quinta-feira, março 28, 2024

Entrevista com o Acadêmico Maurício Roscoe

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A Evolução Humana – Alguns gargalos e muitas oportunidades

Entrevista realizada no decorrer de dezembro de 2021 e início de janeiro 2022.

Por Eduardo Guaragna*

Tenho grande satisfação de entrevistar o nosso colega da ABQ, o acadêmico Maurício Roscoe, mineiro, nascido em Belo Horizonte, pai de oito filhos, avô de 11 netos e com uma bisneta.

Maurício é engenheiro formado pela UFMG, fundador da M. ROSCOE, ex-presidente e conselheiro da União Brasileira para a Qualidade (UBQ-MG). Foi presidente e conselheiro da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). Foi vice-presidente na Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) e presidente do seu respectivo Conselho Econômico. Também foi presidente no Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (SINDUSCON-MG). Pertenceu aos conselhos da Fundação Dom Cabral (FDC), da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), da Fundação Cristiano Otoni (FCO), do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) – Departamento Regional de Minas Gerais. Possui três livros publicados, destacando-se “A Evolução Humana – Alguns gargalos e muitas oportunidades”, que no ano de 2021 comemorou 10 anos de seu lançamento.

Tomei conhecimento deste livro recentemente pelo envio do Maurício a mim e eu o apreciei muitíssimo. Como escreve o Maurício, este livro trata da vida, sua evolução e nos provoca a sermos mais conscientes do nosso papel e colaborativos na busca da felicidade e bem-estar da humanidade, que pouco evoluiu nos aspectos sociais e humanos, quando comparado com os fantásticos avanços de tecnologia e ciências.

Nestes 10 anos o mundo mudou muito: Indústria 4.0 (a partir de 2012), os 17 ODS – Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU em 2015, as movimentações de novas formas de negócio (digital) e da economia (verde, renovável, emissões de CO2 neutralizadas) a partir de 2018, a Covid-19 e seus impactos sociais, econômicos, sanitários, com perdas de vidas, restrições nas relações presenciais, novos aspectos psíquicos, enfim tudo o que estamos vivendo ainda em 2022.

Nada melhor do que entrevistar o autor desses pensamentos instigantes e atuais.

Olá Maurício, como estás? Como falamos, o teu livro é espetacular, provocativo, sábio e nos instiga, além de nos desacomodar.

Obrigado por esta entrevista à ABQ.

1- No seu livro “A Evolução Humana” você afirma que o pensamento racional e lógico tem se mostrado pobre por passar uma visão fragmentada do todo, pelo foco apenas na especialização. Falta a síntese. Como você vê isso, hoje com e pós-pandemia?

O pensamento racional analítico tem tido grande êxito nas ciências exatas e nas tecnologias, mas tem caminhado pouco, e isso é fruto imediato da observação, no que diz respeito à ecologia e às ciências humanas e sociais. A boa notícia é que a humanidade começa a se aperceber desse fato com maior clareza – encontros como esse da Escócia (COP26) mostram os enormes riscos que corremos se não mudarmos os nossos pensamentos, comportamentos e costumes atuais para novos e mais inteligentes.

2- Você afirma também que o homem tem sido egoísta, pensando no curto prazo com sérias consequências ao futuro em termos de sociedade e meio ambiente. A COP26 reforçou em você esse pensamento? Ou você vê um futuro de maior cooperação entre países, sociedades, pessoas?

O homem é egoísta porque o egoísmo foi necessário à sua sobrevivência em um passado evolutivo de luta. Mas hoje nos apercebemos que a colaboração e a cooperação são bem mais inteligentes e poderão dar melhores frutos. O próprio egoísmo, que faz parte de nossos instintos atuais, pode ser mais inteligente. Se o Brasil se desenvolver em harmonia com os conhecimentos que a ecologia nos traz e de modo socialmente mais justo, entraremos num jogo de ganha-ganha em que todos têm mais oportunidades. É o que chamo de egoísmo inteligente. Se ficarmos no egoísmo atrasado de atritos entre grupos de interesses, continuaremos no jogo de perde-ganha ou perde-perde atual. O “queijo” de economia tem mais possibilidade de crescer quando a colaboração, de modo ético, predominar sobre a competição. Essa reflexão é válida para o Brasil, mas também vale para a economia mundial. Seria bom se o Brasil pudesse dar esse exemplo para o mundo.

3- O método analítico desenvolveu significativamente as ciências exatas nos últimos 500 anos. Mas as ciências sociais, comportamentais e humanas continuam fragmentadas, faltando aplicar o conceito de síntese, que daria uma visão integrada do todo. Como aprender a fazer a síntese se, no Brasil, não temos uma educação que nos forme bem em fazer a correta análise? Evoluímos nisso?

A visão de síntese é desejável para a boa gestão. Quanto mais elevada for a posição que a pessoa ocupa, melhor seria que tivesse a visão de síntese, de estadista. E, para ter essa visão, é preciso desenvolver, antes de tudo, esse dom, que Einstein chamava de dom divino: a intuição.

      É necessária uma mudança de paradigmas desde a educação primária. As crianças deveriam se dedicar mais aos trabalhos em colaboração, a terem empatia e a desenvolver a arte da diplomacia, de saber escutar, de dialogar. A observar melhor, a refletir, a desenvolver a criatividade, a intuição. Hoje não faz mais sentido sobrecarregar tanto a memória. Boa parte do pensamento algorítmico poderá ser delegado a equipamentos com inteligência artificial. Já para o pensamento heurístico, criativo, de síntese, o cérebro humano continua melhor que as máquinas. E precisaremos de melhor utilizar esse inigualável instrumento, que evolui e cresce à medida que é bem utilizado.

      Os cursos secundários e superiores deveriam repassar essa visão de síntese antes de cuidar das especializações e também serem mais práticos e ligados à realidade das coisas e um pouco menos teóricos, apenas. Enfim: ensinar mais a observar, a pensar e a fazer.

4- A universidade deveria preparar as pessoas para serem pensadores, observadores da realidade, com visão sistêmica, formando líderes, construindo uma sociedade melhor, feliz e mais justa. Essa sua colocação é possível de acontecer? Como?

A evolução é o fenômeno mais amplo do Universo e está se acelerando na Terra. Estamos diante de uma bifurcação da história e da nossa civilização: ou optamos por um viver mais eficaz e inteligente ou poderemos regredir. O Brasil e todos nós que entendermos esses conceitos temos uma oportunidade importante a desempenhar, criando uma nova civilização, da síntese e da intuição, neste terceiro milênio. As escolas e universidades, muito teóricas no Brasil, poderiam começar por colocar no conselho pessoas com mais vivência prática e começar a admitir os novos professores com mais experiência das coisas práticas. Que ensinem a observar e a pensar, mas também o agir e o fazer acontecer. Claro que isso é possível de acontecer, pois evoluir é preciso. Sem pressa e sem trégua superaremos esse desafio.

5- Você menciona que dentre os desafios atuais estão a evolução do conhecimento e da consciência pela intuição e síntese. Os modelos de gestão tendem a valorizar dados, fatos e análises mais tangíveis e pouco ou nada de intuição e síntese. Como fazer isso?

Repetindo: quanto mais alto a pessoa estiver na hierarquia de uma empresa, de uma associação ou de um governo, mais precisará de ter e desenvolver essa visão de síntese, a visão mais global, com estratégias de boa qualidade, inovadoras, a visão de estadista. Como fazer? O trabalho em equipes multidisciplinares e experientes ajuda muito, mas o caminho ideal é o de evolução da percepção, da consciência, da intuição. É o caminho que, a meu ver, a vida irá priorizar. Aliás, por falar em desafios, aí está um bom desafio para a Academia Brasileira da Qualidade e seu brilhante presidente.

6- Você menciona que a humanidade pode estar em decadência para uma nova Idade Média caso não aja para uma evolução inteligente do conhecimento holístico-sistêmico, da percepção e da consciência para um mundo melhor com desenvolvimento sustentável de pano de fundo. Corremos esse risco hoje à luz do cenário político mundial?

Sou otimista e acredito que a humanidade escolherá, a tempo, a solução mais inteligente, de continuidade da evolução, da percepção, da colaboração, de boa diplomacia e do respeito à ecologia e da busca de mais justiça social. O cenário político mundial, apesar de tenso, mostra certo amadurecimento. As grandes empresas têm interesses comerciais em todo o mundo. Estão mais interessadas, hoje, na paz do que na guerra. O consumismo exagerado e perdulário é que precisa mudar, pois, sob o ponto de vista da ecologia, é desastroso.

7- Gostaria que nos mostrasse melhor como o Brasil poderia utilizar o conceito de “uso dos recursos reais ociosos” para sair da crise, similar ao que Roosevelt fez em 1933, após o crash da Bolsa de New York em 29.

Temos três grandes sistemas que se interligam:

  • Coisas a fazer;
  • Recursos reais para fazê-las e;
  • Recursos creditícios e monetários para facilitar as transações.

Com relação ao grande sistema de coisas a fazer, é preciso priorizá-las e separá-las em:

  • Temas Nacionais – que precisam de ser mais centralizados;
  • Temas Regionais/Estaduais – que podem ser delegados/ descentralizados;
  • Temas Municipais – que podem e devem ser delegados aos municípios.

Essas coisas podem ser ainda divididas em dois grandes grupos:

  • As mais necessárias, hoje, para o bem-estar de população e;
  • As necessárias ao nosso desenvolvimento futuro: coisas de médio e longo prazo.

O Governo Federal deveria se concentrar nas grandes questões:

  • de natureza internacional;
  • de logística (tráfego aéreo, estradas de ferro, de rodagem, de navegação internacional, de cabotagem e fluvial);
  • de comunicação e evolução cultural da sociedade;
  • de segurança nacional;
  • coordenar as questões da saúde, educação, emprego;
  • coordenar as questões das ciências humanas e sociais, da tecnologia e da ecologia;
  • gerir as grandes questões da macroeconomia, especialmente a estocagem estratégica e reguladora de produtos industriais básicos e de produtos agrícolas. Gerir os critérios para juros, câmbios, crédito e emissões monetárias a fim de promover o desenvolvimento econômico sem inflação, com pleno emprego e respeitando a ecologia.

As atividades listadas para o Governo Federal, se bem desempenhadas, já seriam suficientes para bem ocupa-lo. Assim, deveria delegar aos estados, municípios e regiões as demais funções. O nome do jogo é mais uma questão de boa gestão e delegação que de privatização ou estatização.

Essa visão mais ampla poderia dar uma grande melhora na gestão e oportunidades de trabalho nas áreas de educação, treinamento e consultoria para pessoas mais experientes e preparadas.

Os recursos reais (R.R.) para fazer as coisas são as pessoas, o conhecimento, o saber fazer, a tecnologia disponível, a ciência, os recursos naturais, as fábricas e os equipamentos já existentes. Nota-se que grande parte dos recursos reais (R.R.) pode e deve crescer pela via da boa gestão, da visão estratégica e de síntese, da evolução da educação, da comunicação social, da cultura, da ciência e da tecnologia, da sinergia.

O sistema de recursos creditícios/monetários é importantíssimo para estimular e facilitar as transações, mas, de per si, não fazem nada: se fôssemos colonizar outro planeta não adiantaria absolutamente nada enviarmos para lá milhares de espaçonaves cheias de dinheiro. Precisaríamos de, antes sim, enviar os recursos reais (R.R.) necessários.

Voltando ao nosso planeta Terra, note bem: os recursos monetários precisariam de ser na quantidade necessária e suficiente para otimizar a utilização dos R.R. e possibilitar seu crescimento.

A formação de estoques reguladores/estratégicos de alguns produtos industriais básicos e agrícolas estocáveis leva a uma estabilidade maior da moeda, que passaria a ser lastreada por esses estoques, num leque de relações biunívocas estáveis. Além de poder trazer maior estabilidade, de certa forma, necessária ao lastro, melhoraria muito a produtividade da economia, por seu efeito sistêmico (ver anexo um artigo que pode ajudar a entender essa questão).

8- Você acha que o conceito da Síndrome das Janelas Quebradas seria aplicável a nós brasileiros, para valorizar/fortalecer valores e o comportamento?

Certamente. É conceito de natureza psicológica. A prática do 5S nas indústrias, por exemplo, estimula cada vez mais o clima de limpeza e produtividade. A cidade de Nova York aceitou bem certo autoritarismo do seu prefeito na década de 80 do século passado, devido ao estado de quase anarquia para que estava caminhando a cidade. Todos nós temos, por instinto, uma necessidade básica de ordem e respeito à autoridade em situações assim.

9- No mundo de hoje, como você vê o papel da Qualidade, da Gestão, o que elas podem desempenhar e o da nossa ABQ, em suas potencialidades?

Vejo um mundo de oportunidades para a metodologia da qualidade e para a ABQ. Tanto nos chãos de fábricas, quanto nos grandes sistemas gerencias e estratégicos, para grandes ganhos de produtividade e evolução da sociedade, que a visão de síntese nos traz. Um bom desafio para o nosso presidente e para os que tiverem a percepção desses novos paradigmas e de sua importância para a boa governabilidade.

10- O que você gostaria de complementar, de mensagem ao seu leitor?

Complemento relembrando que vivemos em um universo inteligente. Todas as leis da física, da química, da biologia são leis muitíssimo inteligentes que ainda hoje temos dificuldade de compreender bem, em todos os seus aspectos. Seria quase uma ingenuidade julgar que, devido ao nosso livre arbítrio, podemos continuar a burlá-las, como ainda hoje o fazemos. As consequências, como a Covid-19, e outras anomalias da natureza poderão se agravar. Nessa bifurcação da história, temos que escolher o caminho da inteligência, da melhor percepção das coisas, da intuição. E não o dos instintos, já obsoletos, de competição insana entre grupos de interesse. Evoluir é preciso.

Um forte abraço!

Mauricio: Obrigado pela sua atenção e parabéns, Guaragna, por suas qualidades de líder.

Guaragna: Muito obrigado Maurício por sua lucidez em tratar desse tema relevante e ainda pouco colocado em prática e que poderá ser, sem dúvida, o caminho para a evolução humana percorrer com sucesso a sua trajetória na busca de um futuro cada vez melhor.

Grande abraço!

Anexo da entrevista

MACROECONOMIA PARA FUTUROS ESTADISTAS

UM SUMÁRIO

MAURÍCIO ROSCOE – 2021

1)    José do Egito interpretou bem os sonhos do Faraó há mais de 3.000 anos e se tornou o primeiro grande estrategista econômico da história.

Construiu armazéns e silos, no tempo das vacas gordas e estocou grande parte da produção agrícola do país. Quando chegou o tempo das vacas magras, o Egito era o único que tinha fartura em toda a região.

Hoje as duas maiores potências econômicas do mundo mantêm estoques reguladores/estratégicos, não apenas de produtos agrícolas, mas também de produtos industriais básicos.

2)    Alguns milênios depois de José do Egito, o grande físico e matemático inglês, Isaac Newton, que fora convidado a presidir a Casa da Moeda, sabendo que um princípio fundamental da matemática é que as unidades precisam de ser estáveis, promoveu a vinculação da libra esterlina a uma quantidade precisa de ouro. Àquela época, em que a economia mundial crescia muito devagar, ele não poderia prever que a quantidade de ouro disponível, apesar de ter vindo a crescer muito, se tornaria insuficiente e inadequada para lastrear a economia mundial futura.

Duzentos anos depois, na primeira guerra mundial, os ingleses tinham estaleiros para fazer navios, fábricas para fazer mais armas, as pessoas e o conhecimento para fazer estas coisas indispensáveis para poderem ganhar a guerra. Mas não tinham mais ouro o suficiente para lastrear a moeda necessária para movimentar a economia. O que fazer? Preferiram romper com o dogma estabelecido por Sir Isaac Newton há 200 anos e ganhar a guerra.

3)    A grande queda da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929, gerou uma crise que se alastrou por toda a economia. Tratada ao modo clássico, só se agravou até 1933.

Ao assumir a presidência em março daquele ano, inspirado por Keynes, que certamente se lembrava da solução adotada, com êxito, pelos ingleses na guerra de 1914, Roosevelt começou a proporcionar crédito e emitir moeda em larga escala e conseguiu recuperar a economia e os empregos.

Além dos enormes investimentos em todo o Vale do Tennessee, concedeu crédito para a estocagem de produtos agrícolas e também produtos industriais básicos, além de crédito para a construção de novas moradias. Praticamente acabou, com essa metodologia, com o desemprego sem promover inflação. Foi como se os estoques formados funcionassem, não oficialmente, como lastro para a moeda.

4)    O mesmo Roosevelt, assessorado por Keynes e com o apoio de Churchill, promoveu o acordo de Bretton Woods, em 1944. Valorizaram o ouro em cerca de 20% e criaram um entendimento arbitrário de que bastaria ter um lastro/estoque de 40% e não mais de 100% de ouro.

Assim a economia americana cresceu rapidamente até a década de 70, com o dólar razoavelmente lastreado.

Em 1971, o presidente francês Charles de Gaulle, começou a solicitar a troca de dólares por ouro, em grandes quantidades.

O presidente Nixon decidiu então, praticamente dobrar o preço do ouro usado como lastro e, em 1973 houve uma desvinculação completa entre o dólar e o ouro. Assim, o mundo voltou novamente aos tempos pré-newtonianos, em que um princípio fundamental da matemática que diz que toda unidade precisa de ser estável foi desrespeitado. Ganharam e ganham os especuladores e perderam e perdem os produtores e trabalhadores, com essa anomalia; a economia se tornou mais instável e imprevisível.

5)    Tão genial quanto Keynes, o economista alemão Hjalmar Schacht, que salvou a Alemanha da crise inflacionária de 1923 e também da recessão de 1930, chegou a refletir seriamente em criar outra referência que não o ouro, para lastrear a economia criando um marco-centeio. Só não o fez porque considerou o centeio, como produto agrícola, muito instável quanto à sua produção e, consequentemente, aos preços. Não se apercebeu à época, que a moeda pode ser correlacionada a um leque de produtos amoedáveis,estocados em uma estratégia promotora de fartura (lembremo-nos de José do Egito) e que permaneceriam com os preços mais estáveis, enquanto usados como lastro.

Importante notar que Hjalmar Schacht, chamado então de o “bruxo” ou “mago” da economia, para recuperar a Alemanha da crise de 30, emitiu títulos, lastreados em ouro, que tinham circulação de troca, como moeda. Com isso, construiu estradas, recuperou o nível de pleno emprego e a economia cresceu. O interessante é que ele tomou de empréstimo ouro americano para lastro, pagando uma pequena taxa. E como garantia para os emprestadores, não retirou dos cofres americanos nem uma única grama de ouro, que ficou todo lá.

Esse “bruxo”, que foi ministro de Hitler, escapou da morte no julgamento de Nuremberg porque estava preso quando os aliados invadiram a Alemanha. Estava preso por ter participado de conspiração para afastar Hitler do poder.

6)    Vamos, agora, ao Brasil de hoje. O atual ministro da fazenda, apesar de não ter ainda conseguido resolver o grave problema humano e econômico do desemprego, cerceado talvez por nossa legislação pétrea e, em uns pontos, obsoleta, deu, agora, um tiro bem no alvo: Está proporcionando crédito acessível aos produtores rurais para construírem armazéns ou silos para estocagem de seus produtos em tempos de vacas gordas, ou seja, de produção elevada e preços baixos. Essa estocagem, além de poder proporcionar fartura, como nos ensinava José do Egito, pode proporcionar lastro para a moeda e crescimento sem inflação para o país, além de dar maior liberdade e poder de barganha a quem produz.

7)    Precisamos de modernizar nossa legislação. O dogma do equilíbrio fiscal, por exemplo, é inteiramente inadequado, promovendo de modo permanente, um desequilíbrio na economia: Quando há desemprego as empresas e as pessoas precisariam de mais crédito e moeda para otimizar os recursos reais, dentre os quais se destacam as pessoas. Deixá-las desempregadas, além do óbvio desperdício desse recurso, reduz o mercado interno.

Os nossos irmãos norte-americanos, por exemplo, vêm dando magistrais pedaladas no que se poderia chamar de equilíbrio fiscal e com isso vêm mantendo a economia a pleno emprego. Seus gigantescos estoques estratégicos ajudam muito a manter a inflação sob algum controle.

8)    Com possibilidade de estocar, os produtores poderão emitir títulos/vouchers, com a chancela de bancos e circulação regional, a fim de que possam, os produtores, dar continuidade à produção. Eles próprios terão interesse em resgatar tais títulos se houver tendência de alta de preços desses produtos a fim de não terem que resgatá-los, no futuro, com um produto que esteja já valendo mais.

Essa estratégia levaria a uma maior estabilidade dos preços e a um equilíbrio bem mais estável, com uma moeda lastreada, de fato, num leque de produtos estocados.

BIBLIOGRAFIA

  • História de José – A Bíblia Sagrada;
  • José e seus irmãos – Thomas Mann;
  • A Ascensão do Dinheiro – Niall Ferguson;
  • Capitalismo na América – Alan Greenspan e Adrian Wooldridge;
  • Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda – John Maynard Keynes;
  • Setenta e seis anos de minha vida – Hjalmar Schacht;
  • O Colapso da Bolsa 1929 – John Kenneth Galbraith;
  • Problemas Atuais – Pietro Ubaldi;
  • Anotações sobre a Inflação Brasileira – Maurício Roscoe.

*Eduardo Guaragna é Diretor-Presidente da Academia Brasileira da Qualidade (ABQ).

Este artigo expressa a opinião dos Autores e não de suas organizações.

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