Preparando-se para a Nova Qualidade

Por: Eduardo V. C. Guaragna

 

1-Introdução

O papel da qualidade no mundo tem evoluído e instigado a refletir sobre como ela pode ser um fundamento e instrumento viabilizador da prosperidade e de melhoria da vida das pessoas, não apenas nos aspectos de bens e serviços de desenvolvimento material, mas também nos serviços essenciais ao bem-estar das pessoas e sociedade. Com este propósito, no VIII Seminário ABQ Qualidade Sec. XXI de 11 de novembro de 2021 na apresentação de abertura mencionei na condição de Presidente da ABQ, o que chamei de Nova Qualidade, uma menção de como a qualidade poderia preencher esta lacuna e ser protagonista na busca da prosperidade, melhoria da vida e do bem-estar das pessoas. Compartilho aqui neste artigo uma evolução na abordagem nesta direção.

2-A evolução da qualidade com as mudanças nos modelos econômicos

A qualidade é jovem, tendo pouco mais de 100 anos de existência como disciplina. Desde o início a evolução da qualidade de produtos e serviços, assim como a qualidade de vida, estão intimamente ligadas aos modelos econômicos vigentes a cada época (Fig.1). Observamos que a qualidade se mostrou adaptativa e resiliente ao longo do tempo, ora servindo como instrumento de sobrevivência econômica, ora como diferenciação competitiva, evoluindo e absorvendo as mudanças do ambiente.

Fig. 1 – Qualidade no contexto econômico (1)

(1) Apresentado no VIII Seminário ABQ da Qualidade Sec. XXI em 11 de nov. 2021.

2.1. Início do Século XX e II Revolução Industrial (1900-1930)

  • Modelo Econômico: Capitalismo Industrial
  • Qualidade dos Produtos: No início do século XX, a produção em massa tornou-se o padrão, impulsionada pelo Taylorismo e Fordismo. A ênfase estava na produção em grande escala com eficiência, o que aumentou a disponibilidade de produtos, mas frequentemente em detrimento da qualidade e da falta de customização aos desejos dos clientes. Cartas de controle estatístico, inspeção e controle da qualidade e técnicas de amostragem ganharam destaque por suas aplicações à indústria.
  • Qualidade de Vida: O crescimento industrial levou à urbanização, mas as condições de trabalho eram frequentemente adversas, com longas jornadas, baixos salários e pouca segurança no trabalho. Os serviços públicos eram limitados, e a desigualdade social muito elevada. No entanto, o acesso a bens de consumo básicos aumentou para uma parte maior da população.

2.2. Grande Depressão e Pós-Segunda Guerra Mundial (1930-1950)

  • Modelo Econômico: Intervencionismo Estatal
  • Qualidade dos Produtos: Durante a Grande Depressão (quebra da bolsa de valores nos EUA, 1929), houve uma queda na produção e na demanda, o que afetou a qualidade dos produtos. No entanto, após a Segunda Guerra Mundial, os avanços tecnológicos decorrentes do esforço de guerra foram aplicados à produção civil, não militar, resultando em produtos mais duráveis e com qualidade. O Plano Marshall foi criado para recuperação do Japão, dando início aos processos de qualidade industrial naquele país que recebeu Juran e Deming como mentores, passando a aplicar seus conceitos, com destaque para o PDCA e a Trilogia.
  • Qualidade de Vida: O período pós-guerra foi marcado pela criação do Estado de Bem-Estar Social em muitos países, com investimentos em saúde, educação e infraestrutura também como estímulo à economia. A classe média cresceu, e as condições de vida melhoraram significativamente, com maior acesso a moradias de qualidade, serviços de saúde e educação. Surge uma visão mais humana do trabalho, principalmente por parte dos psicólogos Maslow e Herzberg.

2.3. Milagre Econômico e Crescimento Global (1950-1970)

  • Modelo Econômico: Keynesianismo e Estado de Bem-Estar Social
  • Qualidade dos Produtos: A produção industrial continuou a se expandir, mas agora com maior ênfase na qualidade e inovação, com destaque para as ideias de Schumpeter – Destruição Criativa -. O mundo passa a conhecer o Sistema Toyota de Produção, a produção enxuta. O surgimento de novos materiais e processos industriais permitiu a criação de produtos mais sofisticados e confiáveis.
  • Qualidade de Vida: Esse período viu uma grande melhora na qualidade de vida, especialmente nos países desenvolvidos. A combinação de pleno emprego, salários crescentes, e expansão dos serviços sociais resultaram em melhor saúde, educação e expectativa de vida. A cultura de consumo também se expandiu, com as famílias adquirindo bens como automóveis, os eletrodomésticos e eletrônicos.

2.4. Crise do Petróleo e Neoliberalismo (1970-1990)

  • Modelo Econômico: Neoliberalismo
  • Qualidade dos Produtos: A globalização e a desregulamentação levaram à produção em mercados globais, o que aumentou a competição e reduziu custos, mas também pressionou por cortes que, em alguns casos, comprometeram a qualidade. No entanto, a inovação continuou em especialmente eletrônicos e tecnologias de consumo, caracterizando o início da III Revolução Industrial. A adoção de normas e padrões internacionais passa a ser instrumento para competição global (ISO, dentre outras). Na década de 70 no Brasil foi criada a infraestrutura para a qualidade, incluindo o Inmetro. Na década seguinte as missões no exterior buscaram conhecimentos para capacitar a força de trabalho no Brasil para a qualidade.
  • Qualidade de Vida: A qualidade de vida se tornou mais desigual. Enquanto algumas economias floresceram com a globalização, outras enfrentaram desemprego e desindustrialização. A crise do petróleo causou recessão e inflação com mudanças na política energética e na economia. Houve uma redução no papel do Estado em algumas áreas, levando a cortes em serviços sociais. A desigualdade de renda aumentou, mas, ao mesmo tempo, houve um crescimento no acesso a novos bens de consumo e tecnologias.

2.5. Globalização e Economia da Informação (1990-2010)

  • Modelo Econômico: Globalização Econômica e Economia da Informação
  • Qualidade dos Produtos:
  • Em 1991 Tim Berners Lee desenvolveu a WWW – World Wide Web – tornando a navegação na rede internet mais amigável. Na década de 90 a qualidade alcançou sua mais marcante posição no Brasil, com a criação do PBQP – Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade – e seus desdobramentos. A abertura da economia no Brasil estimulou a concorrência e a melhoria da qualidade, levando a que algumas organizações viessem a “quebrar” por falta de competitividade. Na virada do século a qualidade dos produtos evoluiu com o surgimento da Economia Digital. Produtos de alta tecnologia, como computadores, smartphones e eletrônicos, tornaram-se comuns, com uma ênfase crescente na inovação e na eficiência energética. O foco passou para a customização e personalização e a dar valor à experiência do cliente ou usuário.
  • Qualidade de Vida: A globalização reduziu a pobreza em muitos países em desenvolvimento e aumentou o acesso a produtos e serviços globais. No entanto, também trouxe desafios, como as condições precárias do trabalho em algumas áreas e o aumento da desigualdade dentro dos países. O acesso à tecnologia melhorou significativamente a qualidade de vida, mas novos desafios, como a falta de privacidade e a segurança digital, emergiram.

2.6. Crise Financeira, Economia Digital e IV Revolução Industrial (2010-Atual)

  • Modelo Econômico: Economia Digital e Sustentabilidade – ESG
  • Qualidade dos Produtos: Com a ascensão da economia digital, a qualidade dos produtos tornou-se fortemente associada à inovação tecnológica, experiência do usuário e sustentabilidade. As empresas agora competem não só em preço e qualidade, mas também em termos de impacto ambiental e responsabilidade social. Surge a indústria 4.0 e com ela todo o potencial de uso das tecnologias, com destaque para a IA – Inteligência Artificial – que se torna foco principal das atenções.
  • Qualidade de Vida: A qualidade de vida continuou a melhorar em muitos aspectos, com avanços na saúde, tecnologia e conectividade. No entanto, a desigualdade persiste, e novos desafios, como as mudanças climáticas e o impacto da automação e da IA no emprego, exigem atenção. A sustentabilidade tornou-se uma prioridade, com um foco crescente em práticas que promovam um desenvolvimento econômico equilibrado e responsável nos aspectos éticos, sociais e ambientais, instrumentalizado pelo conjunto de critérios denominados de ESG – Environmental, Social, Governance -, despertando interesse crescente por parte dos consumidores e investidores.

Assim, concluímos que nos últimos 100 anos tanto a qualidade dos produtos quanto a qualidade de vida evoluíram significativamente, sendo impactadas pelas revoluções industriais e modelos econômicos vigentes. A evolução da qualidade dos produtos passou da produção em massa, inspeção e eficiência industrial para a inovação tecnológica e sustentabilidade. A qualidade de vida, por sua vez, melhorou substancialmente, especialmente em termos de saúde, educação e acesso a bens de consumo, embora os desafios da desigualdade e da sustentabilidade continuem sendo questões centrais para o futuro. O que esperar do futuro?

3-O Contexto do mundo atual

Como se mostra o mundo hoje? Que elementos-chave o caracterizam? Esses elementos juntos moldam o cenário global atual, refletindo uma era de rápidas mudanças e desafios mais complexos onde alguns exigem ruptura:

  1. Crises Climáticas: A mudança climática continua a causar desastres naturais, como incêndios florestais, inundações e ondas de calor. Há uma crescente pressão global para ações mais contundentes em relação à sustentabilidade e redução das emissões de gases de efeito estufa. Exigência de ações integradas e globais, cobrando ações reparadoras e de prevenção por parte dos países industrializados.
  2. Tensões Geopolíticas: Entre potencias globais, com guerras localizadas. A rivalidade entre Estados Unidos e China, influencia políticas econômicas e comerciais, com disputas comerciais e conflitos sobre tecnologia e segurança.
  3. Mudanças Tecnológicas: Avanços rápidos em inteligência artificial, automação, digitalização e tecnologias emergentes estão transformando indústrias e afetando a empregabilidade e o mercado de trabalho, além de levantarem questões éticas e de privacidade.
  4. Pandemia e Saúde Global: Embora a pandemia de COVID-19 tenha sido exterminada, o seu impacto em longo prazo na saúde pública, economia e sistemas de saúde continua a ser um desafio significativo, alem do risco de enfrentar novas crises sanitárias globais.
  5. Desigualdade Social e Econômica: A desigualdade econômica e social tem aumentado, com disparidades acentuadas entre ricos e pobres, e questões relacionadas à justiça social, inclusão e direitos humanos ganhando destaque.
  6. Mudanças Políticas: Em vários países, há uma ascensão de movimentos políticos populistas e nacionalistas, resultando em mudanças nas políticas internas e externas, além de desafios para a democracia e a estabilidade política.
  7. Crises Migratórias: Conflitos, perseguições e condições econômicas adversas continuam a gerar fluxos migratórios significativos, gerando debates sobre imigração, integração e políticas de fronteira.
  8. Energias Renováveis: Há um impulso crescente para a transição para fontes de energia renovável e redução da dependência de combustíveis fósseis, com investimentos em tecnologias verdes e políticas de energia limpa.
  9. Segurança Cibernética: Com a digitalização crescente, a segurança cibernética tornou-se uma preocupação crítica, com ataques de hackers e questões relacionadas à proteção de dados e privacidade se tornando cada vez mais relevantes.
  10. Transformações Culturais e Sociais: A globalização e a conectividade digital estão influenciando culturas e estilos de vida em todo o mundo, com mudanças nos padrões de comportamento, valores e interações sociais.
  11. Sustentabilidade: Crescente pressão por práticas ambientais e sociais responsáveis, integradas ao fator econômico. Reforço no papel de governança ativa, incluindo atuação nos aspectos éticos e transparência. O sistema ESG ganha maior espaço na mídia, junto aos mercados, consumidores e investidores,4. A “Nova Qualidade”

 

4-A Nova Qualidade

A qualidade que tem sido resiliente e adaptativa acompanhará estes novos cenários com maior protagonismo?

Sim, a qualidade tem um novo desafio, um novo papel, a que denominamos de “Nova Qualidade”. A denominação de nova não implica que seja desconhecida ou que não seja praticada em parte. A qualidade vem sendo vista já de algum tempo no sentido lato senso com atuação mais abrangente que o lado técnico do produto ou serviço. A própria ABQ  no dia 13 de novembro de 2014, divulgou um MANIFESTO à Sociedade Brasileira mencionando os conhecidos problemas de gestão que têm influenciado negativamente a utilização dos recursos e a qualidade dos produtos e serviços no Brasil, com impacto direto na vida de todos os cidadãos. Da mesma forma a ISO, com a emissão de suas diretivas mais recentemente, vem orientando as organizações a definirem o framework de seus sistemas de gestão para áreas ou temas relevantes fazendo uso de estrutura de tópicos consistente e aceita globalmente, ampliando o uso da boa gestão nestas áreas.

Entendemos que a “Nova Qualidade” deverá expandir e aprofundar a atuação da qualidade em áreas fundamentais (educação, saúde, infraestrutura, segurança, risco, inovação, ativos, antissuborno, etc.) e em processos-chave (qualidade no processo decisório, na definição de políticas públicas, gestão da tecnologia, gestão de recursos naturais, gestão da segurança cibernética etc.) a vida do ser humano, de forma a tornar a qualidade parte natural do dia a dia, consolidando-a como um valioso instrumento de busca da prosperidade e bem-estar social, orientado pelo desenvolvimento sustentável.

Fig. 2 – A Nova Qualidade (1)

 

Destacam-se três conceitos com base no PNUD. O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) adota conceitos amplos de bem-estar e prosperidade, que vão além das medidas econômicas tradicionais, como o Produto Interno Bruto (PIB).

 

Bem-estar: é um conceito multidimensional que engloba aspectos de saúde, educação, e padrões de vida. Ele se refere à capacidade dos indivíduos de viver uma vida longa e saudável, ter acesso ao conhecimento e participar ativamente da vida econômica, social e política. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), desenvolvido pelo PNUD, é uma medida que reflete essa visão, combinando indicadores de expectativa de vida, educação e renda.

Prosperidade: na visão do PNUD, prosperidade vai além do simples acúmulo de riqueza. Ela inclui o desenvolvimento humano sustentável, onde as pessoas têm a liberdade de realizar seu potencial, viver com dignidade e segurança, e contribuir para o bem-estar coletivo. Prosperidade, segundo o PNUD, está relacionada ao crescimento econômico que é inclusivo e sustentável, e que melhora a qualidade de vida das pessoas.

Desenvolvimento sustentável: refere-se ao desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem suas próprias necessidades. Esse conceito envolve a integração de três dimensões fundamentais:

  1. Econômica: Busca o crescimento econômico que seja inclusivo e equitativo, garantindo a criação de emprego e a redução da pobreza, sem prejudicar os recursos naturais.
  2. Social: Promove a equidade social, justiça e inclusão, garantindo que todos tenham acesso a recursos e oportunidades, bem como o respeito aos direitos humanos.
  3. Ambiental: Foca na preservação e proteção do meio ambiente, utilizando os recursos naturais de maneira sustentável para garantir a sua disponibilidade no futuro.

Destacamos que a “Nova Qualidade” tem compromisso com o bem-estar, a prosperidade e o desenvolvimento sustentável, podendo contribuir significativamente para estas áreas no Brasil, um país carente por qualidade, principalmente em políticas e gestão pública. O diferencial da “Nova Qualidade” está na evolução de uma relação de busca de satisfação das partes interessadas para um estado permanente de busca da prosperidade e do bem-estar, proporcionando uma visão holística e ampliada da qualidade que hoje conhecemos. A busca do bem-estar e da prosperidade, fundamentada no desenvolvimento sustentável passa a ser um resultado objetivo permanente.

 

5-Cenários e desafios para a “Nova Qualidade” num horizonte de 10 anos

 

A “Nova Qualidade” pode contribuir para uma economia mais robusta, sociedades mais justas, um meio ambiente mais sustentável, práticas éticas mais eficazes e um melhor bem-estar geral e prosperidade:

  1. Economia

Nos próximos 10 anos, a economia global provavelmente enfrentará uma série de desafios e oportunidades:

  • Tecnologia e Automação: A automação e a inteligência artificial continuarão a transformar a economia. Muitas tarefas repetitivas serão automatizadas, o que pode levar a uma ruptura no mercado de trabalho, mas também criará oportunidades em setores como tecnologia, saúde e serviços especializados. A qualidade pode desenvolver padrões e procedimentos de validação e testes de tecnologias, capacitando pessoas, integrando sistemas, reduzindo riscos e com melhor aproveitamento dos recursos.
  • Economia Verde: Espera-se um aumento significativo no investimento em energias renováveis e tecnologias sustentáveis. A transição para uma economia verde será impulsionada por políticas públicas e pela demanda crescente por soluções ecológicas. A qualidade pode ajudar no desenvolvimento de normas que garantam processos e produtos sustentáveis, certificações verdes, redução de desperdícios, melhoria de processos, design para sustentabilidade, cadeia de suprimentos sustentáveis, eficiência energética e redução de emissões, capacitação de pessoas em práticas sustentáveis, gestão de resíduos e economia circular, compliance com a legislação, engajamento com a comunidade.
  • Desigualdade Econômica: A desigualdade pode continuar a ser um problema, mas há uma crescente pressão para adotar políticas que promovam uma distribuição mais equitativa dos recursos. Programas de renda básica universal e outras formas de assistência social podem ganhar mais atenção. A qualidade das políticas de inclusão e igualdade de oportunidades, de educação para todos e acesso a sistemas de saúde podem contribuir para atenuar a desigualdade econômica.
  • Mudanças no Comércio Global: As relações comerciais podem ser afetadas por mudanças políticas e econômicas, incluindo possíveis tensões geopolíticas. O comércio global pode se diversificar, com novos centros econômicos emergindo em diferentes regiões. A qualidade pode preparar as organizações para melhoria de sua competitividade nestes mercados: oferecendo produtos de elevada qualidade, inovações, produzindo com custos competitivos, certificações, tecnologias de ponta, adotando práticas sustentáveis, dentre outras.
  • Aumento da Produtividade: A implementação de práticas de qualidade pode aumentar a eficiência e a produtividade em diversos setores. Técnicas como Lean e Six Sigma ajudam a aperfeiçoar processos, reduzir desperdícios e melhorar o desempenho, o que pode levar a uma economia mais competitiva e inovadora. O crescimento da qualidade na educação básica  no Brasil pode levar a aumento de produtividade pela inovação e melhoria na qualidade de execução dos serviços.
  • Melhoria da Competitividade: Empresas que focam na qualidade de seus produtos e serviços tendem a se destacar no mercado global. Qualidade superior pode levar a uma maior satisfação do cliente, fidelização e, consequentemente, ao crescimento econômico.
  • Investimentos em Inovação: Focar em qualidade também pode impulsionar a inovação. Empresas que investem em pesquisa e desenvolvimento para melhorar a qualidade de seus produtos e serviços podem abrir novas oportunidades e mercados.
  1. Aspectos Sociais

Mudanças sociais e culturais também estarão em evolução:

  • Educação e Habilidades: A educação será cada vez mais voltada para habilidades digitais, soft skills e resolução de problemas. O aprendizado ao longo da vida se tornará crucial para adaptar-se às mudanças rápidas no mercado de trabalho. Programas educacionais e de treinamento que enfatizam a qualidade podem preparar melhor os indivíduos para enfrentar as demandas do mercado de trabalho. O Brasil deverá evoluir na educação básica que é passaporte para formação de profissionais de qualidade, inovação e produtividade. Investir na gestão da qualidade do ensino básico é uma necessidade inadiável
  • Saúde e Segurança: A qualidade nos cuidados de saúde é essencial para garantir diagnósticos precisos e tratamentos eficazes. Melhoria contínua na qualidade dos serviços de saúde pode levar a melhores resultados para os pacientes e maior eficiência no sistema de saúde. A conscientização sobre saúde mental deve continuar a crescer, com mais recursos e apoio disponíveis para tratar e gerenciar questões de saúde mental.
  • Inclusão e Diversidade: A qualidade das políticas e práticas de inclusão e diversidade pode promover um ambiente mais justo e equitativo. Haverá um foco crescente em diversidade e inclusão em todos os setores. Movimentos sociais continuarão a lutar por igualdade racial, de gênero e de orientação sexual. Organizações que implementam estratégias de qualidade para a diversidade têm mais chances de criar ambientes de trabalho mais inclusivos e inovadores.
  1. Aspectos Ambientais

As questões ambientais serão uma prioridade crescente:

  • Sustentabilidade e Eficiência: Qualidade no projeto de processos produtivos e em produtos pode ser um meio de reduzir o impacto ambiental. Também a qualidade na gestão de resíduos e no uso de recursos naturais pode ajudar a diminuir a pegada ecológica das atividades humanas.
  • Inovação Ambiental: Investir em qualidade pode levar ao desenvolvimento de novas tecnologias e práticas mais sustentáveis. Produtos e processos de alta qualidade frequentemente incluem soluções inovadoras que ajudam a preservar o meio ambiente.
  • Conservação e Proteção: A conservação de ecossistemas e a proteção da biodiversidade se tornarão mais importantes, com esforços para preservar áreas naturais e espécies ameaçadas. Qualidade nas práticas de conservação e na gestão de projetos ambientais pode garantir que os esforços de proteção da biodiversidade sejam eficazes e sustentáveis.
  • Mudanças Climáticas: Talvez seja o maior desafio de todos. A luta contra as mudanças climáticas será uma prioridade global. Espera-se um aumento na adoção de políticas para reduzir emissões de carbono e promover a sustentabilidade. A qualidade pode dar sua contribuição, atuando em: criação de produtos e processos eficientes em consumo de energia, duráveis, no uso de tecnologias limpas, materiais recicláveis, uso de normas e regulamentos ambientais, introdução da sustentabilidade na cadeia de suprimento, redução de retrabalhos e desperdícios e na educação e conscientização das pessoas em práticas sustentáveis.
  • Gestão de Recursos Naturais: A gestão eficiente dos recursos naturais, como água e terras agrícolas, será crucial para enfrentar os desafios impostos pelo crescimento populacional e pelas mudanças climáticas. A qualidade pode promover a otimização do uso de recursos uma vez que gestão é sua especialidade.
  1. Aspectos Éticos

Questões éticas terão um papel central:

  • Privacidade e Segurança de Dados: A privacidade e a segurança dos dados pessoais serão questões éticas importantes, com debates sobre como equilibrar inovação tecnológica e proteção dos direitos individuais.
  • Inteligência Artificial e Automação: O uso de IA e automação levantará questões éticas sobre o impacto no emprego, a tomada de decisões e a responsabilidade pelas ações das máquinas.
  • Responsabilidade Corporativa: As empresas serão cada vez mais cobradas por sua responsabilidade social e ambiental. Expectativas de transparência e práticas éticas se tornarão mais comuns.
  • Transparência e Confiança: a qualidade na gestão ética e na transparência das práticas empresariais pode fortalecer a confiança entre empresas e consumidores. Isso inclui práticas justas de trabalho, proteção de dados e responsabilidade corporativa.
  • Responsabilidade Social: Qualidade nas iniciativas de responsabilidade social corporativa pode assegurar que as empresas realmente cumpram seus compromissos com a comunidade e o meio ambiente, e não se envolvam em “greenwashing” ou marketing superficial.
  1. Bem-Estar e Prosperidade

O bem-estar e a prosperidade estarão interligados com as tendências no cenário descrito

  • Qualidade de Vida: A qualidade de vida pode melhorar com avanços na saúde, tecnologia e acessibilidade, mas isso dependerá de uma distribuição mais equitativa dos benefícios à sociedade.
  • Qualidade na saúde no Brasil: a aplicação dos conceitos da qualidade e gestão poderá ajudar a elaboração de políticas públicas robustas de forma proativa: combate a desigualdade no acesso a saúde, promovendo acesso igualitário, combate a doenças crônicas, sustentabilidade financeira do SUS, preparação para crises sanitárias globais, incorporação de tecnologias e inovação na saúde, formação e valorização dos profissionais de saúde, educação e promoção da saúde e gestão integrada dos sistemas de saúde, com descentralização e coordenação das ações.
  • Saúde e Longevidade: Espera-se um aumento na longevidade e na qualidade dos cuidados de saúde, com avanços em tratamentos e tecnologias médicas, cada vez  mais complexas.
  • Comunidades Resilientes: Comunidades terão que se adaptar às mudanças rápidas e criar redes de apoio para enfrentar crises climáticas e desafios emergentes.
  • Qualidade na educação no Brasil: A aplicação dos conceitos de qualidade e gestão poderá servir para melhoria no sistema de avaliação e monitoramento, permitindo intervenções eficazes e responder adequadamente a solução de problemas estruturais na educação no Brasil:  capacitação e valorização dos professores, atualização curricular, recuperação de aprendizagem, uso de tecnologias educacionais, enfrentamento da evasão escolar e apoio a educação inclusiva, entre outros. Metas de desempenho            (IDEB, PISA) serão divulgadas pelos governos e cobradas pela sociedade, buscando melhor posicionar o ensino  com qualidade no país.
  1. Desafios para as organizações na “Nova Qualidade”

Ter sucesso neste cenário implica as organizações se tornarem mais resilientes, éticas e competitivas, ao mesmo tempo em que contribuem para um futuro mais sustentável e próspero. Principais competências organizacionais:

  1. Visão e propósitos claros: Têm um propósito motivador que oriente suas atividades e decisões e alinhe esforços. Priorizam estratégias que não apenas gerem lucro imediato, mas também assegurem o crescimento e a sobrevivência no longo prazo, considerando impactos ambientais, sociais e econômicos.
  2. Governança Sustentável: Implementem práticas de governança que promovam a transparência, a ética e a responsabilidade social e ambiental, envolvendo todos as Partes Interessadas.
  3. Inovação e Adaptabilidade: Estimulem a inovação contínua e a capacidade de adaptação ágil às mudanças no mercado, na legislação e nas demandas sociais, buscando soluções sustentáveis e criativas.
  4. Engajamento com as Partes Interessadas: Mantém um diálogo constante com todos as Partes Interessadas, incluindo funcionários, clientes, comunidades locais, investidores e governos, para alinhar as expectativas e colaborar em iniciativas de sustentabilidade e bem-estar.
  5. Cultura Organizacional Inclusiva: Fomentem uma cultura que valorize a diversidade, a inclusão e o bem-estar dos colaboradores, promovendo um ambiente de trabalho saudável e produtivo.
  6. Responsabilidade Ambiental: Adotem práticas que minimizem o impacto ambiental, como a redução de emissões de carbono, o uso eficiente de recursos naturais, e o gerenciamento adequado de resíduos.
  7. Responsabilidade Social: Contribuem para o desenvolvimento social, apoiando iniciativas que promovam a educação, a saúde, e a melhoria da qualidade de vida e bem-estar das comunidades em que atuam.
  8. Transparência e Comunicação: Sejam transparentes nas ações e nos resultados, comunicando de forma clara e acessível os esforços e os progressos relacionados à sustentabilidade e ao bem-estar.
  9. Investimento em Capital Humano: Valorizem e desenvolvam os talentos internos, oferecendo oportunidades de crescimento, treinamento contínuo e um ambiente de trabalho que promova o equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
  10. Parcerias Estratégicas: Colaborem com outras organizações, ONGs, governos e instituições acadêmicas para promover inovações e iniciativas conjuntas que impulsionem a sustentabilidade em maior escala.
  11. Capacidade de Resiliência: Demonstrem resiliência em face de adversidades e desafios. Isso inclui a capacidade de se recuperar de crises, aprender com falhas e manter o foco em objetivos de longo prazo.
  12. Uso Eficiente de Tecnologia: Adotem e integrem tecnologias emergentes para melhorar processos, aumentar a eficiência e fomentar a inovação. A capacidade de utilizar ferramentas digitais e sistemas avançados é essencial para acompanhar as mudanças rápidas.
  1. Competências para as lideranças na “Nova Qualidade”

Para ter sucesso na gestão da nova qualidade nos próximos 10 anos, em um cenário que envolve economia, aspectos sociais, ambientais, éticos, bem-estar e prosperidade, os líderes precisarão desenvolver um conjunto abrangente de competências. Essas competências ajudarão a alinhar a “Nova Qualidade” com as tendências e desafios emergentes.

  1. Visão de futuro e pensamento sistêmico: Capacidade de enxergar o panorama geral e o contexto, antecipar tendências e integrar diferentes aspectos sociais, econômicos e ambientais na estratégia organizacional em uma visão coerente de futuro.
  2. Liderança inclusiva e colaborativa: Habilidade de envolver diversas Partes Interessadas, valorizar a diversidade, a inclusão social e promover a colaboração para alcançar soluções mais equitativas e eficazes, assegurando que todas as partes sejam ouvidas e respeitadas.
  3. Inovação e adaptabilidade: Competência para fomentar a cultura de inovação, estimular a criatividade nas equipes e adaptar rapidamente a organização às mudanças tecnológicas, sociais e ambientais.
  4. Tomada de decisões éticas e responsáveis: Capacidade de tomar decisões que levem em conta o impacto econômico, social e ambiental, agindo de maneira ética, responsável e transparente.
  5. Gestão de recursos naturais: Habilidade de gerir de forma eficiente os recursos naturais, promovendo práticas sustentáveis que minimizem impactos negativos ao meio ambiente.
  6. Resiliência e gestão de crises: Competência para liderar em tempos de incerteza, manter a resiliência organizacional e gerenciar crises de maneira eficaz, garantindo a continuidade e o bem-estar no longo prazo.
  7. Desenvolvimento de Pessoas e Liderança de Equipes: Capacidade de identificar, desenvolver e empoderar pessoas, criando uma cultura de liderança compartilhada e colaborativa que impulsione o desenvolvimento sustentável.
  8. Empatia e Inteligência Emocional: Compreender e considerar o impacto das decisões de qualidade no bem-estar dos colaboradores e das comunidades. Garantir que as práticas de qualidade não apenas atendam às necessidades dos clientes, mas também promovam o bem-estar dos Colaboradores e das Partes Interessadas.
  9. Gestão da Mudança: Conduzir a organização através de processos de mudança com foco na “Nova Qualidade”, garantindo o entendimento e compreensão das parte envolvidas, buscando suas preparações para a nova cultura e seus engajamentos.
  10. Comunicação Eficaz e transparente: reforçar a importância de práticas responsáveis e influenciar a adoção de comportamentos alinhados com a visão de prosperidade e sustentabilidade, motivando o engajamento das pessoas e equipes. Promover um ambiente de confiança e colaboração.

Para se preparar para essas competências de liderança, é fundamental investir em educação continuada, buscar experiência prática, agir e buscar orientação de mentores e especialistas. O desenvolvimento de competências de liderança é um processo contínuo que envolve aprendizado, prática e reflexão. Ao adotar uma abordagem proativa e estratégica, você líder estará bem-posicionado para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades, que são muitas.

  1. Iniciando a mudança para a “Nova Qualidade”. Fazendo acontecer

A mudança da cultura só tem sentido quando a cultura atual não está alinhada com os objetivos e estratégias da instituição (governo, organização, comunidade etc.), podendo comprometer os resultados desejados, A mudança de cultura é um processo em várias etapas que envolve descongelar a cultura atual, introduzir novos valores e comportamentos, e “recongelar” esses novos elementos para torná-los permanentes. O papel das lideranças é crucial, assim como a comunicação clara, o envolvimento dos demais membros e o reforço contínuo de atuar na consolidação da nova cultura. A mudança cultural não ocorre da noite para o dia; é um processo que exige tempo, paciência e compromisso contínuo, com vontade de mudar.

Há alguns caminhos possíveis para iniciar a mudança de cultura

  1. Atuando nas regras e valores desencadeando a mudança pela substituição de novos valores.

Fig. 3 – Formação da cultura – Adaptado de Edgar Schein

 

Edgar Schein (apud Guaragna, 2007) explica o processo de formação cultural de uma organização mediante o fluxo da figura 3, no qual valores levam a comportamentos, criando soluções ou resultados que produzem pressupostos subjacentes (como as coisas são realmente). Estes, ao serem internalizados como verdade, saem do nível de consciência e se tornam soluções inquestionáveis. Os valores, assim como as normas e padrões, definem e orientam o funcionamento da organização, constituindo-se em elementos integradores à medida que são compartilhados pela maioria das pessoas na organização.

A substituição de valores é um processo lento, pois as pessoas precisam de tempo e de assimilação para entender o porquê da mudança de valores e o que a organização deseja com isso. O comportamento e as ações das pessoas na busca de soluções para os problemas da organização passam a ser coerentes com os novos valores e regras, evoluindo no ciclo da mudança, ao longo do tempo, formando uma nova cultura.

  1. Questionando as soluções dadas para os problemas e os pressupostos que se criaram ao longo do tempo, colocando a prova estas “verdades” que até então eram inquestionáveis. Os pressupostos e verdades são confrontados contra a realidade, ficando claro as suas inadequações, mostrando que é preciso mudar. Está criado o clima para iniciar a mudança desejada.
  2. Desalinhamento entre cultura e estratégia: você começa identificando como a cultural atual está desalinhada com as estratégias que a organização precisa implementar para ter sucesso. A mudança de cultura pode se dar através da construção de histórias que ilustrem a cultura desejada. Histórias autenticas pelo líder empresarial, protagonista, demonstrando uma ruptura clara com o passado e apontando um caminho para o futuro, tocando no cérebro e no coração das pessoas, provocando uma cascata de histórias contadas pelos demais líderes, reforçando a direção da mudança. Tudo isso irá ajudar a mudança de cultura. (Julio, Carlos et all, 2024).

Muito bem, mãos à obra!

 

*Eduardo V. C. Guaragna é Acadêmico Titular da ABQ

 

Referência Bibliográfica

ABQ – Manifesto a Sociedade Brasileira, 2014, disponível no site da ABQ.

ChatGPT.com, acessado em agosto de 2024.

GUARGNA, Eduardo V.C. Apresentação na abertura do VIII Seminário ABQ Qualidade Sec. XXI nov. 2021.

GUARAGNA, Eduardo V. C. Desmistificando o aprendizado Organizacional, Qualitymark, 2007, RJ,

JULIO, Carlos, AMORIM, Manoel, BARNEY, Jay. O segredo da mudança de cultura, Benvira, 2024.

MORGAN, Jacobs – O líder do futuro, Cultrix, 2022.

PINKER, Steven. O novo iluminismo, Cia das letras, 2018.

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PNUD – ACESSO W.W.W.UNDP.ORG

VOLTOLINI, Ricardo.  Conversa com líderes sustentáveis, Senac, 2011.

 

 

Este artigo expressa a opinião dos Autores e não de suas organizações.

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1 comentário sobre “Preparando-se para a Nova Qualidade

  1. Prezado Dr. Guaragna
    Excelente artigo que fazia falta para entendermos o passado e projetarmos o futuro da cultura da qualidade com muita consistência.
    Muito obrigado, será leitura obrigatória, e com discussões, para meus alunos.

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