Rede Nova Qualidade

Por: Eduardo V. C Guaragna (Acadêmico Titular)

 

  1. Introdução

Vimos em artigo anterior, “Preparando-se para a Nova Qualidade”, de setembro de 2024, que a qualidade tem sido resiliente e adaptativa às mudanças ao longo de sua existência e que poderá ser protagonista no atual cenário que busca a prosperidade e o bem-estar das pessoas e sociedade fundamentados no compromisso com o desenvolvimento sustentável, três pilares que suportam o que denominamos de Nova Qualidade.

 

Recordando o que vem a ser os três pilares, prosperidade, bem-estar e desenvolvimento sustentável segundo o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento):

Bem-estar: é um conceito multidimensional que engloba aspectos de saúde, educação, e padrões de vida. Ele se refere à capacidade dos indivíduos de viver uma vida longa e saudável, ter acesso ao conhecimento e participar ativamente da vida econômica, social e política. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), desenvolvido pelo PNUD, é uma medida que reflete essa visão, combinando indicadores de expectativa de vida, educação e renda.

Prosperidade: na visão do PNUD, prosperidade vai além do simples acúmulo de riqueza. Ela inclui o desenvolvimento humano sustentável, onde as pessoas têm a liberdade de realizar seu potencial, viver com dignidade e segurança, e contribuir para o bem-estar coletivo. Prosperidade, segundo o PNUD, está relacionada ao crescimento econômico que é inclusivo e sustentável, e que melhora a qualidade de vida das pessoas.

Desenvolvimento sustentável: refere-se ao desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem suas próprias necessidades. Esse conceito envolve a integração de três dimensões fundamentais:

 

  1. Econômica: Busca o crescimento econômico que seja inclusivo e equitativo, garantindo a criação de emprego e trabalho e a redução da pobreza, sem prejudicar os recursos naturais.
  2. Social: Promove a equidade social, justiça e inclusão, garantindo que todos tenham acesso a recursos e oportunidades, bem como o respeito aos direitos humanos.
  3. Ambiental: Foca na preservação e proteção do meio ambiente, utilizando os recursos naturais de maneira sustentável para garantir a sua disponibilidade no futuro.

 

Importante ressaltar que a ABQ já vem atuando com visão ampliada da qualidade, expressa no Manifesto e nas ações em que pauta temas relevantes como educação, saúde e desigualdade e inclusão social, dentre outros.

 

Vimos também que os cenários e desafios para a Nova Qualidade nos próximos 10 anos, assim como os desafios para as organizações nas demandas e exigências da Nova Qualidade são enormes, incluindo o aprimoramento na formação de líderes e competências para dar consistência a atuação nesse novo cenário.

 

  1. Rede Nova Qualidade Brasil

No Brasil temos organizações/instituições que atuam em vários temas da Nova Qualidade, ainda que de forma mais especifica e pontual. No passado os Programas Estaduais da Qualidade, hoje em número pequeno, promoviam a integração de vários temas e de organizações. Atuavam disseminando e compartilhando conhecimentos e iniciativas no campo da qualidade, criando oportunidades de aprendizados, crescimento das pessoas e das organizações, realizando trabalhos e projetos conjuntos, via cooperação. Hoje esta rede inexiste.

Isto posto sugerimos a criação da Rede Nova Qualidade Brasil (fig.1), cuja missão é integrar estratégias e ações na promoção do bem-estar, prosperidade e desenvolvimento sustentável no Brasil. É preciso mapear este ativo de conhecimento existente, identificando organizações, temas e cases de sucesso a respeito. A rede teria uma governança e, para cada um dos três pilares, as organizações e temas que desenvolvem. No curto prazo se buscaria identificar onde estão atuando as principais organizações nos temas da Nova Qualidade, nos respectivos pilares (tab.1). Num segundo momento, o estabelecimento de contatos para convidá-las a fazer parte da rede, como parceiros, cujo propósito é desenvolver a cultura da Nova Qualidade com resultados em benefício das pessoas, das organizações e da sociedade brasileira.

 

  1. Por que organização em rede

A organização em rede refere-se a uma estrutura organizacional com objetivos comuns/compartilhados na qual as atividades, responsabilidades e processos são distribuídos entre várias entidades/organizações, com uma comunicação fluida e colaboração entre elas. Em vez de depender de uma hierarquia rígida e centralizada, a organização em rede busca a flexibilidade e a adaptabilidade, permitindo foco, maior agilidade e eficiência. Os parceiros fortalecem a rede, definindo estratégias, podendo compartilhar recursos, informações, esforços e conhecimento.

A governança da rede é o conjunto de processos, normas, políticas e estruturas que orientam e regulam as interações, a tomada de decisões e a distribuição de responsabilidades entre as entidades ou membros da rede. Embora a organização em rede seja caracterizada por uma maior descentralização e flexibilidade, a governança é essencial para garantir que os objetivos da rede sejam alcançados de forma eficiente e coesa. A governança da rede deve equilibrar a autonomia de cada parte envolvida com a necessidade de alinhamento e coordenação entre os diferentes membros. A governança da rede será desenhada a partir das organizações que compõem esta rede, alinhadas às características da governança em organização em redes

 

Fig.1 Rede Nova Qualidade Brasil, pilares, temas e parceiros

 

  1. Mapeamento de potenciais parceiros

Para cada pilar serão identificados os temas e como se dá a contribuição do tema para o respectivo pilar. Também se busca identificar organizações potencialmente parceiras que atuam nestes temas e cases que ilustram o trabalho realizado, segundo as tabelas a seguir.

TEMAS
(EM QUE)
 CONTRIBUIÇÃO DA QUALIDADE À PROSPERIDADE DE UM PAÍS (COMO) POTENCIAIS PARCEIROS E CASES DE SUCESSO
Educação Formação de trabalhadores qualificados e inovadores, impulsionando sua renda e o crescimento econômico.
Saúde Melhora na qualidade de vida e na produtividade da força de trabalho.
Infraestrutura Facilita o comércio e atrai investimentos, melhorando a logística, reduzindo custos.
Governança Promove confiança, previsibilidade e estabilidade, criando um ambiente econômico sólido e saudável.
Inovação Impulsiona a competitividade e a adaptação às novas demandas do mercado e criação de novos mercados.
Atuação como Setor Empresarial Aumenta a lealdade do cliente, melhorando a rentabilidade e competitividade.
Produtos e serviços Eleva a reputação do país, da marca, contribuindo para a competitividade.
Políticas Públicas Resulta em serviços eficazes e atendem às necessidades da sociedade, fazendo bom uso dos recursos.

Tab. 1 – Contribuição da qualidade à prosperidade

TEMA CONTRIBUIÇÃO DA QUALIDADE PARA O BEM-ESTAR DAS PESSOAS E SOCIEDADE POTENCIAIS PARCEIROS E CASES DE SUCESSO
Saúde O acesso a serviços de saúde de qualidade com foco na promoção e prevenção da saúde melhora a saúde geral e reduz doenças, elevando a expectativa de vida.
Educação Educação de qualidade fornece habilidades e conhecimentos essenciais, aumentando oportunidades de emprego e renda, além de elevar a autoestima.
Segurança Ambientes seguros reduzem o crime e promovem a paz social, melhorando a qualidade de vida.
Habitação Moradias de qualidade garantem conforto e segurança, contribuindo para a estabilidade familiar.
Trabalho Condições de trabalho adequadas aumentam a satisfação e a produtividade dos trabalhadores.
Acesso a informação Informação acessível e de qualidade empodera cidadãos, promovendo sua conscientização e participação ativa na sociedade.
Coesão Social A qualidade nas interações sociais e culturais promove inclusão e solidariedade, fortalecendo a comunidade.
Produtos e serviços Produtos e serviços de qualidade promovem o bem-estar das pessoas, trazendo conforto e satisfação.

Tab. 2- Contribuição da qualidade ao bem-estar

 

TEMA CONTRIBUIÇÃO DA QUALIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL POTENCIAIS PARCEIROS E CASES DE SUCESSO
Educação Promove consciência ambiental e capacita cidadãos para práticas sustentáveis.
Saúde Pública Sistemas de saúde de qualidade, com foco na promoção e prevenção da saúde, melhoram a saúde da população, reduzindo desigualdades de acesso.
Gestão de Recursos Hídricos Práticas de qualidade garantem o uso sustentável da água e preservam ecossistemas.
Energia Sustentável Investimentos em energia renovável de qualidade reduzem a dependência de combustíveis fósseis.
Infraestrutura Verde Projetos urbanos de qualidade integram áreas verdes, melhorando a qualidade de vida e o meio ambiente.
Produção e Consumo Sustentáveis Produtos de qualidade e processos eficientes minimizam desperdícios e poluição.
Governança Eficiente Políticas públicas bem elaboradas promovem a sustentabilidade e a justiça social.
Agricultura Sustentável Práticas agrícolas de qualidade melhoram a produtividade e preservam os recursos naturais.
Transporte Sustentável Sistemas de transporte de qualidade reduzem emissões e melhoram a mobilidade urbana.
Inovação Tecnológica Avanços em tecnologia sustentável aumentam a eficiência e criam soluções para desafios ambientais.
Responsabilidade Social Empresas que adotam práticas de responsabilidade social contribuem para o bem-estar das comunidades e do meio ambiente.
Conservação da Biodiversidade Práticas de qualidade na conservação protegem ecossistemas e espécies ameaçadas, assegurando a saúde do planeta.

Tab. 3- Contribuição da qualidade ao desenvolvimento sustentável

 

  1. Conclusão

Na década de 90 tivemos o PBQP- Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade – como o grande carro-chefe da promoção da qualidade no Brasil. Posteriormente no decorrer do sec. XXI a qualidade, principalmente de produtos e serviços, foi se internalizando em boa parte das grandes e médias organizações, que hoje já a tem incorporada em sua forma e processos de trabalho. Porém, o mundo tem mudado de forma mais veloz, ampla e inesperada. Assim, percebemos que a qualidade tradicional (focada em produtos e serviços de mercado) já não atende às necessidades e expectativas das partes interessadas. Surge o que chamamos de Nova Qualidade, com abrangência e papel mais amplo e complexo que a qualidade até então praticada.

 

A criação da Rede Nova Qualidade Brasil pode ser a resposta do Brasil a este cenário desafiador e suas mudanças. Sabemos que é uma jornada longa, mas acreditamos que o caminho está na direção certa. É preciso dar o primeiro passo de agregação e criação de pontes de relacionamentos e futuras parcerias, com os principais agentes (organizações, governo, pessoas de influência, etc.) potenciais protagonistas desta transformação.

 

Referência Bibliográfica:

Guaragna, Eduardo: “Preparando-se para a Nova Qualidade”, artigo disponível no site da ABQ, setembro 2024.

Este artigo expressa a opinião dos Autores e não de suas organizações.

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3 comentário sobre “Rede Nova Qualidade

  1. xcelente iniciativa essa da Rede. Parabéns pela iniciativa.
    Tenho a comentar apenas que em termos de qualidade há que se focar também e especificamente na Educação Básica, ou seja, no ensino formal fundamental para que seja formada uma base sólida de aprendizagem, desde a educação infantil. Esse processo de ensino aprendizagem, consistente e formativo, tem que ser cuidado, acompanhado e avaliado, para que, a medida que a criança avança nos níveis educacionais, o aprendizado esperado de cada nível seja alcançado, sem lacunas de aprendizagem. Para tanto, além do que já existe no sistema educacional, um sistema de gestão implantado nas organizações educacionais tem todos os requisitos necessários para que essas organizações, integrando o sistema educacional, possam alcançar os resultados especificados, de acordo com as necessidades e expectativas das partes interessadas pertinentes – além obviamente dos alunos, os pais e responsáveis, o governo, o mercado de trabalho, e organizações que receberão os alunos egressos dessas organizações educacionais, públicas e privadas.
    Esse sistema de gestão para organizações educacionais já tem um modelo, inspirado na ISO 9001, e desenvolvido pela ISO com profissionais das áreas de gestão e da educação. Portanto, um modelo desenhado especificamente para a área educacional, incluindo tudo o que se espera no século XXI em termos de responsabilidade social, inclusão de pessoas com deficiência, e sustentabilidade.

  2. Excelente iniciativa essa da Rede. Parabéns pela iniciativa.
    Tenho a comentar apenas que em termos de qualidade há que se focar também e especificamente na Educação Básica, ou seja, no ensino formal fundamental para que seja formada uma base sólida de aprendizagem, desde a educação infantil. Esse processo de ensino aprendizagem, consistente e formativo, tem que ser cuidado, acompanhado e avaliado, para que, a medida que a criança avança nos níveis educacionais, o aprendizado esperado de cada nível seja alcançado, sem lacunas de aprendizagem. Para tanto, além do que já existe no sistema educacional, um sistema de gestão implantado nas organizações educacionais tem todos os requisitos necessários para que essas organizações, integrando o sistema educacional, possam alcançar os resultados especificados, de acordo com as necessidades e expectativas das partes interessadas pertinentes – além obviamente dos alunos, os pais e responsáveis, o governo, o mercado de trabalho, e organizações que receberão os alunos egressos dessas organizações educacionais, públicas e privadas.
    Esse sistema de gestão para organizações educacionais já tem um modelo, inspirado na ISO 9001, e desenvolvido pela ISO com profissionais das áreas de gestão e da educação. Portanto, um modelo desenhado especificamente para a área educacional, incluindo tudo o que se espera no século XXI em termos de responsabilidade social, inclusão de pessoas com deficiência, e sustentabilidade.

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