O líder inspirador reforça a autoestima do time, permitindo que os funcionários se superem e enfrentem com coragem as adversidades
Jairo Martins da Silva
Os níveis de autoestima e de autoconfiança de um indivíduo ou de uma equipe ao liderar uma organização são determinantes para a sua capacidade de superar os momentos de crise que o país enfrenta. Quando elevados, esses estados mentais podem servir de portas para novas oportunidades; quando baixos, suas consequências podem ser avassaladoras para o clima organizacional e para o futuro da empresa. Tempo de crise é tempo de arrumar a casa e preparar-se para uma retomada futura. Ações intempestivas, sem análise, estimuladas pelo clima de pessimismo reinante, levam a um círculo vicioso de degradação contínua.
Nas micro e pequenas empresas, o papel de zelar pelos colaboradores e de servir de exemplo de determinação nos momentos de crise é normalmente exercido por um único indivíduo, ou um pequeno grupo de pessoas. Portanto, o dono do negócio deve manifestar as crenças e os valores por ele praticados como pessoa jurídica, assim como o faz em sua vida privada, sendo responsável pelos níveis de autoestima dos colaboradores. Ou seja, é razoável imaginar que o estado de ânimo observado no ambiente organizacional seja um reflexo de como sua liderança vive, interpreta e assimila novas realidades; de como seus pensamentos e suas sensações de insegurança, ameaças e temores impactam seu senso de satisfação e sua crença na capacidade para lidar com o cenário externo.
Seja a crise de caráter político, social ou ambiental, a falta de ética nas relações, a restrição de recursos, a desigualdade social, a violência, a guerra e a usurpação são fatos que bombardeiam o cotidiano emocional das pessoas. Consequentemente, eles precisam ser percebidos e considerados em qualquer processo de superação pessoal, buscando o engajamento dos colaboradores no desafio que o negócio está enfrentando. As sensações são diversas: incapacidade, indignação, arrependimento, culpa, ressentimento, medo. Se elas não forem bem administradas, afetam a capacidade de um indivíduo avaliar e lidar com a realidade, bem como perceber as mudanças que são necessárias para enfrentá-la.
Há colaboradores que negam, procrastinam, culpam outros, consciente ou inconscientemente. Mas a maior dificuldade normalmente reside justamente em reconhecer as crenças limitantes, os estados de espírito desfavoráveis, os desalinhamentos entre o sentir e o pensar, e entre o pensar e o agir. Essa percepção pode revelar ilusões, a necessidade de ruptura de comportamentos e práticas relativos a coisas ou pessoas.
Nem sempre é um processo fácil, mas, se for considerado, resulta em uma nova configuração do indivíduo, do negócio ou de seus integrantes, em um modelo de atuação compatível com a nova realidade instaurada. Quanto mais prontamente alicerçada por informações confiáveis e estados de espírito favoráveis, mais rápida será a superação.
Dessa forma, os líderes devem refletir se suas atitudes reforçam e remetem as partes interessadas aos estados de autoestima e de autoconfiança favoráveis ao enfrentamento de adversidades, suportadas por resiliência, dedicação e responsabilidade. Esse processo envolve considerar tanto o quanto a liderança é inspiradora, até os propósitos da empresa, que devem gerar valor à sociedade e ao meio ambiente. Assim, a proposição e a implementação de estratégias poderão fazer do limão uma limonada, permitindo que a equipe supere-se e abrace o desafio.
Jairo Martins da Silva é superintendente geral da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ) e membro da Academia Brasileira da Qualidade (ABQ).