Por: Caio Becker
Os indicadores universais de produtividade colocam o Brasil numa posição desconfortável. Já disseram que um americano faz sozinho o trabalho que é feito por quatro brasileiros. E outras citações similares, o que nos deixa tristes e apreensivos com o problema da produtividade no Brasil.
Muito se fala e se escreve sobre a questão da produtividade. São inúmeras lives, artigos, livros sobre o tema, teses de mestrado e doutorado. Mas o problema da produtividade persiste ao longo dos anos, ainda não encontramos a solução.
A questão da produtividade já foi estudada na Academia Brasileira da Qualidade, a ABQ. Em 2020 um Grupo de Trabalho se debruçou sobre o problema e apontou a educação como uma das causas básicas para a nossa baixa produtividade. Foram conduzidas muitas reuniões com acadêmicos especialistas na educação e pessoas de fora da academia que analisaram a educação sob vários ângulos. Infelizmente não foi apresentada uma proposta para uma solução prática. O autor desse artigo, que não é da área da educação, publicou no site da ABQ um pequeno artigo intitulado “ A Educação no Brasil – a visão de quem não é da área”. Nesse artigo, escrito por uma pessoa que não é um especialista em educação, são apresentadas, modestamente, algumas propostas para a educação que poderiam contribuir para a melhoria da nossa produtividade. Entretanto, qualquer ação na educação terá resultados e prazos muito longos, e a melhoria da nossa produtividade demanda resultados em prazos mais curtos.
Para conseguir resultados em prazos mais curtos, é preciso lembrar que a produtividade está diretamente correlacionada com a eficiência e a eficácia. Produtividade significa fazer a coisa certa (eficácia) com o melhor ou o ótimo uso dos recursos (eficiência). Segundo o acadêmico Eduardo Vieira da Costa Guaragna, Presidente da ABQ quando foram conduzidos os estudos do Grupo de Trabalho da Produtividade, uma gestão competente está em “Fazer certo de forma eficiente a coisa certa”. Para fazer isso temos que envolver os processos, as pessoas, os recursos, o cliente e as demais partes interessadas.
Os processos estão associados às pessoas e às empresas. Tudo o que uma pessoa faz ao longo do dia, e da noite, é um processo. De forma análoga, tudo o que se faz dentro de uma empresa é um processo. Podemos conceituar um processo como um conjunto de ações, pré-estabelecidas, que executadas numa determinada sequência vão produzir um resultado esperado.
Para as pessoas, e para as empresas, se a produtividade não está adequada, é uma indicação de que seus processos demandam uma revisão buscando ganhar em eficiência e eficácia. Processos são executados por pessoas, muitas vezes com auxílio de máquinas, ferramentas e metodologias de trabalho. Portanto, nessa revisão cabe às pessoas olharem objetivamente para seus processos procurando identificar as deficiências que estão gerando as ineficiências e as ineficácias, causas da produtividade inadequada. A eliminação dessas deficiências vai corrigir o problema da produtividade, pelo menos no início da correção.
Numa visão sistêmica chega-se à conclusão de que precisamos mudar a cultura da sociedade brasileira, ou mais objetivamente, precisamos mudar o jeito de ser do brasileiro.
A falta de conhecimento e o interesse em adquiri-lo, o antagonismo que praticamente separa a sociedade em dois grupos, um pouco de seriedade e compromisso no cumprimento das obrigações, o respeito às autoridades, aos educadores e aos pais, o respeito aos símbolos nacionais, a corrupção e muitas outras questões que estão afetando o nosso Brasil.
Para corrigir isso, precisamos trabalhar com as nossas crianças, os nossos jovens, os nossos adolescentes, os que já cursam o ensino superior e as pessoas que constituem a sociedade brasileira, debatendo objetivamente essas questões de forma a mudar o modo de ser do brasileiro. Precisamos de um programa paralelo à grade curricular do Ministério da Educação, para cumpri com esse objetivo junto aos jovens na escola. E não podemos esquecer dos brasileiros adultos, aí incluídos os nossos dirigentes e os nossos políticos. São milhões de pessoas, mas precisamos educar todas elas para que o Brasil possa crescer de forma correta e sustentada.
A tarefa é gigantesca! Mas não podemos utilizar a magnitude da tarefa como motivo ou desculpa para não a realizar. Também temos que estar conscientes que os resultados virão muito a frente, mas virão, se começarmos agora e não esmorecermos ao longo do caminho. Portanto, mãos na massa, Brasileiros! Vamos falar menos e fazer mais.
2 comentário sobre “A produtividade no Brasil e o jeito de ser dos brasileiros”
Sempre presente a questão da educação no Brasil mas ainda muito falada e pouco atendida. Que futuro teremos se não tivermos condições de realizar serviços e produtos mais bem elaborados? Seremos mero executantes sem capacidade de inovar. Não seremos um povo feliz. A prosperidade não será alcançada e sim dependência de terceiros. Podemos virar esse jogo. Parabéns Caio por manter vivo esse tema relevante. Desistir não está no vocabulário da ABQ.
O Caio aborda de uma maneira ampla os fatores críticos de um sistema em níveis, onde a atuação deva ser pensada, planejada, executada por projetos, com Resultados, Meios e Principios. Essa camada, que parece ser um contrasenso, num primeiro olhar, talvez seja a forma mais direta de envolver e mobilizar talentos, dentro das dimensões gigantes de obter eficiência, eficácia e chegar a efetividade, partindo-se de poder compreender operacionalmente a relação entre cultura organizacional e cultura social, nas regiões do País.