Reinaldo Ferraz
Bernardo Estellita Lins
Carlos Lombardi
Dorothea Werneck*
- Como acabou, Capitão?
- Eu adquiri todos aqueles hábitos
novos. Me deixaram baixar do barco muito tempo depois do previsto.
- Privaram vocês da primavera, então?
- Sim, naquele ano me privaram da
primavera e de muitas coisas mais, mas eu, mesmo assim, floresci, levei a
primavera dentro de mim, e ninguém nunca mais pode tirá-la de mim.
(De O Amor nos Tempos do Cólera, Gabriel
Garcia Márquez)
1
Introdução
A pandemia da COVID-19
iniciou-se ao final de 2019 com um surto em Wuhan, China, que rapidamente se
espalhou pelo mundo. Trata-se de um processo epidêmico com algumas
características marcantes para uma perspectiva de desenvolvimento pessoal:
a.
A COVID-19 (há outras denominações técnicas
apropriadas, mas aqui usaremos a nomenclatura adotada pela mídia), doença
provocada pelo coronavírus SARS COV-2, é assintomática em cerca de 30% das
pessoas, leve em 55% e muito grave em 15%. Estatisticamente, levaria cerca de
5% dos enfermos a uma internação em estado crítico, com metade destes vindo a
óbito.
b.
A morte é provocada por insuficiência
respiratória aguda grave (SARS), sendo particularmente dolorosa para o
paciente. Ainda não há explicação adequada para a fisiologia que resulta nessa
síndrome. A hipótese mais provável até o momento é de que o vírus desagrega as
moléculas de hemoglobina do sangue, talvez como efeito colateral, o que resulta
em acúmulo de ferro metálico, em especial no tecido pulmonar em que o vírus se
instala, resultando na sua inutilização (LIU e LI, 2020).
c.
Não há perspectivas de curto prazo para uma vacina
ou tratamento confiável e seguro. A intensidade da pesquisa relacionada ao
vírus leva a crer que se chegue a resultados testados e aplicáveis por volta de
meados de 2021. Até lá, a única iniciativa de saúde pública apropriada é o
isolamento em massa das pessoas, apenas para reduzir a velocidade de
disseminação da doença. Desse modo, torna-se viável administrar o fluxo de
pacientes no sistema hospitalar, mantendo a taxa de internação constante ou
declinante e inferior à taxa de alta ou decesso.
d.
Não há garantia de que a exposição
assintomática ou a cura resultem em imunidade do paciente, ou de que essa
imunidade seja permanente.
Esse quadro resulta em três
aspectos a considerar de um ponto de vista de planejamento pessoal. O primeiro
é o de que a disseminação da doença é rápida e inevitável, devido à proporção
de casos assintomáticos. Desse modo, a probabilidade de se ter a doença é
relativamente elevada. A pergunta, mais do que “será que terei a doença”, é
“quando terei a doença”. Para um planejamento pessoal, isto eleva a importância
de adotar um estilo de vida saudável e praticar medidas preventivas. O segundo
aspecto é o de que a chance de se ter um quadro grave e, quiçá, a morte, não é
desprezível. Isto levará ao questionamento de um sentido de longo prazo no
planejamento pessoal. O terceiro aspecto, enfim, é o de que o isolamento social
será provavelmente uma tendência persistente por alguns anos, ainda que em
versões mais amenas, como restrições a viagens. Isto resulta tanto em mudanças
de estilo de vida da população quanto em efeitos econômicos importantes. Esses
aspectos precisam ser considerados na revisão de projetos pessoais.
Quando o planejamento não é
formal, mas resulta de uma reflexão pessoal livre, um pouco como aqueles
exercícios que fazemos no Ano Novo, certas declarações ficam implícitas, mas
existem. Quem sou eu, de verdade? Como eu gostaria de ser? Qual a minha missão
na vida? Quais os meus grandes objetivos? Esses são passos formais de um plano
estratégico que resumimos em três ou quatro perguntas feitas diante de uma taça
de vinho.
Para sermos mais organizados,
essas perguntas podem ser estruturadas no sentido de definir uma visão de nós
mesmos (quem eu sou, quais os meus valores pessoais mais importantes, qual o
objetivo que pretendo alcançar na vida) e desdobrar essa visão na declaração de
uma ou mais missões, expressando metas de longo prazo (o que desejo oferecer
aos outros e a mim mesmo e para que pretendo fazê-lo). É o primeiro passo de um
planejamento pessoal de longo prazo.
Essas perguntas são
profundamente modificadas por uma crise que pode se tornar longa. Nossa missão
em geral encontra-se enraizada nas relações sociais que vivemos. Para alguns, a
igreja é o ambiente por excelência de busca de um sentido para a vida. Para
outros, é o fazer profissional. Para mais uns outros, ainda, é formar, proteger
e fazer crescer uma família. A perspectiva de não dispor ao certo do horizonte
de tempo para realizar esses sonhos, combinada com a obrigação de exercitar o
isolamento social, muda o sentido de algumas dessas perspectivas.
Não há como ajudar a fazer
frente a essa mudança com algumas sugestões de como proceder. Esses
questionamentos são de grande relevância pessoal e as emoções decorrentes do
clima de crise os afetam de modo mais significativo do que uma reflexão
racional. Em um primeiro momento, lembra Aisha S. Ahmad em depoimento
(PINCELLI, 2020), é preciso ser prático e organizar um esquema de segurança
pessoal e da família. Em seguida, adaptar-se gradualmente à nova situação,
afastando-se da angústia de permanecer produtivo emulando a rotina anterior ao
isolamento: os tempos são outros e o ritmo de vida terá que ser diferente.
Também é importante, assevera a estudiosa, manter vínculos com familiares e
amigos usando meios alternativos, como chats, lives e mensagens. Desse modo,
saberemos se estão bem e precisam de ajuda. Quem mora sozinho, então, tem o
desafio adicional de administrar a solidão com essas iniciativas.
Após essas providências
iniciais, que dão suporte psicológico diante da crise e pelas quais, de um modo
ou outro, todos já passamos, começa o aprendizado a respeito do novo ambiente
em que teremos que viver por um ou dois anos ao menos. Perceber o que é
verdadeiramente importante é o primeiro passo: rever aos poucos os valores e
sentimentos, deixando de lado aquelas metas de desempenho, consumo e satisfação
que se tornam irrelevantes. Aos poucos a organização do tempo volta a fazer
sentido, uma grade de trabalho adaptada à nova rotina pode ser desenhada e consolida-se
a percepção de que o mundo mudou, a vida mudou e o comportamento das pessoas
mudou, pelo menos por algum tempo.
Diante das mudanças
resultantes dessa crise, a pergunta é: como rever o planejamento pessoal de
longo prazo? Este texto procura examinar alternativas para os passos seguintes
desse processo, percorrendo o roteiro usual de planejamento usado, explicita ou
implicitamente, pela maior parte das pessoas.
Para isso, a organização a
seguir é adotada. Na próxima seção examina-se o problema da conjuntura e como a
crise da COVID-19 muda algumas de suas dimensões. Na seção 3, fala-se dos
pontos fortes e das possibilidades de melhoria. Na seção 4, do posicionamento
da pessoa no mercado. Na seção 5, enfim, das perspectivas de crescimento
financeiro e pessoal.
2
Conjuntura
A conjuntura que afeta o
planejamento pessoal em geral é examinada de modo simplificado, pois uma pessoa
não tem as relações de mercado complexas que uma empresa estabelece, com
contratos definidos, fornecedores, clientes, problemas de caixa, investimentos
e assim por diante.
O mapa PESTLE (de política,
econômica, social, tecnológica, legal e eco-ambiental) é o modo mais usual de
organizar graficamente os elementos desse tipo de análise de conjuntura. Há
muitas variantes do mesmo, em geral muito sofisticadas para um planejamento
pessoal. O importante é entender o recado de que algum tipo de avaliação da
conjuntura é essencial para que os elementos cruciais desse ambiente sejam
percebidos (RASTOGI e TRIVEDI, 2016; YÜKSEL, 2012).
Na crise da COVID-19, três
aspectos importantes afetam o ambiente de trabalho e as perspectivas econômicas
de curto prazo (OSHA, 2020: 6-7): o absenteísmo em decorrência da enfermidade,
a mudança nos padrões das atividades comerciais e as interrupções de
fornecimento e entrega de bens e serviços.
No primeiro caso, de
absenteísmo, somam-se as situações de pessoas expostas ao vírus, ou que
precisem cuidar de enfermos, com as situações de proibição legal de
comparecimento ao trabalho em decorrência de políticas de isolamento social.
Trata-se da principal razão de mudança de processos e de desagregação de
relacionamentos observadas desde o início da crise. Não se trata, apenas, da
perda de postos. Sabe-se, é claro, que a súbita interrupção do acesso aos
locais de trabalho impediu que uma parcela importante da atividade econômica
fosse realizada e tornou irrelevante uma miríade de serviços, precipitando uma
massa de demissões sumárias. Mas aqueles que não perderam empregos e contratos
precisaram encontrar novas formas de trabalhar, em locais remotos e horários
distintos. Muitas vezes com perda pecuniária expressiva.
O segundo aspecto, de
mudança de padrões nas atividades comerciais, decorre tanto da mudança do
perfil de consumo das pessoas, valorizando, por exemplo, artigos de higiene em
detrimento de roupas e acessórios, quanto do impedimento de se realizar
transações pessoais em pontos de venda, deslocando o consumo para o comércio
eletrônico e as entregas a domicílio.
O terceiro, enfim, de
dificuldades de recebimento de certos bens e serviços, resulta tanto das
restrições de transporte entre certas regiões como da suspensão, pura e
simples, da fabricação de linhas inteiras de produtos, em decorrência da
expectativa de queda de demanda e da necessidade de manter os empregados em
casa.
Esses três aspectos reforçam
o caráter exógeno do choque da crise. Não houve imperfeições ou falhas
decorrentes do ambiente de negócios ou do modo de produção por trás do seu
surgimento. Ao contrário, a crise atacou a economia global em um momento em que
um ciclo de expansão se encerrava de modo suave, ainda com condições de pleno
emprego em vários países, como os EUA e a China. As imagens usuais eram de
relativa opulência e de consumo suntuário nesses e em outros lugares. Problemas
que vinham se agravando, como o aumento da desigualdade na última década, ainda
não haviam surtido efeito na economia global e os primeiros sinais de desgaste,
como a queda de preços de bens primários no início de 2020, ainda eram recentes.
A crise é puramente sanitária e de saúde.
No entanto, essa crise não
se dissolverá rapidamente. Como os aspectos apontados na introdução sugerem, o
conhecimento a respeito da doença é escasso, sua disseminação é rápida, a taxa
de mortalidade decorrente da virose não é desprezível e os atuais hábitos de
consumo, calcados na aquisição de experiências, são incompatíveis com o
ambiente de isolamento social que os países estão impondo. De um ponto de vista
pessoal, é de se esperar uma convivência com episódios de isolamento
esporádicos por cerca de dois anos (KISSLER et al, 2020: 7).
Os efeitos dessa etapa de
contenção sobre o cotidiano das pessoas estão à vista. Como constata Luiz
Carlos Azedo em coluna publicada no Correio Braziliense:
Números do Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados, divulgados ontem pelo Ministério da Economia, revelam que
331.901 vagas de trabalho com carteira assinada foram fechadas em maio. No
trimestre, foi 1,478 milhão de empregos formais, desde março. Reflexo da pandemia
no Brasil, que registrou a primeira morte em 17 daquele mês. O agravante é o
fato de que o coronavírus também destruiu atividades produtivas no mercado
informal, que funcionavam como válvula de escape para 36 milhões de
trabalhadores sem carteira assinada.
Apenas uma parcela desses atingidos será capaz de se
reinventar, porque economizou recursos para travessia, dispõe de conhecimentos
ou condições de adquiri-los ou tem uma vocação inata para empreender e se
adaptar às circunstâncias. Outra, a grande maioria, permanecerá dependendo da
ajuda do governo para sobreviver, até que a economia volte a crescer numa
escala capaz de absorvê-los, novamente, no mercado de trabalho, o que pode não
acontecer.
A dimensão afetada é
sobretudo a econômica, devido a quatro implicações das características já
enumeradas na introdução:
(i)
a atividade comercial concentrada em áreas
empresariais da cidade foi substituída por atividade domiciliar em áreas
residenciais;
(ii)
a suspensão das atividades da população
resulta no fechamento de comércio e em suspensão do consumo, com demissões e
falências;
(iii)
a redução da renda familiar e dos gastos com
transporte leva a uma maior concentração do consumo em bens de primeira
necessidade; e
(iv)
a permanência em casa modifica os hábitos
familiares e reverte a um modo de vida similar ao dos anos 1960-70.
Desse modo, o setor em que cada
pessoa atua é determinante para a análise de longo prazo, tendo em vista que
cada atividade é afetada de modo diferente. Pode-se afirmar, em vista dos
resultados constatados nesses poucos meses de pandemia, que todas as atividades
econômicas foram negativamente atingidas. No entanto, o potencial de
recuperação é distinto para cada uma.
Uma divisão das atividades
em grupos com grau decrescente de potencial de recuperação pode ser tentada da
seguinte forma:
GRUPO 1 – Setores com
elevado potencial de recuperação, pois se beneficiam da permanência das pessoas
em casa e da necessidade de prover serviços de subsistência, saúde e segurança:
medicamentos, materiais hospitalares e serviços de saúde; varejo de alimentos e
bebidas; preparação de refeições com entrega domiciliar; produtos de limpeza e
toucador; segurança patrimonial; serviços de entrega a domicílio e comércio
eletrônico; serviços de informação, comunicação social e software.
GRUPO 2 – Setores com
receita preservada ou moderadamente afetada, mas com perda de capacidade de
investimento no curto prazo, podendo estar sujeitos a obrigações de
continuidade: agronegócio; tratamento de água e esgotos; petroquímica e química
fina; setor elétrico; telefonia e comunicação de dados; transporte de carga;
correios.
GRUPO 3 – Setores com perda
moderada a alta, sujeitos a uma adequação de oferta e com uma retomada gradual
após a crise: educação; serviços tecnológicos; óleo e gás; serviços
financeiros; setor mineral; transportes urbanos.
GRUPO 4 – Setores com
produção interrompida, perdas importantes, mas cujo modelo de negócios deverá
se preservar após a crise: indústria de transformação em geral, construção
civil, incorporação e corretagem de imóveis; serviços de consultoria
empresarial e executiva.
GRUPO 5 – Setores com
produção interrompida, perdas importantes e retardo na retomada, dependendo de estímulos
específicos para voltar aos níveis precedentes de atividade: moda e vestuário; indústria
eletro-eletrônica; setor automotivo; serviços pessoais e desportivos.
GRUPO 6 – Setores que
enfrentarão falência e reestruturação em níveis importantes, com limitações
mesmo após a crise: cultura, turismo e lazer; hotelaria e hospedagem;
transporte de pessoas de longa distância, setor aéreo e de cruzeiros.
Um elemento adicional que
irá afetar a vida de todos no longo prazo é o brutal endividamento público
decorrente da crise. As medidas emergenciais adotadas, ainda que
indispensáveis, custarão caro nos anos de pós-pandemia. No Brasil, que já
enfrentava um ciclo de endividamento crescente, a administração dessa dívida
exigirá processos particularmente dolorosos de cortes de gastos públicos,
eliminação de créditos subsidiados e negociação difícil com o setor financeiro
doméstico. E se refletirão inevitavelmente nas oportunidades profissionais,
seja em sentido positivo, pelo incentivo a profissionais capazes de lidar com
ambientes complexos, seja em sentido negativo, pelo fechamento de empregos
decorrente da imposição de tributos e da fragilidade do setor público.
A análise política deverá
levar em conta, ainda, as decisões conflitantes dos vários entes federativos,
com confrontos entre os Poderes e entre o governo federal, estados e
municípios. Os custos desses desencontros de decisões serão expressivos.
No Brasil, em termos
agregados, a expectativa é de uma queda de 6 a 8% do PIB de 2020 em relação a
2019. A retomada deve ser lenta, se a crise entrar em declínio a partir de
agosto de 2020, com um crescimento do PIB de 2021 de 3% em relação a 2020
(OLIVEIRA, 2020; PASQUALI, 2020).
Esses aspectos irão afetar a
análise de conjuntura pois introduzem escores predominantemente negativos em
cada dimensão. Desse modo, a avaliação de ocorrência de situações desfavoráveis
e de riscos envolvidos nas oportunidades e desafios irá mudar. Isso leva ao
próximo passo da revisão de estratégias pessoais.
3
Análise SWOT
O diagrama SWOT (do inglês
Strengths, Weaknesses, Opportunities, Threats), tabula as circunstâncias
pessoais ou internas, ou seja, pontos fortes e fracos, e as circunstâncias
externas, ou seja, oportunidades e barreiras ou desafios, que são usualmente
considerados ao se preparar o planejamento.
Pontos fortes e carências
pessoais não são modificados pela superveniência da crise da COVID-19. Trata-se
tipicamente de um choque exógeno, que estabelece novas oportunidades (ainda que
escassas) e novos desafios (abundantes e prementes). Muda, portanto, a
especificação dessas oportunidades e desafios e de suas relações com os pontos
fortes de que dispomos e as carências com que precisamos conviver.
No entanto, há aspectos
pessoais que tendemos a ignorar em circunstâncias normais e que devem ser
apontados na situação de crise. Aspectos de saúde, de preparo físico e de
estabilidade emocional, em especial, ganham relevância em um momento em que uma
ameaça sanitária se configura. Também devem ser enumerados os aspectos
relativos à situação de moradia e de acesso a infraestrutura de comunicação,
que ganham importância devido às políticas de isolamento social impostas.
Portanto, correlacionar as
novas conjunturas exteriores com pontos fortes e limitações pessoais é um
exercício que requer humildade. Pontos fortes que representavam, até então, um
acervo pessoal relevante, podem simplesmente se tornar inexpressivos. Por
exemplo, exposição social e redes de contatos mantidos por canais
convencionais, como reuniões, telefonemas ou eventos sociais, irão evaporar.
Experiência em viagens passa a ser de pouco proveito. E assim por diante, uma variedade de exemplos
pode ser lembrada. Por outro lado, aspectos como habilidade e conhecimento em
ferramentas de informática e a prática em administrar relacionamentos por meio
de sistemas digitais ganham um mérito acrescido.
No curto prazo, a capacidade
de vislumbrar criativamente áreas alternativas de atuação, de identificar formas
diferentes de condução de negócios e de enfrentar carências a serem atendidas tem
elevado valor. Além disso, a flexibilidade para adaptar-se a novos
empreendimentos ou novas formas de trabalho e relacionamento pode abrir boas
oportunidades em um ambiente de recessão acentuada. Esses soft skills ganham relevância (DYNIEWICZ e PEREIRA, 2020).
O mesmo pode ser dito dos
pontos fracos. Sua importância relativa muda. Uma dificuldade de expressar-se
em público hoje será menos relevante, se compensada pela qualidade da expressão
escrita ou pela fotogenia diante da câmera. Em algumas atividades, a época de
termos um argumento para tudo na ponta da língua e de viver acelerados vem
dando lugar a um novo tempo de reflexão. Por outro lado, a inabilidade com
ferramentas de informática, que antes poderia ser compensada com empatia e talento
em conduzir contatos pessoais, ou com o suporte de uma secretária competente e
leal, é uma fraqueza que terá seu preço.
Quanto às circunstâncias
externas, o primeiro desafio externo imposto pela crise é a perda de renda do
trabalho e de oportunidades de colocação. Em um único mês de pandemia, nos EUA,
os pedidos de seguro-desemprego chegaram a 16,8 milhões (MAANI e GALEA, 2020).
Uma parte significativa destes não logrou, de imediato, ter acesso à
remuneração do seguro por questões burocráticas ou de dificuldade de acesso ao
serviço, devido à sobrecarga de sítios de internet e à dispensa de funcionários
públicos do setor ou seu deslocamento ao teletrabalho. Categorias como mulheres
e latinos sofreram perdas de emprego e dificuldades de recolocação proporcionalmente
maiores, tanto por diferenças de perfil profissional quanto por preconceito. Mas
o quadro final é, de qualquer modo, desalentador: não adianta oferecer
evidências de qualificação, o posto de trabalho simplesmente deixou de existir.
O segundo desafio externo é
a necessidade de se administrar o ambiente de contaminação, na tentativa de
postergar o contágio. Esse retardo, se for bem-sucedido, irá trazer um ganho
social, dado pela melhor administração da infraestrutura de saúde da localidade
em que cada um vive e pela retomada gradual de atividades gregárias em vista de
baixas taxas de transmissão. Mas resultará também em um ganho pessoal, se for
suficientemente longo, pois situará o contágio de cada um em um momento em que
a doença terá sido mais bem estudada e, com alguma sorte, o tratamento será
menos primitivo. Medidas prosaicas como higiene com as mãos e o rosto, limpeza
do ambiente domiciliar e de trabalho, minimização de contatos com outras
pessoas, uso de máscaras e luvas e proteção contra o frio podem ser suficientes
para manter-se preservado. O avanço da contaminação impõe restrições adicionais
de contato físico e obrigação de permanecer isolado.
Um terceiro desafio é a
limitação de deslocamentos e viagens. A política de distanciamento ou
isolamento social determina, para a maior parte das pessoas, uma obrigação de
permanecer em casa. Desse modo, trabalhos que dependam de contato pessoal ficam
comprometidos. Deslocamentos, mesmo em veículo próprio, poderão ser coibidos e
o acesso a várias áreas poderá ficar impedido. Viagens interurbanas e internacionais
praticamente irão cessar por um período prolongado ou irão se tornar
proibitivas, em decorrência da redução na oferta de voos e veículos.
Há que se apontar, enfim,
que os profissionais já enfrentavam, antes da crise, um ambiente de trabalho
que passava por uma importante transformação. A tradicional relação de emprego
formal vinha dando lugar a oportunidades de trabalho autônomo e, para a maior
parte das pessoas, precário. Embora o discurso do empreendedorismo estimule a
disseminação de posturas de iniciativa e de domínio de talentos
transdisciplinares, os já citados soft
skills (iniciativa, criatividade, domínio de ferramentas virtuais, empatia,
flexibilidade), a maior parte das pessoas acaba por recolocar-se como
trabalhador típico, uberizado, não como empresário ou profissional liberal
(MARQUES, 2020).
Desse modo, a crise da COVID-19
resultou na aceleração do processo de informatização e de automação da
atividade econômica, com o deslocamento de parte das operações para o trabalho
domiciliar (home office) e da substituição de postos de trabalho por robôs ou
por aplicativos de inteligência artificial, em decorrência do distanciamento
social e da suspensão de contato físico entre pessoas e de pessoas com
equipamentos. Mas esse processo, na realidade, já estava em curso.
Um efeito importante dessas
pressões foi a transição de parte dos postos de trabalho para fora do ambiente
das empresas, elevando o número de trabalhadores autônomos e de prestadores de
serviços. As jornalistas Emily Badger e Alicia Parlapiano, do New York Times,
registraram dados levantados pela organização Opportunity Insights, entidade
criada na Universidade Harvard para estudar a desigualdade econômica. Apontam
as autoras:
O setor de serviços também vem-se expandindo,
substituindo postos de trabalho na indústria, que eram mais estáveis e mais bem
remunerados. Especialmente nas cidades maiores e de custo de vida mais alto, o
vasto setor de serviços é agora o local onde ricos e pobres se cruzam.
“Constatamos, com o aumento da desigualdade das
últimas décadas, que mais indivíduos, com rendimentos mais modestos, sobrevivem
porque estão prestando serviços onde há consumo” aponta Lawrence Katz, da
Universidade Harvard, que revisou as conclusões de seus colegas. Esse consumo,
agregou, está nas mãos dos lares mais ricos.
Se tivéssemos enfrentado o choque atual há cinquenta
anos, diz Katz, a magnitude dos efeitos dos ricos sobre os pobres seria muito
menor. Simplesmente não havia ligações entre eles. E, há cinquenta anos, os
ricos não poderiam contar com o trabalho remoto para trabalhar de casa e manter
seu rendimento intacto.
No contexto das empresas, a
prestação de serviços consiste, por um lado, na terceirização de atividades
operacionais específicas, em particular as de menor conteúdo tecnológico e, por
outro lado, na prestação de serviços técnicos especializados que elevam o
desempenho do empreendimento.
Desse modo, enquanto a
retração nos serviços destinados ao consumidor final está associada a uma perda
de renda e de segurança do trabalhador, a prestação de serviços técnicos às
empresas segue tendências mistas nesse aspecto. No esforço de oferecer uma
solução personalizada, naquilo que pode ser concebido como a oferta de uma
“experiência” ou uma “solução” ao consumidor, as empresas passaram a conceber a
oferta de serviços relacionados a seus produtos, agregando valor a estes. O mix produto-serviço dá ao cliente a
percepção de estar obtendo valor em uso, com resultados ajustados à sua
expectativa de utilidade do produto e de preços alinhados aos custos
percebidos. Esse conceito de “servitização” é implementado com a colaboração de
especialistas que irão apoiar a agregação de valor e garantir desempenho
apropriado. Trata-se de um espaço profissional que se preserva.
Para esse exercício de
compreender como se pode aproveitar o potencial individual diante de
oportunidades e desafios da crise, a análise SWOT irá trazer novas facetas. Por
exemplo, um aspecto importante é saber explorar os mecanismos de notoriedade e
interação virtuais. Redes sociais como Facebook e LinkedIn, portais de
mensagens como Twitter e ambientes de interação como Whatsapp, Zoom e Youtube
são intensamente utilizados pelas pessoas sujeitas a isolamento social, tanto
para interação pessoal quanto para atividades profissionais e de estudo. Para
quem trabalha com fornecimento de bens e serviços, a prática de comércio eletrônico
e de entregas, com uma rede de parceiros em operação, é um diferencial
importante.
No mapeamento de pontos
fortes e fracos, deve-se evitar as armadilhas de erros cognitivos, tanto no
sentido de magnificar o significado de cada dimensão diante da nova conjuntura,
levando a uma atitude distorcida, seja eufórica ou catastrofista, quando de
menosprezar sua relevância, acreditando na retomada da vida normal e na
dissolução dos efeitos da crise em curto espaço de tempo. Um bom encaminhamento
é tratar primeiro cada dimensão de análise de modo independente das demais, para
só então empreender a atividade de correlacioná-las.
4
Competitividade
Um passo seguinte é rever de
que modo estamos situados no mercado e na vida pessoal em relação a outras
pessoas próximas e a benchmarks.
Para muitas pessoas, a
dimensão estritamente individual é de grande importância. Por exemplo, uma
personalidade reflexiva, centrada no desenvolvimento de questões intelectuais,
ou dada a uma vida mais solitária, tende a valorizar o crescimento individual,
muitas vezes de modo meritoriamente espiritual. Pessoas assim tendem a buscar
os benefícios de exercícios de meditação, da atividade física individual ou do
estudo. Esse tipo de esforço é prejudicado pela COVID-19 no aspecto da limitação
de oportunidades devido ao fechamento de academias e centros. A alternativa é a
busca de soluções de ensino a distância e de programas de exercícios
ministrados por internet.
No entanto, o mais usual é
que tenhamos, em termos pessoais, uma preocupação de nos integrarmos aos vários
ambientes de relacionamento, que podem ser, em termos muito simplificados,
agregados em família, comunidade e mercado. Nesses ambientes, temos que
harmonizar as relações de colaboração e carinho com as relações de competição.
Uma tendência frequentemente
observada é a de hipertrofiar as relações de competição. Vemos os demais
profissionais e colegas como atletas que participam de uma mesma corrida, em
busca de um prêmio aqui, outro ali. Esses prêmios não são pontuais e esporádicos,
como uma medalha que se ganha em uma corrida de trinta segundos para a qual
levamos quatro anos treinando. A premiação é regular e contínua,
materializando-se no salário, nos diplomas, no crédito, no acesso a privilégios
e nos símbolos de poder e prestígio.
E como ficamos diante desses
competidores? Na vida pessoal, as dimensões são financeiras, de notoriedade e
de respeitabilidade. Quanto ganhamos, em relação ao mercado? Quais as bolsas,
financiamentos de atividades e linhas de crédito a que temos acesso? Quantas
pessoas nos conhecem? Com que frequência somos lembrados, convidados para
eventos, informados de oportunidades profissionais? Em que situações somos
procurados para dar um parecer e como nossas ideias são recebidas?
Todas essas questões serão
grandemente afetadas pela crise da COVID-19. A remuneração de mercado deverá
cair substancialmente em decorrência do fechamento de postos de trabalho. O
isolamento elimina as oportunidades de convívio social e reconhecimento. Além
disso, as pessoas que dispõem de recursos terão menos oportunidades para
gastos, de modo que a economia, como um todo, deverá sofrer uma retração
importante. Quem tem algum dinheiro poderá poupá-lo, porém a taxas de retorno pouco
expressivas, em vista da retração dos investimentos.
As mudanças mais
importantes, porém, serão sentidas no médio prazo. E, nesse horizonte, há um
paradoxo a considerar. A crise global de 2009 nos ensina que, aos poucos, após
a crise, a sociedade retorna à situação anterior. É possível que voltemos a
competir e a consumir do mesmo modo. Afinal, a sociedade de consumo de massa,
hedonista e sensual, é nossa zona de conforto. As conclamações a uma nova forma
de viver e a uma transição a outros valores poderão se mostrar estéreis. Essas
mudanças ocorrem aos poucos, são geracionais. Não há como mudarmos por dentro
diante de um susto. Pelo menos, não verdadeiramente (BONO, 2020).
Por outro lado, enquanto
persistir o ambiente de pandemia ou de sua ameaça, haverá um rol de mudanças,
ainda que eventualmente temporárias, de valores e de comportamento, tanto pela
reincidência periódica de medidas de contenção quanto pela percepção de risco
inerente à infecção. Essas mudanças ocorrerão no curto e no médio prazo, ainda
que no longo prazo tendam a refluir. O resultado dessa equação ainda é
desconhecido e as apostas de cada um são afetadas por crenças pessoais. É
possível que o resultado final seja pouco diferente do anterior à pandemia, a
não ser que esse médio prazo se prolongue por uma ou duas gerações,
transformando nosso estilo de vida. Se isto resultar em uma atitude social mais
generosa, esta seria a novidade positiva decorrente da triste realidade do
momento, pois o mundo precisa mesmo de novas formas de coexistência da raça
humana, menos cruéis com a vida, com a sociedade e com o meio-ambiente.
Nesses casos, ou seja, no
médio prazo e em um longo prazo transformado, o posicionamento individual
diante da família, da comunidade e do mercado ficaria essencialmente modificado.
Medidas hoje importantes perderiam o sentido. A própria noção de riqueza e de
apropriação do bem-estar mudariam. O que é ser rico em um período de
isolamento? O que é ser notório? Quais são as dimensões patrimoniais
relevantes? Dessas transformações, o que iríamos levar para a abertura a um
“novo normal”?
Richard Horton, em
comentário publicado na revista The Lancet, ao fazer uma reflexão sobre a gripe
espanhola de 1918, muito mais virulenta do que a atual pandemia, tendo deixado
um rastro de mais de 50 milhões de mortes em todo o mundo, alerta:
O vasto número de mortes também precipitou novas ondas
de xenofobia – contra alemães, italianos, chineses. Governos foram acusados de
não fazer o suficiente. Da mesma forma, acusaram-se os
cientistas. Uma crise intelectual se seguiu. Havia um escandaloso gap entre as
extravagantes pretensões da medicina do início do século XX e a realidade
desanimadora. O sentido de falência científica e médica levou a um crescimento
da medicina alternativa, dos movimentos de retorno à natureza, do
espiritualismo e de novos profetas de uma era pós-influenza. Cresceram as
tensões entre interesses individuais e comunitários. Aqueles que nasceram
nesses anos de pandemia se tornariam uma “geração diminuída”. Taxas de
tabagismo cresceram.
Horton, por outro lado,
também aponta efeitos positivos na pós-pandemia de então:
Nasceria uma nova era de pesquisas sobre o controle
das viroses. A virologia e a epidemiologia se estabeleceram como ramos
respeitáveis da ciência. Foi dada maior atenção àqueles que pareciam ser mais
vulneráveis – vítimas da pobreza e da desigualdade e quem era subnutrido ou
vivia mal alojado. A saúde pública foi abraçada com energia política renovada.
A medicina socializada ganhou impulso. Saúde tornou-se uma questão política, de
fato uma medida da modernidade de uma civilização.
No entanto, reflete o autor,
aquela pandemia disparou uma tendência para o pessimismo, a ironia e o absurdo.
A arte voltou-se para o clássico e o funcional, iniciando o ciclo do
modernismo. E, após a pandemia, houve um surto de crescimento econômico,
resultante do aumento do capital per capita. Mas o fim da Primeira Guerra e os
termos duríssimos da paz de Versailles produziram o que seria o fermento da
miséria e da frustração na Europa central, o surgimento do fascismo e do
nazismo, a precipitação da Segunda Guerra duas décadas depois.
Os efeitos da COVID-19 sobre
o comportamento social serão, certamente, muito diferentes, porque a gravidade
da atual pandemia é menos severa e os recursos para enfrentá-la são mais conhecidos
e disseminados. Relatos de episódios socialmente danosos se repetem, a exemplo
do aumento da violência doméstica contra mulheres e crianças. Nossa expectativa,
porém, é de que os efeitos benéficos sobre a responsabilidade social e o
comportamento do consumidor deverão prevalecer, com maior conscientização
acerca da necessidade de reduzir desigualdades de renda e de oportunidades,
danos ao meio ambiente e desperdício de insumos.
Neste momento, com as
limitações e riscos do isolamento e das aberturas temporárias de convivência, a
noção do tempo foi afetada. A velocidade dos processos sociais mudou,
aumentando a pressão sobre as pessoas em alguns sentidos e reduzindo-a em
outros. Aparentemente, temos mais tempo para nós mesmos. Por outro lado, a
expectativa de vida tornou-se incerta e nossa ilusão de termos a duração da
vida sob controle graças à medicina e à segurança pública, pelo menos no que
diz respeito às elites de cada país, foi corroída pelo risco de morrer de
COVID-19. Para certos grupos sociais, o medo de circular em ambientes fechados
e expor-se a contaminação poderá perdurar no “novo normal”, após o encerramento
do período de contenção. Antes, a vida era longa e acelerada. Agora, corre-se o
risco de que seja curta e contemplativa. O que é a competição nesse novo
ambiente? Qual o sentido da nossa preparação para a vida? São perguntas que
cada um terá de responder em um ambiente de maior incerteza.
5
Perspectivas financeiras e de crescimento pessoal
Olhando um passo seguinte do
planejamento pessoal, o detalhamento de objetivos estratégicos, ou seja, dos
caminhos para reforçar pontos fortes, melhorar ou compensar pontos fracos, e
chegar a uma situação desejada, é o aspecto mais transformado pela COVID-19. De
fato, nossa expectativa de vida pode ter encurtado, nossas oportunidades são
mais escassas e a geração de riqueza da sociedade é menor.
Um problema, mais uma vez, é
que não conhecemos a doença adequadamente e não sabemos exatamente o que
esperar. Poderemos ser expostos, ter uma ocorrência benigna, ficar imunizados
e... vida que segue. Porém, não sabemos se esse bilhete de fato existe e se
seremos premiados, ainda que com uma chance de 85%.
Em um par de anos, essa
informação será conhecida e, possivelmente, a produção em massa de uma vacina poderá
mudar as nossas perspectivas. Mas, até lá, precisamos planejar na incerteza. O
que fazer diante da perspectiva de ficar trancados em casa e nos prepararmos
para sair e enfrentar um mundo mais arriscado, mais contido e com mudanças
estruturais de médio prazo?
O caminho da reflexão
estratégica leva-nos inevitavelmente a esse passo. Revisamos, anteriormente,
quem somos e quem desejamos ser, qual a nossa missão e nossos valores. Mapeamos
os aspectos de conjuntura que podem nos afetar. Examinamos nossos pontos fortes
e nossas fraquezas. Os comparamos com as oportunidades e barreiras existentes.
Verificamos nosso posicionamento em relação à família, à comunidade e ao
mercado. Portanto, já compreendemos quem somos, onde estamos e aonde queremos
chegar. Agora é o momento de montar uma estratégia de como fazê-lo.
Na vida pessoal, há
usualmente cinco dimensões que oferecem as ferramentas para empreendermos esse
caminho: reflexão, educação, trabalho, relacionamento e comércio. Todas
combinam a realização de esforços individuais com a existência de ambiente e
oportunidades. Todas envolvem algum tipo de parceria com familiares, amigos,
orientadores, fornecedores ou clientes. Todas envolvem sacrifícios, doações,
benefícios e ganhos. E todas são afetadas pela crise da COVID-19.
Mapeamentos como o SMART
(das palavras em inglês specific, measurable, attractive, realistic e
time-framed) ajudam a dar consistência às alternativas vislumbradas. Esse tipo
de exercício é particularmente relevante neste momento (HERRIDGE, 2019).
De fato, algumas dessas
oportunidades foram pulverizadas pela crise. Ressalvados raríssimos casos, não
existem novas vagas de emprego, não existem turmas em instituições de ensino
presencial, não existem voos ou viagens de navio, não existem locais de namoro
ou divertimento, não existem espetáculos públicos e por aí vai. Os substitutos,
como teletrabalho, ensino a distância, narrativas de aventuras, encontros
virtuais ou pocket-shows, são alternativas algo precárias, mas é o que se
encontra à disposição. Aos poucos a criatividade das pessoas irá aperfeiçoar ou
inovar essas opções.
O importante é construir um
retrato plausível do mundo em um ano, dois anos, três anos, e projetar nossa
saída na pós-pandemia. Aproveitar as oportunidades que se apresentam, o ritmo
da vida mais lento, as (poucas) vantagens do isolamento, para definir
indicadores e metas razoáveis para nossos objetivos estratégicos e escolher
projetos que viabilizem seu atingimento. O momento é, inevitavelmente, de
transição e, em certa medida, de sobrevivência. Nossa visão de longo prazo,
porém, não deve nos deixar míopes diante das agruras do momento e das
possibilidades à nossa disposição. Viver a crise é, também, observar com
atenção oportunidades que se coloquem e abraçá-las com entusiasmo.
Essas abordagens não
eliminam o trabalho braçal envolvido na montagem de um planejamento pessoal. As
ferramentas para cada etapa são simples e estão explicadas em vários textos.
Uma breve pesquisa na internet oferece planilhas, gráficos e orientações
práticas que são claros e simples de seguir. Mas, como todo caminho de
autoconhecimento e de preparação, planejar é cansativo e, às vezes, desanimador.
É preciso ver, nos lados negativos que percebemos, os desafios cuja superação
nos tornará melhores.
Uma observação importante,
enfim, é a de que a finalidade do planejamento pessoal não é ajudar a se ter
sucesso e ganhar dinheiro, embora esses objetivos sejam necessários e
legítimos. Ou, pelo, menos, não é apenas esta a finalidade. O grande prêmio do
planejamento é sugerir caminhos para fazer-nos pessoas melhores em sentido
amplo: com características físicas, psicológicas e morais mais notáveis, capazes
de ajudar os outros, de contribuir com a sociedade e de se aproximar de um
ideal de humanismo compatível com valores cívicos e de vivência espiritual.
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