Recuperação do Brasil Pós COVID-19
Acompanhe a sua entrevista, realizada a distancia, no final de junho.
Como você percebe os impactos e consequências da COVID-19?
A pandemia da COVID-19 é uma das muitas que já tivemos no Brasil. Parece que os vírus se manifestam a intervalos, talvez com o objetivo de mostrar nossas fraquezas e dependências, oferecendo oportunidades para melhoria.
A COVID 19 nos trouxe uma grande devastação, com a morte de milhares de pessoas, a infestação de outros milhares e danos profundos na economia dos países e das pessoas individualmente. Os efeitos dessa devastação serão sentidos em muitos anos a frente. Saúde e economia foram os principais impactos.
Entretanto, a presença do vírus nos proporcionou alguns impactos positivos. Em função da necessidade do confinamento, pais e filhos se aproximaram mostrando a importância da família. Casais tiveram a oportunidade de conversar sobre a sua relação, o que não ocorria antes. A necessidade de apoio mútuo foi despertada na sociedade motivando pessoas e empresas em ações para as pessoas. Com certeza, as pessoas cresceram e esse crescimento e seus benefícios serão sentidos por todos pelo resto de suas vidas.
O que fazer no curto prazo, afora as medidas já tomadas, para atenuar o impacto econômico, empresarial e social?
A influência do vírus só será neutralizada quando tivermos uma vacina eficaz.
As medidas de isolamento social, utilização de máscaras, higiene e outras foram absolutamente necessárias para conter a contaminação pelas pessoas e permitir o aparelhamento da área da saúde no atendimento às pessoas infectadas.
Ações do Governo com apoio financeiro às pessoas de baixa renda e que perderam sua fonte de renda com o isolamento, apoio às empresas, principalmente aos pequenos empresários, foram importantes na mitigação dos impactos econômicos. Também louvável a atuação de empresas privadas disponibilizando recursos para os hospitais de campanha e a compra de equipamentos, medicamentos e testes para atender as pessoas infectadas.
A disponibilidade de uma vacina que assegure a imunização das pessoas não deve ocorrer, numa visão muito otimista, antes do final desse ano. Não podemos manter empresas e pessoas isoladas e sem produzir. Se agirmos assim os danos na economia serão maiores que aqueles já causados pela pandemia. Para minimizar os impactos, é necessário que as cidades, de forma ordenada e planejada, reduzam o isolamento permitindo, dessa forma, que a economia volte a circular. Isso já está sendo feito e, como esperado, os indicadores de infestação das pessoas mostram aumentos na contaminação. Até que tenhamos condição de imunizar todas as pessoas, essa é a solução possível. Ou seja, temos que conviver com a presença do vírus sem descartar o trabalho e a vida produtiva das pessoas e da sociedade. Temos que buscar um equilíbrio.
Como a qualidade e a gestão podem ajudar para saída da crise?
Antes do início da pandemia já sabíamos que nossas empresas precisavam urgentemente de melhorias na sua gestão empresarial. É sabido que a nossa produtividade, o nosso desperdício, a dificuldade de realizar negócios no Brasil, a burocracia e outros fatores, precisam ser encarados com seriedade e corrigidos.
Assim, um trabalho bem estruturado junto às organizações, tanto privadas quanto públicas, para a melhoria da sua gestão, é um primeiro passo a ser adotado na saída da crise ou mesmo antes.
Não estamos falando de inovações e nem de técnicas sofisticas de gestão. Precisamos definir com clareza os objetivos e a visão de futuro de cada empresa e trabalhar os seus processos, garantindo qualidade, produtividade e competitividade a cada empresa. Dessa forma asseguramos a satisfação das necessidades e expectativas das suas partes interessadas, a saber, o empresário, seus clientes, seus empregados, seus fornecedores e a sociedade que ela, a empresa, influencia.
Sempre dizemos que o Brasil é o país do futuro: Isso pode acontecer algum dia? Quando? Como será possível?
O Brasil é o país do futuro. Suas dimensões geográficas, seu clima tropical, seus grandes rios e florestas, sua vocação natural para a agricultura e muitas outras vantagens nos garantem a condição de país do futuro. E por que ainda não somos o país do futuro? A resposta está em nós, os brasileiros. Nunca trabalhamos de forma eficaz para transformar o Brasil no país do futuro e, também, num país bom para se viver. Tudo o que temos presenciado, principalmente nos últimos trinta anos, demonstra com clareza porque ainda não somos o país do futuro.
Pode acontecer algum dia sermos o país do futuro? Sim, sem dúvida. Quando? Infelizmente precisamos de muitos anos, uma vez que para isso, teremos que mudar radicalmente a cultura dos brasileiros. Amor à pátria, respeito mútuo entre as pessoas, respeito às leis e às autoridades constituídas, total repúdio à corrupção, igualdade entre as pessoas são alguns dos fatores que precisam ser mudados na nossa cultura. Será muito difícil, se não impossível, fazer as mudanças na geração atual. Temos que trabalhar com as crianças, para formar uma nova cultura, daí a necessidade de muitos anos para realizar esse trabalho.
Educação e saúde são fundamentais para essa mudança de cultura. Infelizmente são duas áreas muito desprezadas pelos atuais dirigentes do Brasil. Precisamos de uma grade curricular que eduque as crianças para que conheçam o seu país, orgulhem-se dele, respeitem a família e a sociedade e trabalhem para o engrandecimento do Brasil. Dessa forma seremos o país do futuro, com certeza.
O Sistema Único de Saúde, o nosso SUS, é um dos melhores sistemas de saúde existentes no mundo. Apenas precisamos gerenciá-lo corretamente, o que nunca fizemos.
Que conselhos você daria a um jovem que está trabalhando e passa a viver toda essa incerteza?
Na pergunta anterior falamos das crianças para a mudança na nossa cultura. Na linha do tempo, o jovem é o seguinte às crianças.
Para esse jovem que está trabalhando, ou começando a trabalhar, recomendamos o seguinte:
Acredite no Brasil, apesar dos pesares. Busque aumentar sempre seus conhecimentos, continuando seus estudos com muita leitura e cursos de aperfeiçoamento. No trabalho, faça sempre o melhor, ouça com atenção o seu superior e sempre que possível apoie os colegas de trabalho. Conheça e observe as normas da sua empresa e as leis do Brasil. Cumpra-as, integralmente. Não aceite propostas que visem a corrupção de pessoas ou de empresas. Seja honesto, sempre. Acredite no Brasil, tome conhecimento, mas não compactue com as muitas coisas erradas que acontecem no Brasil hoje.
Faça a sua parte, com entusiasmo e retidão. Assim contribuirá para a nova cultura do Brasil. Boa sorte.
Acadêmico Caio Márcio Becker Soares é Engenheiro eletricista pela Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais, graduação em 1968. Quinze anos de trabalho na RCA Eletrônica e passagens pela Sharp, Semp Toshiba e SID Microeletrônica. Diretor Executivo do Instituto Qualidade e Produtividade Minas até 2017. Membro do Conselho de Produtividade da ACMinas e do Conselho Consultivo da UBQ.