Jairo Martins
O envelhecimento da população brasileira é a pauta da vez e tem sido um ponto de atenção de diversas esferas, pois acarreta impactos sociais e econômicos no país. De um lado, temos o aumento da expectativa de vida, em decorrência das melhores condições de vida e dos avanços da medicina e da gerontologia.
Do outro, temos os programas de previdência social em alerta, com a diminuição da força de trabalho e a queda de fertilidade. O fato é que, em um futuro próximo, o número de pessoas com mais de 60 anos duplicará no mundo. As empresas precisam estar atentas e preparadas para esse novo cenário.
Acredita-se que, com o avanço da tecnologia e a adoção de estilos de vida mais saudáveis, as pessoas mais velhas, para solucionar o problema previdenciário, terão que estender sua carreira profissional por mais tempo. Contudo, uma pesquisa realizada pela PwC em 2015 com executivos aponta que “os profissionais maduros ainda não são vistos como uma alternativa para lidar com a escassez de talentos qualificados”.
Essa “força de trabalho” poderia ser muito melhor aproveitada pelas companhias, tendo em vista que os mais “velhos” têm algo que os jovens não possuem: o conhecimento e a experiência de um talento maduro, que podem ser importantíssimos, inclusive, em um período de retomada do crescimento do país pós-crise. O conhecimento e a informação são tão importantes para uma empresa que são alicerces, por exemplo, em um dos oito Critérios do Modelo de Excelência da Gestão (MEG) da Fundação Nacional da Qualidade.
Conhecimento útil é conhecimento compartilhado. Aquele que gera aprendizado e garante a sustentabilidade do negócio. E é exatamente no talento maduro que está concentrado todo esse potencial.
Prova disso é que, para 94% das empresas entrevistadas na pesquisa da PwC, o lado mais positivo da contratação de tais profissionais é a transmissão de experiência e conhecimentos úteis para os mais jovens. Mas é necessário que as empresas criem ações para que o principal ativo desses profissionais seja realmente aproveitado – como a criação de programas pré-aposentadoria que facilitem a transferência de know-how.
Para que esse público tenha espaço no mercado, é preciso adotar algumas práticas, como o desenvolvimento e treinamento com foco nessa faixa etária. Além disso, é necessário pensar em locais de trabalho mais favoráveis, que atendam às suas necessidades e seus interesses específicos.
Essa visão mais clara sobre o papel dos “mais velhos” na força de trabalho cria novas oportunidades de negócios, como o desenvolvimento de produtos e serviços com foco nesses consumidores. Eu, com meus 65 anos e ativo no mercado, espero viver e contribuir para a construção de um Brasil mais inclusivo, que saiba aproveitar todo o talento disponível em todas as esferas da sociedade. O conhecimento é um ativo que não pode ser desperdiçado.
Jairo Martins é presidente executivo da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ) e membro da Academia Brasileira da Qualidade (ABQ).