Acadêmico
Reinaldo Dias Ferraz de Souza
é arquiteto (UnB, 1975) com especialização em Planejamento Físico do Ensino
Superior, pela FGV e Gestão da Qualidade, pela Fundação Christiano Ottoni, da UFMG
e Japanese Union of Scientists and Engineers – JUSE, do Japão. Servidor Público
Aposentado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, coordenou
diversos programas e projetos nas áreas de Tecnologia Industrial Básica, Gestão
da Qualidade, Informação Tecnológica e outras. Integrou a representação do
Brasil em diversos foros internacionais na área de Barreiras Técnicas ao Comércio.
Confira a entrevista concedia a distância
em julho.
Como você percebe os impactos e
consequências da COVID-19?
Impactos em
grande parte inesperados e que a cada dia revela novas e preocupantes faces,
como o surgimento de mutações e a possibilidade de se tornar endêmica. Os
impactos são de tal ordem que deverão transformar a economia e a sociedade em
bases ainda pouco conhecidas, em todo o mundo. Esse fenômeno vem sendo tratado
de forma simplista como um “novo normal”. Em situações como essa proliferam
diagnósticos e cenários, mas são poucos os dotados de alguma credibilidade; as
redes sociais mais atrapalham que ajudam, com suas fake news; por outro lado, proliferam exemplos de atuação lúcida e
corajosa diante da crise, por parte de empresários, profissionais da saúde,
agentes públicos e de cidadãos comuns, o que é um alento.
O que fazer
no curto prazo, afora as medidas já tomadas, para atenuar o impacto econômico,
empresarial e social?
Situações
como essa exigem a firme liderança do Governo, em todos os níveis, e uma ação
coordenada com todos os agentes econômicos e com a sociedade como um todo.
Medidas compensatórias devem ser planejadas, com metas claras, acompanhadas
sistematicamente, e os desvios verificados corrigidos tempestivamente. Essas
medidas incluem, dentre outras, a destinação de recursos para a população de
baixa renda e para a economia informal, pelo tempo que for necessário, e
crédito subsidiado para as empresas; em particular deve haver o microcrédito para as micro
empresas e empreendedores individuais que lhes permita soerguer seus negócios
em condições favoráveis, ao lado de firmes medidas de proteção sanitária da
população.
A economia
deverá ser reorientada e investimentos públicos, sobretudo em infraestrutura,
deverão ser planejados em escala tal que permita absorver em frentes de
trabalho, o contingente desempregado pela crise.
A retomada
da economia e da vida em sociedade deve ser igualmente planejada, de modo a que
não se tenha um recrudescimento do processo de contaminação.
Como a
qualidade e a gestão podem ajudar para saída da crise?
Essa é uma
situação de grave crise e, portanto, exige sua coordenação por parte de um
gabinete de crise do mais alto nível, um planejamento claro e exequível para
todas as frentes, o estabelecimento de metas e seus indicadores e o
acompanhamento sistemático com as respectivas ações corretivas; nada diferente
do que preconizam as diversas metodologias, sistemas e técnicas de gestão.
Sempre
dizemos que o Brasil é o país do futuro: Isso pode acontecer algum dia? Quando?
Como será possível?
Não gosto da
expressão cunhada por Stefan Zweig, em meados do século XX; expressões como
essa e como o “gigante adormecido”, do Hino Nacional, empurram o imaginário
coletivo para um porvir pleno de esperanças, um sonho, que obscurece o fato de
que o futuro se constrói no presente, com um trabalho incessante por meio dos agentes
econômicos e da sociedade como um todo, fundado em sólidos princípios éticos e
morais.
Como deve
ser a postura das autoridades diante da crise?
Recordo-me
de um ensinamento que já foi muito explorado nos cursos de Administração: Diante
do fatídico terremoto de 1755, em Lisboa, o Rei de Portugal, Dom José, convocou
o general Pedro D’Almeida, Marquês de Alorna, para se aconselhar sobre o que
fazer; o Marquês assim lhe respondeu: Fechar os portos, cuidar dos vivos,
sepultar os mortos; essas palavras encerram um fabuloso método gerencial:
Fechar os portos (para permitir o foco no que importa); cuidar dos vivos
(recuperar o que se pode contar, os “ativos”); sepultar os mortos (desfazer-se
daquilo com o que não se poderá mais contar).
Essa singela
lição deveria orientar as autoridades como postura diante de situações de grave
impacto econômico e social.
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