DESVENDANDO CENÁRIOS – Estratégia orientada pela Análise PESTEL + P

ABQ Análise Pestel P

(*) Claudius D’Artagnan C. Barros

 

No mundo corporativo – à guisa de um planejamento robusto – nem sempre é possível interver todas as variantes holísticas no conturbado cenário empresarial, razão direta da profusão de informações que nos cercam, tornando desafiador identificar as oportunidades, riscos e tendências que garantam – minimamente, uma gestão isenta de atropelos e de decisões assertivas.

A análise de cenário é uma prática vital para as organizações. Em seus primórdios na década de 1970, a motivação para sua aplicação como instrumento do planejamento estratégico com base em diagnóstico, era circunscrita – essencialmente, a fatores econômico-financeiros. Não obstante, a prática demonstrou que outros cenários coexistentes ofereciam uma visão mais eclética do mercado, cujas variáveis indicavam um spoiler, como importante subsídio na construção de um plano de contingências com vistas ao desempenho organizacional, por conseguinte, melhorando a competitividade dos produtos (bens e serviços).

Pensando numa estratégia eficaz que anteveja cenários externos, a recomendação é a análise PESTEL (metodologia desenvolvida originalmente pelo professor Francis J. Aguilar (1932-2013) da Harvard Business School).

Trata-se de um acrônimo representado por seis fatores de mapeamento do ambiente tópico, considerados impactantes na construção de um plano estratégico, permitindo que organizações dos mais variados gêneros, de sociedade simples ou anônima, se antecipem no processo de potencialização para tomada de decisões que venham assegurar a sustentabilidade e uma boa performance dos negócios.

Cada letra do acrônimo representa uma perspectiva específica que pode interferir sobremaneira nas decisões e na missão da empresa. Elas identificam os seguintes cenários: Político, Econômico, Social, Tecnológico, Ecológico e Legal.

Não obstante, é oportuno ponderar que a adição do “+P”(cenário Pandêmico) ao acrônimo PESTEL, é de minha autoria e refere-se a um vetor de ordem temporal, transitório, relacionado a um recente contexto global – a Pandemia de covid. Suas consequências – à época, redundaram num ambiente de ansiedade, estresse e incerteza, cujos reflexos interferiram sobremaneira nas estruturas e na dinâmica das relações empresariais e interpessoais.2

Isso nos conduz a um estado de alerta, pois não há como descartar a probabilidade de uma nova crise sanitária e que – a meu ver, justifica a adoção de ações protetivas, ou seja, aquelas adotadas previamente de forma a amenizar os efeitos caso o problema volte a ocorrer.

Assim, a combinação dessas sete dimensões de cenário propostas na metodologia PESTEL+P, representam cenários externos e, em especial, a influência dos fatores macroeconômicos do mercado, que são relevantes para gestão das empresas.

Convido você leitor para uma breve reflexão sobre cada um dos cenários externos da análise PESTEL+P e sua influência sobre as decisões gerenciais.

São eles:

Cenário Político: Este contexto diz respeito às influências de ações e decisões governamentais. Mudanças políticas podem afligir significativamente as operações de uma empresa, influenciando sua capacidade de expansão, gestão dos custos e estratégias comerciais de mercado. A visão antecipada deste cenário é fundamental para um planejamento estratégico eficaz. Isso inclui decisões fiscais, mudanças legislativas, instabilidade política, alteração de leis trabalhistas e regulamentações que afetam setores específicos. Ao pressentir esses elementos, as empresas poderão adaptar múltiplas estratégias, ajustar seus rumos, otimizando a gestão de riscos e capitalizando em ambientes mais favoráveis.

Cenário Econômico: As tendências econômicas são fundamentais para a estruturação da análise PESTEL+P. Variáveis como taxa de juros, comportamento dos índices de inflação (mormente os de prognóstico futuro) e flutuação das taxas de câmbio, têm impacto direto nos negócios. Ao antecipar esses elementos, as empresas podem estabelecer um panorama realista do contexto econômico e conformar suas estratégias, fortalecendo a resiliência operacional, maximizando ganhos em ambientes favoráveis e proporcionando mais segurança nas decisões e vantagens competitivas sustentáveis.

Cenário Social: A compreensão da dinâmica social no âmbito dos valores da cultura regional, aspectos da diversidade, processos educativos, novas condições de trabalho e quartis de remuneração, são alguns dos aspectos essenciais e que devem ser considerados para o alinhamento das estratégias da empresa aos anseios de seus colaboradores.3

Ao antecipar esses fatores, as organizações terão a oportunidade de ajustar as políticas em relação a gestão de sua força de trabalho; bem como, as práticas das políticas sociais com foco no cumprimento responsável das exigências de Compliance, incluindo neste escopo o Código de Ética, que fortalecerá a conexão entre a empresa e seus stakeholders.

Cenário Tecnológico: A perspectiva de cenário tecnológico é considerada protagonista nos estudos do PESTEL+P e refere-se às inovações que ocorrem à nossa volta. Processos de automação das operações, aplicação da inteligência artificial generativa e outros avanços da tecnologia podem impactar a dinâmica dos negócios de qualquer organização.

Isso inclui o conhecimento do que está ocorrendo no campo do desenvolvimento de novas pesquisas, o surgimento de ideias disruptivas e também, a velocidade com que essas mudanças ocorrem. Organizações que não percebem os sinais das mudanças e dos possíveis impactos tecnológicos sobre seus negócios, tendem a enfrentar desafios que certamente comprometerão sua capacidade competitiva.

Cenário Ecológico: As mudanças climáticas e seus impactos mostram-se cada vez mais evidentes. É preciso compreender e interpretar as políticas de sustentabilidade e as regulamentações ambientais que possam, eventualmente, afetar as operações ou o processo de decisão. Analisar o cenário ecológico é também, avaliar as crescentes preocupações mundiais com a busca da circularidade da economia e com a sustentabilidade dos produtos ao consumidor. Novas regulamentações e normas de proteção ambiental podem ser críticas para as organizações modernas. Empresas preocupadas com as questões ambientais podem ter uma vantagem competitiva, além da construção de uma imagem positiva e reputação mais favorável no tocante aos seus clientes.

Cenário Legal: A dimensão legal na análise de cenário, diz respeito às mudanças nas leis e regulamentações que venham a afetar as operações de uma empresa. Isso abrange desde regulamentações trabalhistas até questões relacionadas à propriedade intelectual e mesmo, à concorrência. Ao antecipar esses fatores legais, as organizações ficarão incólumes a possíveis penalidades e prejuízos. A compreensão do ambiente legal permite identificar possíveis oportunidades de parcerias estratégicas alinhadas às normativas vigentes. Ficar em conformidade com as leis (ou em Estado de Compliance), é essencial para mitigar riscos legais e conduzir um planejamento estratégico adaptável às dinâmicas jurídicas em constante evolução.

Cenário (+P) Pandêmico: Plano de Contingência é a ação mais recomendável para empresas enfrentarem desafios decorrentes da eventual (indesejável) volta de uma nova pandemia global.

Um possível cenário de lockdown – por exemplo, com consequentes restrições comerciais exigirão flexibilidade e resiliência. Ações preventivas de contingência permitirão a transição menos traumática das atividades profissionais para o regime home office, garantindo a continuidade das operações sem grandes atropelos. Adaptações ágeis nas estratégias de comunicação e logística tornam-se essenciais, assegurando a continuidade das relações comerciais.

Em tempos de incerteza, empresas que priorizam e antecipam a elaboração e execução de planos de contingência estarão melhor preparadas para preservar sua operação e prosperar diante de desafios inesperados ou momentâneos.

Concluindo, a análise PESTEL+P é uma ferramenta valiosa para a tomada de decisões estratégicas, proporcionando às organizações uma compreensão aprofundada do amplo e irrestrito ambiente em que operam. Ao considerar essas sete dimensões, as empresas estarão melhor preparadas para enfrentar desafios, identificar oportunidades e desenvolver estratégias pontuais que levem em conta as complexidades do ambiente globalizante em que vivemos.

(*) Claudius D’Artagnan é conselheiro empresarial, professor universitário, escritor e membro da ABQ – Academia Brasileira da Qualidade e da Academia de Letras de Lorena/SP. Mantém canal no Youtube “Dartabarros”, abordando temas sobre variados assuntos corporativos.

 

Este artigo expressa a opinião dos Autores e não de suas organizações.

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