Acadêmico Claudius D’Artagnan C. Barros
(www.youtube.com.br/DartaBarros)
É executivo da Propar® Empresarial. Consultor
organizacional há 45 anos, possui especialização em Gestão da Qualidade pela
J.U.S.E (Japanese Union of Scientists and Engineers). É Professor Universitário
e também autor de diversos livros nas áreas da Qualidade, Serviços ao Cliente,
Gestão Participativa, Empreendedorismo e Liderança. É membro vogal da Academia
de Letras de Lorena/SP, onde ocupa a cadeira #20 e foi Vice-Presidente da ABQ
na gestão 2016/18. Mentor do Projeto Egecon® - Educação Gerencial Continuada.
Acompanhe a entrevista realizada no inicio de
julho, a distância.
Como você percebe os impactos e consequências
da COVID-19?
Quanto aos impactos, são claramente
perceptíveis. Quanto às consequências desta pandemia singular e sem precedentes
na forma como foi enfrentada, só o tempo dirá. É difícil antever com precisão
seus efeitos e consequências sobre a sociedade, particularmente sobre os
negócios. Conforme afirmou o businessman americano de ascendência egípcia,
Mahomed El-Erian (economista chefe da multinacional financeira Allianz SE):
“...as consequências do Covid 19 não serão
iguais às que já conhecemos de outras tragédias mundiais, essas, com
repercussões cíclicas e previsíveis. Neste novo-normal conviveremos com
rupturas estruturais e novos modelos disruptivos”.
Prova disso, é que todas previsões divulgadas
entre o final de 2019 e início de 2020 por entidades de notoriedade mundial,
como o FMI, Banco Mundial, OMC, OCDE, ONU e tantas outras, se tornaram vazias.
Volto a dizer, o cenário terá de ser reconstruído, pois o contexto mudou.
Enfim, um novo design de governança corporativa e uma acentuada mudança de comportamento
das empresas perante seus clientes e colaboradores é a única certeza que temos.
É hora, portanto, de medir a resiliência e capacidade de se reinventar. A
necessidade é a mãe da inovação!
O que fazer no curto prazo, afora as medidas
já tomadas, para atenuar o impacto econômico, empresarial e social?
Algumas medidas administrativas vêm sendo
tomadas e tem amenizado (mesmo ainda aquém da necessidade) os efeitos da
pandemia do COVID-19 em relação aos impactos econômicos/financeiros de curto
prazo. Dentre as principais medidas, podemos citar a prorrogação (ou adiamento)
de tributos: a MP 936 (Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e Renda) e
a liberação de crédito para as MPE’s (Micro e Pequenas Empresas). O problema é
a dificuldade de acesso a essas linhas de crédito. Conforme Pesquisa Sebrae, a
cada sete pequenos-empresários postulantes ao crédito, apenas um consegue
obtê-lo. Há uma expectativa de melhora nesta concessão de crédito através do
Pronampe, um Programa criado recentemente e que deverá atender a 4,5 milhões de
Micro e Pequenas Empresas com valores que vão até 30% do faturamento anual
dessas empresas.
De qualquer forma é improvável que os modelos
de negócio retornem aos patamares do pré-COVID-19. Há uma perspectiva otimista
de aceleração de algumas tendências, principalmente na substituição dos
serviços presenciais administrativos para regimes digitais, utilizando
homeoffice, tele trabalho, reuniões remotas, treinamentos online, etc. Algumas
empresas já iniciaram experiências de modelo híbrido flexibilizado como forma
de transição, mantendo seus colaboradores três dias em casa em regime de
homeoffice, e dois dias em regime presencial na empresa. Entretanto, ainda há
incertezas quanto ao ordenamento jurídico envolvendo essas medidas, sem falar
nos problemas de falta de conectividade e eficácia das plataformas digitais.
Contudo, é bem provável que os custos de operação nas empresas sejam reduzidos
e já se comenta que haverá aumento nos índices de produtividade, o que ainda
não está comprovado.
No ambiente social estamos presenciando
situações preocupantes, principalmente em relação aos problemas psicoemocionais
e de relacionamento resultantes do isolamento e do distanciamento social a que
a sociedade foi submetida. Destaco a desinformação como o elemento mais nocivo
atualmente para a sociedade. Frente a toda essa contextualização, resta-nos no
curto prazo, buscar serenidade e informações fidedignas para a tomada de
decisão, seja no âmbito profissional ou social. É preciso também procurar gerir
a rotina de forma consciente, com bom senso, aproveitando – como ensinam os
japoneses – as oportunidades que emergem da crise, na esperança de que tudo
isso possa ser superado num futuro breve.
Como a qualidade e a gestão podem ajudar para
saída da crise?
Qualidade e Gestão são modos simbióticos. É
difícil imaginar a Qualidade desassociada da Gestão e vice-versa. Os dois
métodos colocados em prática são de providencial ajuda neste momento obtuso
pelo qual as empresas estão passando. E justamente nesse momento crítico a ABQ
pode ser de grande ajuda ao mobilizar-se no cumprimento de sua Missão precípua
(Cap.1º Art. 2º Estatuto ABQ):
“contribuir para o desenvolvimento do
conhecimento em engenharia da qualidade, em gestão da qualidade e da inovação e
em excelência da gestão, para benefício das organizações e da sociedade
brasileira”.
A disseminação da qualidade e dos modelos de
excelência de gestão deve contribuir de forma significativa, principalmente às
instituições mais carentes desta informação, como os microempresários e
empresas de pequeno porte. Outra contribuição relevante da Academia para
amenizar este momento singular por que passamos é o Guia Prático de Gestão, de
autoria do nosso querido colega Jairo Martins da Silva, cuja publicação está
disponível no site da ABQ. As lições sobre Governança, Qualidade e Modelos de
Gestão para empresas são apresentadas de forma clara, objetiva e didática. Vale
a pena conferir.
Sempre dizemos que o Brasil é o país do
futuro: Isso pode acontecer algum dia? Quando? Como será possível?
Esta é uma pergunta, no mínimo, desafiadora.
Nosso país é abençoado não apenas por sua vastidão e riqueza territorial, mas
também por sua diversidade étnica e cultural. Amabilidade, hospitalidade e
simpatia são características marcantes do nosso povo. Ainda assim, nossas
gerações até aqui não conseguiram erigir a nação próspera que tanto almejamos.
A verdade é que nunca valorizamos devidamente a nossa cultura, nem nos
preocupamos com a qualidade de nossa educação. Some-se a isso o desleixo para
com a nossa história e a escassa visão patriótica. Precisamos nos engajar nessa
luta pelo Brasil em direção a um futuro mais promissor. Atualmente,
experimentamos as mazelas de uma sociedade que passa por uma corrosão institucional
fruto de décadas de infiltração ideológica e ação revolucionária.
Cabe ressaltar que, paradoxalmente, uma das
obras mais interessantes sobre o “Brasil do Futuro” foi publicada em 1941 pelo
escritor, romancista e poeta austríaco Stefan Zweig (1881/1942), refugiado na
cidade de Petrópolis/RJ durante o período da 2ª Grande Guerra. Foi a partir
desta obra de Zweig que passamos a ostentar este icônico apelido de “país do
futuro”. Não obstante, eu como um otimista de nascença tenho fé que superaremos
as dificuldades e nos tornaremos um país melhor; quem sabe impulsionados por
nossas características de origem, ou mesmo por nossa qualidade criativa para
improvisar soluções diante dos mais variados e inusitados problemas, segundo o
que carinhosamente chamamos de “jeitinho brasileiro”.
Que conselhos você daria a um jovem que está
trabalhando e passa a viver esta situação de crise?
O mundo passa atualmente por uma enorme
transição. Os jovens que se preparam para ingressar no mundo dos negócios e os
neófitos no mercado de trabalho, precisam ser ousados no enfrentamento das
rápidas e inesperadas mudanças que atingem a sociedade. Tal qual dizia o
filósofo Heráclito (535 a.C.): “...a única certeza permanente que temos... é a
mudança! ”
Gerenciar mudanças tem sido um dos maiores
desafios deste século. Como vamos nos preparar para o porvir? Como será o novo
cenário que nos aguarda? Enfim, como lidar com tamanha incerteza e com tantas
perguntas sem resposta?
Meu conselho é que o jovem descubra suas
aptidões e talentos e trate de aproveitá-los, transformando-os num próspero
negócio. Essa pode ser uma ótima oportunidade para uma atuação efetiva e
sustentável no mercado de trabalho como um empreendedor de sucesso. Gaste tempo
refletindo sobre isso.
Estude muito e continuamente. Busque
incessantemente o conhecimento, não apenas na sua área profissional, mas de uma
forma mais ampla e holística, buscando relacionar e conectar áreas do saber
aparentemente díspares. Eis o que realmente pode garantir um diferencial de posicionamento
no mercado. Lembrando de que o conhecimento é o ouro do nosso tempo.
|