Itiro Iida
A ergonomia surgiu em 1950, como subproduto dos grandes esforços científicos e tecnológicos empreendidos durante a II Guerra Mundial. Nesses 65 anos, tem prestado relevantes serviços à redução dos sofrimentos humanos no trabalho e à melhoria da produtividade. Contribuiu para a redução das condições insatisfatórias desse trabalho, que causam erros, estresses e acidentes. Com isso, promoveu melhorias da eficiência, qualidade e produtividade.
As organizações produtivas e a sociedade em geral passaram por profundas transformações na segunda metade do século XX, devido, principalmente ao avanço da informática e das comunicações. Os trabalhadores, mais instruídos e informados, não se sujeitam a condições extremamente monótonas, fatigantes e perigosas. Também emergiram novos e poderosos competidores no cenário do comércio mundial, eliciando diversos mecanismos de ajustes.
A ergonomia também passou por diversas mudanças, incorporando novos conhecimentos de outras áreas afins. Estas podem ser resumidas em alguns pontos.
Da ergonomia física para a cognitiva. O trabalho, que dependia principalmente das forças e habilidades físicas, evoluiu para o monitoramento e controle dos sistemas informatizados. Com isso, as tarefas musculares foram substituídas por aquelas mentais.
Hoje, sistemas automatizados e controlados remotamente, podem substituir dezenas ou centenas de trabalhadores braçais. Isso ocorreu em quase todos os setores, inclusive na agricultura e na construção civil, tradicionais empregadores de mão de obra. Ao mesmo tempo, isso possibilitou o ingresso de mulheres em setores antigamente dominados pelos homens.
Do taylorismo para grupos semiautônomos. As extensas linhas de produção com tarefas altamente repetitivas foram substituídas por grupos menores, em células de produção, onde os trabalhadores multifuncionais executam tarefas mais integradas.
Os rígidos controles de tempos e métodos, e da qualidade, foram abandonados e substituídos por medidas mais globais dos resultados, para que os trabalhadores sintam-se mais responsáveis pela produção e pela qualidade. Essa transformação começou a ocorrer na década de 1970, na indústria automobilística, mas depois alastrou-se para outros setores.
Do segundo para o terceiro setor. A ergonomia começou a ocupar-se, cada vez mais, dos problemas sociais, extrafábricas.
Assim, tem se preocupado cada vez mais com o setor de serviços, como o comércio, educação, saúde, lazer e transportes. Neste último tópico, tem realizado estudos sobre acidentes rodoviários, propondo medidas corretivas, tanto pela melhoria dos veículos, como pelo treinamento dos motoristas e organização do seu trabalho.
Da população média para segmentos específicos. Os problemas ergonômicos geralmente se referiam à média populacional, em geral, homens entre 20 a 50 anos de idade. Hoje, há estudos mais específicos sobre certas minorias populacionais, como aqueles idosos, obesos e portadores de deficiências. Com isso, tem contribuído para melhorar a usabilidade dos produtos, sistemas e serviços, difundindo o conceito do projeto universal – aquele que serve a todos, indistintamente, sem requerer treinamentos específicos ou habilidades especiais.
Da micro para a macroergonomia. A microergonomia realizava estudos sobre o sistema humano-máquina, focalizando o posto de trabalho. Na década de 1990 essa visão foi gradativamente alargada, passando a focalizar o sistema produtivo como um todo.
Dessa forma, evoluiu dos problemas táticos, no chão da fábrica, para os problemas estratégicos, tratados pela administração superior. A abordagem microergonômica dos trabalhadores individuais produzia melhorias de 10 a 25%. Naquela macroergonômica essas melhorias podem chegar a 60 a 90%. Além disso, a grande vantagem da abordagem macroergonômica é a possibilidade de trabalhar preventivamente ao aparecimento dos problemas, enquanto a microergonomia trabalhava quase sempre à posteriori, fazendo as correções dos mesmos.
Dessa forma, a ergonomia dispõe, hoje, de conhecimentos e instrumentos que podem ser muito úteis na melhoria das condições de trabalho e aumentos da produtividade e da qualidade. Se forem adequadamente difundidos e aplicados, o seu custo/benefício pode ser amplamente favorável.
Itiro Iida é engenheiro mecânico-produção pela EPUSP, doutor em engenharia e membro da Academia Brasileira da Qualidade (ABQ).