Recuperação do Brasil Pós COVID-19
Acadêmico Jairo Martins da Silva, pernambucano do Recife, Engenheiro de Eletrônica pelo ITA e Mestrado Profissional pela Duke University. Exerceu as suas atividades profissionais na Siemens, no Brasil e na Alemanha, na Área de Telecomunicações. Foi Presidente Executivo da FNQ – Fundação Nacional da Qualidade. Atualmente é Diretor Vice-Presidente da Fundação Casimiro Montenegro Filho – FCMF, fundação de apoio ao ITA para pesquisa e projetos tecnológicos, inovação e empreendedorismo.
Acompanhe a sua entrevista a ABQ, concedida à distância no final de junho.
Como você percebe os impactos e consequências da COVID-19?
Desde o início do Século XXI, o mundo já vinha tendo um ritmo bastante acelerado, vivenciando mudanças imprevisíveis e exponenciais. A Pandemia Covid-19 surgiu de repente e silenciosa impondo mais velocidade a esse processo, com impactos sanitários, sociais, financeiros, econômicos e, como se já não bastasse, impactos políticos em alguns países. Para aqueles que se planejaram e alinharam esforços, o enfrentamento será como uma “Batalha de 100 dias”. Na sequência, vamos ter várias batalhas, com várias frentes de combate, ou seja, uma “Guerra de 1000 dias” para nos recuperarmos de todas as perdas, principalmente as sanitárias e econômicas, tudo em uma dinâmica alucinante, pois as transformações não vão parar.
O que fazer no curto prazo, afora as medidas já tomadas, para atenuar o impacto econômico, empresarial e social?
Infelizmente, no Brasil, começamos errado. Era imprescindível que, à luz dos primeiros sinais vindo da Ásia e Europa, tudo fosse planejado de forma alinhada: primeiramente os governos e instituições Federais, Estaduais e Municipais, depois as Empresas e a Sociedade. Uma vez que não fizemos bem as fases “Antes” e “Durante”, pois foi quase tudo na base da “Tentativa e Erro”, nos resta planejar muito bem a fase “Depois”, alinhando todas as partes interessadas em torno de um único objetivo: “Vida e Economia”, acabando com esta controversa dicotomia, na qual muitos ainda insistem, pois as duas têm a ver com sobrevivência e, portanto, precisam andar juntas. É tudo uma questão de planejar e executar, com clareza e sem dubiedades.
Como a qualidade e a gestão podem ajudar para saída da crise?
Os três elementos tradicionais dos conceitos de Qualidade e Gestão estão disponíveis e não precisam ser reinventados: Governança, Método de Gestão e Modelo de Gestão, nessa ordem. Uma boa Governança pressupõe que seja exercida por Líderes Transformadores, que inspiram pelo exemplo e pela competência. O Método de Gestão estabelece a sequência lógica de administrar e enfrentar qualquer crise: Planejar (P), Executar (D), Controlar (C) e Aprender (L). O Modelo de Gestão aborda os 7 Fundamentos da Excelência, a saber: Liderança Transformadora, Pensamento Sistêmico, Compromisso com as Partes Interessadas, Desenvolvimento Sustentável, Orientação por Processos, Adaptabilidade, Aprendizado Organizacional e Inovação e, por fim, Geração de Valor. Qualquer empreendimento ou iniciativa que adote estes três elementos, de forma equilibrada, inclusive o enfrentamento à Pandemia COVID-19, dispõe das ferramentas necessárias para que possamos ter sucesso nas fases ANTES, DURANTE e DEPOIS da crise que estamos enfrentando.
Sempre dizemos que o Brasil é o país do futuro: Isso pode acontecer algum dia? Quando? Como será possível?
Esta frase é emblemática e histórica, o problema é que este futuro não chega. Lutamos, lutamos e morremos na praia. Certa vez, o Ministro Roberto Campos disse: “Infelizmente o Brasil nunca perde a oportunidade de perder oportunidades”. E isto continua válido, ainda hoje, infelizmente. Crises sempre expõem fragilidades, mas também trazem muitas oportunidades. É obrigação dos Governos, Empresas e Sociedade identificarem as fragilidades para resolvê-las, mas aproveitarem as oportunidades para evoluírem. O momento é este e para enfrentá-lo é preciso alinhamento de todos, deixando de lado vaidades, orientações partidárias e ideologias. É preciso planejamento, execução, aprendizado e inovação, com bom-senso e serenidade.
Que conselhos você daria a um jovem que está trabalhando e passa a viver toda essa incerteza?
O primeiro conselho é se preparar e estudar sempre, sem o que não dá para acompanhar esta dinâmica dos cenários. O segundo conselho seria responder à seguinte pergunta: Qual é a minha causa, para contribuir com o meu País e com o Mundo? Depois é agir e trabalhar muito, pois sem execução nada se constrói e não se reduzem as incertezas. Infelizmente boa parte desta nova geração fala muito de propósito, mas pouco faz – é acomodada. O jovem precisa se posicionar, ir às ruas por causas legítimas, tais como, desmatamento da Amazônia, combate às drogas, à corrupção e ao racismo, acesso da população à água tratada e saneamento, empregos dignos, entre outras. Hoje uma boa parte dos jovens compra um notebook, veste bermuda e camiseta, anda de patinete, senta-se em pufes coloridos, joga pingue-pongue no trabalho, escreve frases nas paredes, vive na casa dos pais, denomina-se empreendedor de start-up para se tornar unicórnio, fazer IPO e passar o negócio para a frente. Que raio de propósito é este? Em suma, o meu recado ao jovem: sem muito trabalho não há Resultado, sem resultado não se cria uma Reputação, sem reputação não se atrai Relacionamentos – com estes “3R” se constrói Confiança, que é fundamental para o Sucesso.