
e altamente comprometidos com o bom desempenho das mesmas.
Alguns
pontos a serem lembrados quando procurar uma boa colocação no mercado de
trabalho:
–
Confie nas suas qualidades e conhecimento;
– Procure permanentemente se aprimorar, através de estudos, pesquisas, cursos e
treinamentos;
– Observe princípios éticos, morais e legais em todas as suas ações.
Palavras-chave:
Interesse
– compromisso – pontualidade – disponibilidade para tarefas difíceis –
conhecimento e vontade de aprender – Comportamento ético e moral – foco em
resultados – atenção aos prazos requeridos – trabalho em equipe – análise de riscos.
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