O explícito e o tácito

Arek Socha / Pixabay

Vicente Falconi

 

“Diga-me e eu esquecerei. Mostre-me e eu lembrarei, Envolva-me e eu entenderei.” Confúcio (551-479 A.C.)

 

Num certo período de minha vida (1975-81) trabalhei na Cia. Aços Especiais Itabira. Naquela época a empresa utilizava a APO (Administração por Objetivos), que era uma concepção de trabalho por metas muito moderna (foi criada por Peter Drucker e levada ao Japão em 1970).

Foi o sistema antecessor do Gerenciamento pelas Diretrizes que foi criado no Japão exatamente para compensar os pontos fracos da APO. Lembro-me que uma das metas do Diretor de RH era “dar X treinamentos para o pessoal de chefia”. Era treinamento que não acabava mais…

Eu era muito verde nas coisas do gerenciamento, mas um fato já me incomodava: era nítido que a maior parte daquele treinamento era inócua. Após os cursos, voltávamos ao trabalho e as coisas permaneciam exatamente como eram antes. Nada mudava. O descrédito chegou a tal ponto que para se levar os executivos ou técnicos da empresa a um treinamento era preciso a intervenção direta do Diretor de RH ou do Presidente.

Parece que este foi um fenômeno generalizado, pois até hoje assisto à certa resistência a treinamentos dentro das empresas. Hoje, mais experiente nas coisas do gerenciamento, vejo que nos faltava consciência das diferenças entre Conhecimento Explicito e Conhecimento Tácito.

O Conhecimento Explícito é aquele que pode ser expresso em palavras e/ou números e pode ser facilmente comunicado às pessoas. As pessoas que assim aprendem podem ou não ter a iniciativa de assumir o risco de aplicar estes conhecimentos. Isto irá depender do tipo de pessoa, suas limitações pessoais, as limitações da própria empresa ou das dificuldades inerentes ao processo em que este conhecimento será utilizado. Minha experiência de vida mostrou que a inércia em se aplicar um conhecimento explícito na prática é enorme. É um abismo a separação entre o “teórico” e o prático.

O Conhecimento Tácito é pessoal e difícil de ser formalizado ou expresso sob a forma de palavras ou números e, portanto, praticamente impossível de ser comunicado a outros. A origem deste conhecimento é a experiência e a ação e depende muito dos ideais, valores e emoções de cada um. Lembro-me de 1993 quando tivemos um de nossos gigantescos Seminários de Desdobramento da Qualidade no Hotel Transamérica em São Paulo. Naquele ano convidamos como palestrante principal o Sr. Takahashi, membro do Conselho da Toyota no Japão. Ele fez questão de trazer junto consigo um jovem funcionário da Toyota que frequentou todos os eventos, inclusive nosso almoço solene, e nada falou o tempo todo. Hoje entendo que patrocinamos a formação de um futuro executivo da Toyota do Japão.

Aquele jovem estava aprendendo, na prática, através de seus sentidos, como deve se comportar um Diretor de empresa num evento daquela natureza. O Conhecimento Tácito pode, portanto, ser transmitido pelo exemplo, sem palavras, como nós fazemos todos os dias, dentro de casa, com nossos filhos.

Resumindo: o Conhecimento Explícito é a descrição de como se anda de bicicleta, a pressão a ser utilizada nos pneus, os cuidados na rua, as leis do transito, onde é o freio, etc. O Conhecimento Tácito é sair andando, cair, levantar e, por meio dos sentidos, aprender.

O “Centro de Pesquisas” em Ciências Gerenciais é o interior das empresas! Nós enxergamos nossos clientes como uma grande oportunidade de aprendizado e crescimento para cada um de nós. Estamos o tempo todo lendo, estudando, ensinando e aprendendo para que possamos aumentar o nosso ativo de Conhecimento Explícito.

No entanto, só somos verdadeiras autoridades em nosso ofício por meio da prática dentro de nossos clientes. Pela aquisição do Conhecimento Tácito no dia a dia e pela prática do Conhecimento Explícito, criamos conhecimento novo e nos esforçamos para torná-lo explícito através de novos livros, publicações, cursos, consultorias, etc.

Já vejo isto acontecer e sinto profunda alegria e esperança. Estamos construindo uma máquina fantástica para o Brasil. O futuro dirá.

 

Vicente Falconi é sócio fundador e presidente do Conselho de Administração da Falconi Consultores de Resultado, e membro da Academia Brasileira da Qualidade (ABQ).

Este artigo expressa a opinião dos Autores e não de suas organizações.

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