B.V.Dagnino*
Leite, azeite de oliva, mel, açafrão e peixe são os alimentos mais falsificados do Mundo, segundo a USP – United States Pharmacopeial Convention, conforme noticiado pera revista ISO Focus, abril 20171. Os pseudo-azeites extra virgens têm sido identificados, inclusive no Brasil.
Azeite de oliva – um dos mais falsificados alimentos (USPC)
As propriedades nutritivas do leite longa vida têm sido postas em dúvida e a falsificação do mel também é fato conhecido.
O mel também está na lista dos mais falsificados alimentos (USPC)
Autoridades sanitárias europeias vetaram a exportação de peixe brasileiro de empresas de Santa Catarina, o que é sintomático (faz tempo amigo me contou que, visitando indústria do ramo no Estado, constatou como carne de baleia ou tubarão virava de siri no rótulo).
No Reino Unido, supostamente um país sério e organizado, dois escândalos recentes viraram manchete: repórteres conseguem emprego na maior indústria de frango congelado, 2 Sisters, e descobrem mercadoria com prazo de validade vencido tendo etiquetas trocadas, animais sendo apanhados no chão da fábrica e recolocados na linha de produção etc. A fábrica foi fechada, cumpriu exigências e passou a contar permanentemente com fiscal em suas instalações. Estranho como pareça, o empregado fotografado trocando etiquetas de validade foi demitido2!.
“Frango recolhido do chão, lavado em água inapropriada… depois vendido para o seu supermercado”. Manchete do jornal britânico sobre falta de higiene em fábrica da 2 Sisters na Inglaterra
Pouco antes do Natal os clientes que compraram seu peru também na maior rede de mercados britânica, Tesco, constatam que o mesmo está estragado3.
Noutro país também supostamente sério e organizado, a França, a TV5 exibe documentário comprovando que fabricantes de pizzas prontas baratas conseguem usar queijo sintético, que não é produzido com leite. Pizzaiolos são convidados a testá-las e identificam com facilidade a falsificação.
O New York Times noticia que o peixe anunciado nos menus dos melhores restaurantes e mercados nem sempre é o que realmente se come. 1/3 das amostras testadas evidenciaram esse fato, sendo os bares de sushi os campeões, seguidos pelos restaurantes4.
Livro sobre alimentos fraudados nos EUA
Idêntica constatação foi feita na Grã-Bretanha, conforme noticiou o The Guardian5 , que também publicou matéria sobre verminose em consumidores frequentes de sushi.
No Brasil, lê-se com frequência notícias sobre blitzen das autoridades sanitárias em famosos estabelecimentos apreendendo alimentos com prazo de validade vencido ou armazenados inadequadamente.
O uso de agrotóxicos ou defensivos agrícolas (dependendo do lado em que se encontra o redator ou missivista) em nosso País é sempre objeto de controvérsias.
Corpos ou animais estranhos encontrados em alimentos de vez em quando também são objeto do noticiário (o Autor se lembra de fato que quase vira trauma infantil – uma barata no segundo copo do seu guaraná Brahma).
A campanha mundial contra o excesso de sal, açúcar e gordura nos alimentos industrializados ainda é muito tímida por aqui, apesar do acordo de cavalheiros entre o Governo e a indústria de alimentos. A legislação sobre rotulagem de advertência em vigor no Chile que o Uruguai pretende implantar está sofrendo forte pressão contrária da indústria. No Brasil está sendo tentada a implementação de prática similar à chilena.
A cruzada contra o fast food gerou o movimento slow food na Itália, mas ainda não pegou no Brasil. Em outros países como nos EUA, o McDonalds e outras empresas do ramo se esforçam para convencer a população de que estão tornando seus produtos mais saudáveis.
Enquanto isso, fabricantes de refrigerantes como a Coca-Cola, com a contínua redução do seu consumo, adquirem no Brasil indústrias de suco, mate etc., e nos EUA adotam embalagens menores, reconhecendo as alterações no mercado pela maior conscientização da população6 . Aí então entra a polêmica sobre os adoçantes artificiais, nem sempre muito saudáveis. Daí pode se falar também dos males dos isotônicos consumidos indiscriminadamente, mas essa seria outra história.
1 Disponível em https://www.iso.org/files/live/sites/isoorg/files/news/magazine/ISOfocus%20(2013-NOW)/en/2017/ISOfocus_121/ISOfocus_121_EN.pdf
3 https://www.thesun.co.uk/news/5212950/tesco-customers-christmas-turkey-rotten-rancid/
4 http://www.nytimes.com/2013/02/21/us/survey-finds-that-fish-are-often-not-what-label-says.html
6 http://epocanegocios.globo.com/Empresa/noticia/2016/06/por-que-coca-cola-comprou-ades.html e http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,uma-nova-e-inteligente-estrategia-da-coca-cola,10000016645
*B.V.Dagnino é Diretor Presidente da ABQ – Academia Brasileira da Qualidade.