A Qualidade do Brasil e do Mundo é tarefa de todos!

A Qualidade do Brasil e do Mundo é tarefa de todos

Por: Jairo Martins, Presidente ABQ

 

No início dos anos 80, o Mundo passava pelo processo de globalização da economia, impulsionado pelos chamados “Tigres Asiáticos” que, após certo período de estudo, análise e trabalho, na surdina, ganhavam espaço e espalhavam seus produtos pelo mundo como “fogo em palha”.

Diante dos desafios da época, espelhando-se no exemplo do Japão após a II Guerra Mundial, o ocidente se mobilizou, focando na Qualidade do Produto e do Serviço, segundo a definição de que “Qualidade é adequação ao uso”. Em um processo evolutivo, aderiu ao Controle de Qualidade, passando à Garantia da Qualidade e logo à Qualidade Total. Não há dúvidas de que os diversos Programas de Qualidade geraram, por duas a três décadas, bons resultados mundo afora. Mas, como os cenários e as responsabilidades mudam de forma acelerada, tais programas requerem sempre novas ações, estruturadas de forma sistêmica e com mais alcance.

Embora, apesar dos vários sinais de que a Qualidade deveria assumir contornos mais abrangentes, pois os Princípios da Sustentabilidade já eram por demais conhecidos, Governos, Empresas e a Sociedade, já que o ambiente era de competição em nível global, adotaram, sem analisar as relações de “Causa-e-Efeito”, uma perigosa visão de curto prazo. Privilegiamos o material em detrimento da vida, sem nos preocuparmos com a degradação da natureza e nem com o fosso social entre pobres e ricos. Sem questionar como os produtos e os serviços eram gerados, continuou-se, na maioria dos casos, a consumir recursos naturais como se fossem infinitos, a utilizar trabalho coercitivo e auferir lucros a qualquer custo, usando os mesmos processos da pré-história, “cortar”, “cavar”, “queimar” e “jogar”, ou seja, “business-as-usual”.

O resultado de tudo isso são as fragilidades, até então escondidas, mascaradas ou invisíveis, que estamos vivenciando, que se transformaram em obviedades: um planeta exaurido, oceanos poluídos, desmatamento crescente, redução da biodiversidade, aquecimento global, vida e sustento dos povos correndo sérios riscos, aumento das desigualdades, entre outros. Enfim, muitos problemas escancarados que o tempo já havia sinalizado e ignoramos, todos, sem exceção. Dessa forma, Governos, Empresas e Sociedade, com uma visão puramente vaidosa, imediatista e mercantilista, do “lucro a qualquer custo”, sem o viés coletivo e humanista, fecharam os olhos para todas as externalidades negativas geradas. Prova disso é a enxurrada de “Relatórios de Sustentabilidade”, contratados de consultorias, que são publicados no encerramento dos anos fiscais, e que sequer foram lidos pelos Políticos, CEOs e Lideranças da Sociedade, como se o mundo estivesse em ordem.

O fato é que estamos diante da necessidade de nos reinventarmos, revolucionando o sentido de tudo o que fizemos, para que a excelência se traduza em prosperidade coletiva e o crescimento não vá além das fronteiras da sustentabilidade e da ética. Perceber, refletir, inovar, agir e mudar são os desafios mais urgentes dos Governos, das Organizações e da Sociedade.

Precisamos de uma Qualidade Ampla, de contornos holísticos mais abrangentes e, para isso, é imperativo incorporarmos imediatamente novos conceitos e formas de ser, ter, estar, viver, fazer, trabalhar, consumir e conviver, pois como estávamos fazendo já não nos serve mais.

Antes da Qualidade do Produto e do Serviço, temos que priorizar a nossa Qualidade Pessoal, suportada pelo Tripé da Sustentabilidade – Ambiental, Social e Econômico -, que deve estar equilibrado – um não pode compensar o outro-, executado com Ética e Boa Governança, com o comprometimento de Todos.

No entanto, ainda observamos uma realidade marcada por ações superficiais, cosméticas e, muitas vezes, fantasiosas. Relatórios de sustentabilidade são publicados anualmente, mas pouco refletem mudanças estruturais. Os resultados recentes da COP 29 e do G20 ilustram essa paralisia: debates extensos, acordos vagos e a persistente barreira do poder econômico impedindo avanços concretos.

Desastres ambientais se acumulam, vidas são perdidas, e as soluções são adiadas indefinidamente. A esperança de que algo mude às vezes parece depender mais de oratórias do que de compromissos reais.

Mesmo assim, há espaço para agir. Governos, empresas e sociedade civil precisam abandonar a lógica do curto prazo e do lucro imediato e adotar uma postura mais responsável e coerente. Precisamos de políticas públicas que incentivem práticas sustentáveis, de empresas que integrem a sustentabilidade à sua estratégia central e de uma sociedade mais consciente e ativa.

A ABQ – Academia Brasileira da Qualidade – tem cumprido seu papel ao difundir conhecimento, promover debates e mobilizar organizações, governos e sociedade civil para um mundo mais justo, ético e sustentável. Com foco na cooperação e no compartilhamento de boas práticas, a ABQ tem sido um farol de esperança e liderança.

Não podemos mais esperar que soluções venham exclusivamente de cúpulas globais ou de grandes líderes. A responsabilidade é compartilhada e intransferível. Governos devem criar regulações efetivas, empresas precisam agir com transparência e compromisso, e nós, como indivíduos, devemos adotar hábitos mais sustentáveis e cobrar mudanças.

A Qualidade do Brasil e do Mundo é, de fato, tarefa de todos. Cada escolha conta, cada ação faz diferença. O tempo de esperar acabou. É hora de agir.

Este artigo expressa a opinião dos Autores e não de suas organizações.

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1 comentário sobre “A Qualidade do Brasil e do Mundo é tarefa de todos!

  1. Excelente artigo Jairo. Parabéns e obrigado.
    Mas o problema permanece. Como sensibilizar e motivar todos para o que precisa ser feito.
    Ações na educação são um começo.

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