Acadêmico Caio Márcio
Becker Soares é Engenheiro
eletricista pela Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais,
graduação em 1968. Quinze anos de trabalho na RCA Eletrônica e passagens pela
Sharp, Semp Toshiba e SID Microeletrônica. Diretor Executivo do Instituto
Qualidade e Produtividade Minas até 2017. Membro do Conselho de Produtividade
da ACMinas e do Conselho Consultivo da UBQ.
Acompanhe a sua entrevista, realizada a distancia, no final de junho.
Como você
percebe os impactos e consequências da COVID-19?
A
pandemia da COVID-19 é uma das muitas que já tivemos no Brasil. Parece que os
vírus se manifestam a intervalos, talvez com o objetivo de mostrar nossas
fraquezas e dependências, oferecendo oportunidades para melhoria.
A
COVID 19 nos trouxe uma grande devastação, com a morte de milhares de pessoas,
a infestação de outros milhares e danos profundos na economia dos países e das
pessoas individualmente. Os efeitos dessa devastação serão sentidos em muitos
anos a frente. Saúde e economia foram os principais impactos.
Entretanto,
a presença do vírus nos proporcionou alguns impactos positivos. Em função da
necessidade do confinamento, pais e filhos se aproximaram mostrando a
importância da família. Casais tiveram a oportunidade de conversar sobre a sua
relação, o que não ocorria antes. A necessidade de apoio mútuo foi despertada
na sociedade motivando pessoas e empresas em ações para as pessoas. Com
certeza, as pessoas cresceram e esse crescimento e seus benefícios serão
sentidos por todos pelo resto de suas vidas.
O que
fazer no curto prazo, afora as medidas já tomadas, para atenuar o impacto
econômico, empresarial e social?
A
influência do vírus só será neutralizada quando tivermos uma vacina eficaz.
As
medidas de isolamento social, utilização de máscaras, higiene e outras foram
absolutamente necessárias para conter a contaminação pelas pessoas e permitir o
aparelhamento da área da saúde no atendimento às pessoas infectadas.
Ações
do Governo com apoio financeiro às pessoas de baixa renda e que perderam sua
fonte de renda com o isolamento, apoio às empresas, principalmente aos pequenos
empresários, foram importantes na mitigação dos impactos econômicos. Também
louvável a atuação de empresas privadas disponibilizando recursos para os
hospitais de campanha e a compra de equipamentos, medicamentos e testes para
atender as pessoas infectadas.
A
disponibilidade de uma vacina que assegure a imunização das pessoas não deve
ocorrer, numa visão muito otimista, antes do final desse ano. Não podemos
manter empresas e pessoas isoladas e sem produzir. Se agirmos assim os danos na
economia serão maiores que aqueles já causados pela pandemia. Para minimizar os
impactos, é necessário que as cidades, de forma ordenada e planejada, reduzam o
isolamento permitindo, dessa forma, que a economia volte a circular. Isso já
está sendo feito e, como esperado, os indicadores de infestação das pessoas
mostram aumentos na contaminação. Até que tenhamos condição de imunizar todas
as pessoas, essa é a solução possível. Ou seja, temos que conviver com a
presença do vírus sem descartar o trabalho e a vida produtiva das pessoas e da
sociedade. Temos que buscar um equilíbrio.
Como
a qualidade e a gestão podem ajudar para saída da crise?
Antes
do início da pandemia já sabíamos que nossas empresas precisavam urgentemente
de melhorias na sua gestão empresarial. É sabido que a nossa produtividade, o
nosso desperdício, a dificuldade de realizar negócios no Brasil, a burocracia e
outros fatores, precisam ser encarados com seriedade e corrigidos.
Assim,
um trabalho bem estruturado junto às organizações, tanto privadas quanto
públicas, para a melhoria da sua gestão, é um primeiro passo a ser adotado na
saída da crise ou mesmo antes.
Não
estamos falando de inovações e nem de técnicas sofisticas de gestão. Precisamos
definir com clareza os objetivos e a visão de futuro de cada empresa e
trabalhar os seus processos, garantindo qualidade, produtividade e
competitividade a cada empresa. Dessa forma asseguramos a satisfação das
necessidades e expectativas das suas partes interessadas, a saber, o empresário,
seus clientes, seus empregados, seus fornecedores e a sociedade que ela, a
empresa, influencia.
Sempre
dizemos que o Brasil é o país do futuro: Isso pode acontecer algum dia? Quando?
Como será possível?
O
Brasil é o país do futuro. Suas dimensões geográficas, seu clima tropical, seus
grandes rios e florestas, sua vocação natural para a agricultura e muitas
outras vantagens nos garantem a condição de país do futuro. E por que ainda não
somos o país do futuro? A resposta está em nós, os brasileiros. Nunca
trabalhamos de forma eficaz para transformar o Brasil no país do futuro e,
também, num país bom para se viver. Tudo o que temos presenciado,
principalmente nos últimos trinta anos, demonstra com clareza porque ainda não
somos o país do futuro.
Pode
acontecer algum dia sermos o país do futuro? Sim, sem dúvida. Quando?
Infelizmente precisamos de muitos anos, uma vez que para isso, teremos que
mudar radicalmente a cultura dos brasileiros. Amor à pátria, respeito mútuo
entre as pessoas, respeito às leis e às autoridades constituídas, total repúdio
à corrupção, igualdade entre as pessoas são alguns dos fatores que precisam ser
mudados na nossa cultura. Será muito difícil, se não impossível, fazer as
mudanças na geração atual. Temos que trabalhar com as crianças, para formar uma
nova cultura, daí a necessidade de muitos anos para realizar esse trabalho.
Educação
e saúde são fundamentais para essa mudança de cultura. Infelizmente são duas
áreas muito desprezadas pelos atuais dirigentes do Brasil. Precisamos de uma
grade curricular que eduque as crianças para que conheçam o seu país,
orgulhem-se dele, respeitem a família e a sociedade e trabalhem para o
engrandecimento do Brasil. Dessa forma seremos o país do futuro, com certeza.
O
Sistema Único de Saúde, o nosso SUS, é um dos melhores sistemas de saúde
existentes no mundo. Apenas precisamos gerenciá-lo corretamente, o que nunca
fizemos.
Que
conselhos você daria a um jovem que está trabalhando e passa a viver toda essa
incerteza?
Na
pergunta anterior falamos das crianças para a mudança na nossa cultura. Na
linha do tempo, o jovem é o seguinte às crianças.
Para
esse jovem que está trabalhando, ou começando a trabalhar, recomendamos o
seguinte:
Acredite
no Brasil, apesar dos pesares. Busque aumentar sempre seus conhecimentos,
continuando seus estudos com muita leitura e cursos de aperfeiçoamento. No
trabalho, faça sempre o melhor, ouça com atenção o seu superior e sempre que
possível apoie os colegas de trabalho. Conheça e observe as normas da sua
empresa e as leis do Brasil. Cumpra-as, integralmente. Não aceite propostas que
visem a corrupção de pessoas ou de empresas. Seja honesto, sempre. Acredite no
Brasil, tome conhecimento, mas não compactue com as muitas coisas erradas que
acontecem no Brasil hoje.
Faça
a sua parte, com entusiasmo e retidão. Assim contribuirá para a nova cultura do
Brasil. Boa sorte.
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