Acadêmico Ozires Silva

Ozires Silva

Recuperação do Brasil Pós COVID-19

 

Acadêmico Ozires Silva é Oficial da FAB em 1951, Engenheiro pelo ITA – Instituto Tecnológico de Aeronáutica em 1962, MSc  pelo CALTECH – California Institute of Technology – USA em 1966, Doctor Honoris Causa (Engineering) pela Queen’s University of Belfast –   Irlanda. Fellow of Society of Automotive Engineering  (Detroit –USA).Foi Presidente da EMBRAER, da PETROBRAS e da VARIG. Presidente do Conselho Estratégico do Grupo ÂNIMA de Educação e Cultura. Reitor da UNIMONTE.

 

Acompanhe a entrevista concedida a ABQ, a distância, no final do mês de junho.

 

Como você percebe os impactos e consequências da COVID-19?

Todos estamos submetidos aos impactos do COVID-19 que mudou nossas vidas de uma forma que, creio, não mais voltará ao anterior. Agora, em que pesem as mudanças mundiais, os antigos comportamentos que vêm impedindo o nosso desenvolvimento ganharam poder, ao contrário do que desejávamos, simplesmente escancarando as bases dos portões das decisões governamentais, cujos formatos, endurecidos, serão os mesmos do passado.

No início da década dos 1940, Stephan Zweig escreveu um livro “Brasil, o pais do Futuro”, de grande repercussão. O Brasil do futuro, então preconizado pelo autor, seria feliz com o que tinha, terra fértil, água mantendo sua forma de vida (possivelmente a dos índios), diferente do europeu. No fundo, o nosso desenvolvimento manteria o texto da carta de Pedro Vaz de Caminha, não antecipando que o contraste com a vida na Europa aumentava. Décadas se passaram, continuando tudo igual.

Chegamos ao novo Século XIX vendo a Europa avançando numa cultura crescentemente inovadora e a Brasileira registrando uma contínua estagnação econômica, gerando crescentes contingentes de excluídos e desassistidos. Temos vivido, ou sobrevivido, sob o descompasso entre as demandas produzidas pelos índices de crescimento populacional e a satisfação das necessidades sociais. Entramos no Século XX e lamentavelmente, por um processo cultural de submissão ao poder do Estado, permanecemos atrelados ao estigma do subdesenvolvimento, quando se compara com o mundo desenvolvido.

Questões eram levantadas. “Por que algumas nações são bem sucedidas e outras falham na competição internacional e no seu processo de desenvolvimento?”– pergunta o escritor e analista norte-americano Michael E. Porter, no primeiro capítulo do seu extraordinário livro “Vantagens Competitivas das Nações”, publicado em 1990. Ele acentua: “A busca de explicações convincentes para a prosperidade das empresas e dos países precisa se iniciar fazendo as perguntas corretas.” E, elas, no caso do Brasil, quais seriam?

Comecemos colocando que a cultura nacional deve se basear no princípio fundamental de que o principal objetivo das nações deve ser o de proporcionar crescentes e altos padrões de vida aos seus cidadãos. As condições para conseguir isto passam por um sem-número de atributos, pelo aumento da eficiência e produtividade global. Num mundo competitivamente global, vence o melhor. O melhor é o mais competente. O melhor educado e treinado é um transformador e suas armas principais são a competência profissional, cultura comportamental, crenças, sonhos e vontade.

Assim, entende-se, ser essencial o trabalho de fortalecimento das instituições públicas e privadas, em particular as do setor educacional, para mantê-las permanentemente orientadas e preparadas, visando conseguir métodos e processos eficientes para a “fabricação” de cidadãos competentes, desafiadores, capazes e empreendedores. Criadores de riquezas materiais e morais.

 

O que fazer no curto prazo, afora as medidas já tomadas, para atenuar o impacto econômico, empresarial e social?

Vivemos sempre durante curtos prazos, criando uma verdadeira soma deles, surgindo inúmeras ideias e iniciativas ao longo do tempo. Durante grande parte da minha vida nutri uma ideia de que um dia pudesse trabalhar numa fábrica aviões. Naquele “curto prazo” nem imaginava projetá-los. Estava embutido numa sociedade na qual tudo que era bom tinha de vir de outros países, de civilizações mais antigas do que nós, principalmente da Europa! Não me importava, pois no meu curto prazo desejava participar da fabricação de um novo e competitivo produto! Procurei ganhar as oportunidades para aprender, desfrutando de opções, muitas delas árduas de materializar! Num outro curto prazo, em 1963, surgiu uma oportunidade e procurei juntar outros que acreditavam no objetivo que descrevia! Tornamo-nos uma equipe!

Ficou menos difícil, pois as equipes conseguem mais do que os sozinhos! Progressivamente os objetivos criaram dúvidas sobre o que fazer e daí as vontades começaram a mostrar caminhos. Pouco a pouco novos “curtos prazos” surgiram e, somados, se transformaram em estratégias. Outras organizações começaram a acreditar que as ideias da equipe faziam sentido e entraram na nossa soma. Ajudaram e, um dia, nosso primeiro avião decolou! Foi um dia fantástico. Surgiram novos “curtos prazos” e, chegamos a ter nossos aviões voando em todos os continentes!!!

Todavia, penso que para vencer os “impactos econômicos, empresariais e sociais” temos de determinar os “curtos prazos” e trabalhar sobre eles, construindo novas equipes competentes e todas agindo de forma organizada, comandadas por líderes que convençam a comunidade a construir estratégias!

Infelizmente, não temos isso agora e, embora difíceis, nada se faz sem competência, esforços, lideranças acreditadas. Ou seja, o triunfo da Educação, instruindo equipes para todos juntos enfrentar e ganhar nos “curtos prazos” que surgirem!!! Um povo educado jamais será vencido!

 

Como a qualidade e a gestão podem ajudar para saída da crise?

Na minha longa resposta da 2ª pergunta não apareceu a QUALIDADE, mas ela surge ao longo de cada texto, pois a dedicação de cada brasileiro aos produtos estrangeiros vem da crença de que são melhores e fabricados com maior competência e qualidade do que os nossos! Mas isso pode ser mudado, como vemos com o advento dos Tigres Asiáticos, destacando, entre muitos, a Coréia do Sul e a China! Ou, no nosso caso, com nossos aviões!

Nesse contexto, inclua-se a GESTÃO, pois ela, sem a qualidade necessária, todas as ideias se destroem esfacelando as estratégias que se possa construir!

 

Sempre dizemos que o Brasil é o país do futuro: Isso pode acontecer algum dia? Quando? Como será possível?

Em 23 de fevereiro de 1942, o escritor austríaco Stefan Zweig e sua esposa Lotte Altman cometeram suicídio na sua casa em Petrópolis, RJ. Foram enterrados no dia seguinte, deixando uma Declaração Suicídio:

“ Você não pode imaginar o que significa ver este país que ainda não foi estragado por turistas. Hoje estive nas cabanas dos pobres que vivem aqui com praticamente nada (as bananas e mandiocas estão crescendo em volta) e as crianças se desenvolvem como se estivessem no Paraíso –, a casa inteira, desde o chão, lhes custou seis dólares e, por isso, são proprietários para sempre.

É uma boa lição ver como se pode viver simplesmente e, comparativamente, feliz – uma lição para todos nós que perdemos tudo e não somos felizes o bastante agora, ao pensar como viver então”.

Esta seria uma proposição do futuro no Século XX para o povo brasileiro? Ou será assim que estamos vivendo, aceitando viver de joelhos e não de pé!!!  Será este o futuro que desejamos? Ao lermos a DECLARAÇAO DE SUICÍDIO de Stephan Zweig, temos de dizer de forma alta e sonora, um gigantesco NÃO!!!

Temos de mudar e sair do COVID-19, mais fortes e unidos!

 

Que conselhos você daria a um jovem que está trabalhando e passa a viver esta situação de crise?

O único meio de fazer este país crescer e se desenvolver é a EDUCAÇÃO competente, abrangente e moderna, proporcionada aos alunos por Professores entusiasmados, fortemente apoiados pela Sociedade.

Temos de suprir cada nova geração, de qualquer origem, raça ou crenças religiosas com facilidades asseguradas por Governos e pela Sociedade, as escolas que escolherem. Permitir-lhes que façam amigos com todos, mestres, colegas e se juntem à sociedade, pois todos juntos, vencerão!!!

Historicamente um jovem trabalhando numa empresa se considera e é considerado um empregado. Isto representa um passado, pois modernamente ele é um colaborador que tem poderes concedidos e responsabilidades definidas pelo empregador. Ele livre, pode inovar e melhorar o desempenho das suas responsabilidades. A inovação tem um valor imenso nas empresas mergulhadas no Século  XXI.

Por mais incríveis que ideias, produtos e serviços possam ser, algumas podem não ter a visibilidade que merecem por não terem boas estratégias de marketing. Assim, acabam não correspondendo às expectativas iniciais.

Portanto, com uma nova relação empresa/empregados podem surgir boas estratégias de marketing que são essenciais para alavancar a marca de negócios. Dessa forma, podem emergir diversos aspectos que impactam diretamente no sucesso do negócio, e nascerem novos marketings estratégicos.

Este artigo expressa a opinião dos Autores e não de suas organizações.

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