Acadêmico Claudio de Moura Castro é Mestre pela Universidade de Yale
com doutoramento na Universidade de Vanderbilt (em Economia). Ensinou na
PUC/Rio, Fundação Getúlio Vargas, Universidade de Chicago, Universidade de
Brasília, Universidade de Genebra e Universidade da Borgonha. Autor de mais de
cinquenta livros e mais de trezentos artigos científicos, é articulista da revista
VEJA. Foi Diretor Geral da Capes, e funcionário da OIT, Banco Mundial e BID.
Acompanhe a entrevista realizada no final de junho, à distância.
Como você percebe os
impactos e consequências da COVID-19?
Se
já tínhamos uma sociedade que começou a se polarizar na gestão do PT, a
epidemia exacerbou esse processo. Agora temos até remédios de direita e reações
contra ele, por razões que mais parecem ideológicas do que médicas.
A
imprensa nada fez para mitigar essa guerra entre extremismos. Ademais, continua
demonstrando sua proverbial ignorância estatística.
A
notícia instantânea - com ínfima mediação de quem deve saber mais - criou maior
espaço para a ciência. Mas ao mesmo tempo, deu a impressão de um grande
relativismo nos resultados e conclusões. Cada um acha uma coisa e proclama suas
crenças aos brados. Faltou entender, o que torna a ciência poderosa é que, aos
poucos, vai peneirando o besteirol e converge-se para resultados que são
dificílimos de refutar. O foguetório faz parte, mas é efêmero.
A
epidemia trouxe um toque de solidariedade e cooperação. Vejamos que consequências deixa no longo
prazo. Não ouso palpitar.
E
também, quebra barreiras que pareciam invioláveis. Por exemplo, o uso de
tecnologia na educação e a telemedicina.
O que fazer no
curto prazo, afora as medidas já tomadas, para atenuar o impacto econômico,
empresarial e social?
Uma
abertura muito lenta, progressiva e seletiva. Abrir as comportas, como está
sendo feito, é uma receita segura para uma volta da epidemia e de novo episódio
de isolamento social.
A
exemplo, é inconcebível que se deixe entrar nos lugares sem medir a temperatura
e sem cuidados adicionais.
Por
outro lado, tudo que é ao ar livre é relativamente seguro. Portanto, parques,
ruas e praias não tem razão para serem fechados.
Faltou
o ajuste fino. Ficamos com o tudo ou nada. E o nada é cansativo, criando
pressões para abrir as comportas.
Como a qualidade e a
gestão podem ajudar para saída da crise?
Gerir
cuidadosamente a abertura é fundamental. A logística de uma operação a meia
marcha não é trivial na nossa cultura.
Sempre dizemos que o
Brasil é o país do futuro: Isso pode acontecer algum dia? Quando? Como será
possível?
Desde
vários anos que afirmo e reafirmo: o Brasil de hoje é um resultado espetacular, diante da
pobreza, do atraso e de tudo mais que era particularmente primitivo até o fim
do século XIX. Durante mais de um século crescemos mais rápido do que qualquer
outro país do mundo.
Esse
sucesso não é festejado pela nossa sociedade. Ficamos nos torturando pelo que
não fizemos, em vez de comemorar nossos
feitos espantosos, diante do que éramos.
Pensemos
bem, fomos colonizados pelo país mais atrasado da Europa ocidental. Trouxemos
os africanos que estavam na Idade do Bronze - e nem todos tão avançados. E
misturou-se tudo aqui com os índios que estavam a cerca de quatro mil anos atrás dos índio andinos. É
uma receita segura para o fracasso retumbante. No entanto, nos transformamos em uma das dez maiores
economias do mundo. O futuro é hoje. Não podemos nos desesperar pelos altos e
baixos.
Que conselhos você
daria a um jovem que está trabalhando e passa a viver toda essa incerteza?
Sonhe
e trabalhe duramente, para materializar o seu sonho. Apesar das reclamações,
vivemos em um país que oferece boas oportunidades. Se não para todos, mas para
muitos.
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