Entrevista realizada pelos acadêmicos Haroldo Ribeiro e Eduardo Guaragna com Túlio Duarte, na primeira semana de maio de 2023.
Tulio Duarte é COO da HarboR Informática Industrial, Diretor da Vertical Manufatura 4.0 da Associação Catarinense de Tecnologia.
ABQ: Obrigado Túlio pela sua disponibilidade em nos ceder seu valioso tempo e conhecimento para tratarmos desse assunto tão atual e de aspectos novos ainda em construção. Gostaríamos de saber quais os principais impactos que esta quarta revolução industrial – indústria 4.0, poderá trazer à sociedade?
Tulio: Importante que se diga que não há um único caminho para a indústria 4.0. Há estilos que mudam, dependendo de quem os aplica ou o contexto. Mas há três rotas que podem ser interessantes às organizações
1ª Melhoria no processo produtivo pelo uso de mais e melhores informações, proporcionada pelas ferramentas da Industria 4.0, através de sensores, medições e tomada de decisão, atuando de forma a desenvolver o smart manufacturing, ou seja, fazer melhor com menos e aumento da produtividade.
2ª Mudança no produto de forma mais rápida que o concorrente, ou o “fordismo” de inovação com versões mais atuais e diferentes do produto, colocado no mercado no tempo certo (smart products no menor time do marketing), ou seja, fazer mais rápida a evolução do produto no mercado;
3ª Desenvolver inovações que levem a criar um modelo irresistível de negócio. Isso leva a uma transformação onde a organização atinge outro patamar.
ABQ: Muito interessante Túlio. E como está a Indústria 4.0 no Brasil?
Tulio: Vamos analisar segmentando a indústria no Brasil.
- 5% da indústria é de grande porte e em geral têm condições de acessá-la
- 20% da indústria é médio porte, e neste caso é preciso acelerar a sua adoção e conceitos neste segmento
- Os 75% restantes são pequenas empresas, e elas precisam ter acesso a soluções que caibam no seu bolso. Há ferramentas acessíveis, como armazenamento em nuvem, que podem ser facilmente utilizadas. O segredo é dar um passo por vez com caminhos e soluções pequenas e crescentes. Um obstáculo real é que a educação no Brasil é insuficiente para evoluirmos mais rápido. Precisamos ter a competência de inovação digital, fora do hábito praticado de olhar só para dentro do setor. A inovação aberta é um caminho para inovar olhando para fora do setor.
ABQ: Numa escala de 0 a 100, como se situa a Indústria 4.0 no Brasil?
Tulio: Estamos numa faixa de 40%, pois a adoção de práticas de smart manufacturing é o principal uso atualmente e há necessidade de correções. A adoção de melhoria nas práticas de smart manufacturing é um bom início para implementação dos conceitos. Preferencialmente deve ser escolhido um piloto relevante e praticar a técnica dos quick wins (vitórias rápidas), pois isso eleva a confiança e a visibilidade da mudança.
ABQ: Com relação a Inteligência artificial e os postos de trabalho, que impactos você percebe?
Tulio: Levantamentos recentes mostram que 5% dos empregos serão substituídos, com certeza. Para os 95% restantes, somente 30% de suas atividades diárias são substituíveis, ou seja, a IA é colaborativa.
ABQ: Que empresas são referências em Indústria 4.0 no Brasil?
Tulio: Só para citar algumas, WEG, Krona tubos e acessórios, Embraer, entre outras.
ABQ: Para concluir, quais os principais desafios da Indústria 4.0 e como solucioná-los?
Tulio: Podemos citar pelo menos três desafios:
1ª Transformação nas pessoas é um desafio substancial. Demandando novas habilidades. As pessoas são o foco, quer seja como consumidores finais que devem receber produtos em larga escala e mais customizados, quer sejam as pessoas que trabalham nas organizações devem ser o objetivo das melhorias tecnológicas. Estima-se que a Indústria 4.0 devera ter seu ciclo de implementação rápido, em 20 anos. A primeira revolução industrial, por exemplo, demandou cerca de 100 anos.
2º O segundo desafio é tornar a digitalização acessível às pequenas e medias empresas e há ferramentas que proporcionam isso, tais como o ambiente em nuvem, IA, Internet das Coisas (IoT), etc. Estas soluções devem ser acessíveis não apenas do ponto de vista financeiro, mas também do ponto de vista técnico, de conhecimento, de usabilidade e de sustentação. As soluções alinhadas à acessibilidade em cada um dos aspectos mencionados são aquelas mais favoráveis de adoção pelas PMES para avançar no tema da Indústria 4.0. Isso levará as organizações a serem mais competitivas. A terceira revolução industrial, baseada na automação, era inacessível, pois demandava equipamentos e controladores de preço mais elevado.
3º. Por fim há necessidade de uma política de Estado para tratar desse assunto no Brasil. Alemanha, Argentina e EUA já têm uma política que perpassa governos. Estamos evoluindo bem, mas a integração de esforços ainda precisa melhorar.
ABQ: Agradecemos ao Tulio Duarte pela entrevista e lhe parabenizamos pela forma clara e objetiva com que tratou desse tema. Certamente será bem utilizado pelo nosso público da ABQ.