A cultura da mudança

Ditto Shafarnahariy / Pixabay

Vicente Falconi

 

Todo final de ano é época de grandes reflexões, balanços e planos para o futuro. É muito bom que seja assim. É uma época muito especial para todos nós.

No final do ano passado recebemos uma excelente mensagem de ano novo de um amigo. Ele fala da grande necessidade de estarmos sempre observando e atuando em relação ao Novo. Fala também do efeito revolucionário do processo educacional e da autotransformação das pessoas que deve preceder à transformação das organizações e dos países.

Concordamos com ele. Isto é válido não só em relação às empresas, mas também e talvez, principalmente, em relação à nossa vida pessoal. Pensamos em nossa própria família e como têm sido diferentes os nossos Natais. Já não podemos mais contar com a presença de meu pai, de minha mãe, de meu sogro e de dois cunhados.

Minhas duas filhas casaram e agora tem que dividir seus Natais entre a sua família e a de seus maridos. Nossos sobrinhos já estão se casando e as suas brincadeiras em nossa casa já não mais acontecem. Eles já têm suas próprias famílias. Por outro lado, temos esperanças que os netos venham repor o barulho e a inocência dos dias de Natal. Fatos acontecem diariamente que mudam as realidades em nossa volta e temos que mudar e criar soluções novas, a cada dia, para continuarmos a desfrutar dos desafios e das felicidades da vida.

As empresas são organizações humanas como as famílias. Todo dia acontecem fatos novos, não só dentro das empresas como fora delas, que mudam as suas realidades e criam novos cenários, alterando as suas condições de equilíbrio dinâmico. Uma empresa pode estar (momentaneamente) bem, mas nunca se pode dizer que uma empresa é boa por suas vendas, por seu balanço ou por uma situação episódica qualquer.

A boa empresa é aquela que sabe reagir de forma rápida e eficaz às mudanças em sua volta. O processo gerencial é essencialmente isto: estabelecer e atingir metas (alcançar resultados) que posicionem bem a empresa em novos cenários que surgem continuamente.

Não existe posição definitiva de conforto. Isto é um fato da vida e foi reconhecido por Abraham H. Maslow (Motivation and Personality) em suas análises do comportamento humano: a vida é uma alternância contínua entre satisfação e insatisfação e o que faz a motivação da vida é exatamente esta luta pela satisfação humana. O bom processo gerencial é altamente motivador por mais desafiante que seja. A busca do melhor resultado, do resultado excepcional, é a verdadeira alegria do trabalho humano. Observem nossos artistas.

Agora vejam o que acontece com as empresas em seu dia-a-dia. Aparecem novas tecnologias que mudam completamente a maneira de se fazer negócios. Observem a Internet, as transformações do setor de comércio e as ameaças a atual estrutura comercial do turismo. Observem ainda a evolução da tecnologia da informação e as mudanças nas áreas de serviço e administração das empresas. Novos materiais aparecem a cada dia modificando produtos e processos. Um grande exemplo disto é o aparecimento de novos materiais de embalagem e a indústria de laticínios. Mudanças na política econômica mudam a competitividade dos negócios. A estabilização monetária trouxe grandes desafios ao setor de comércio em geral que passa por dramáticas modificações. Trouxe também um novo cenário à administração pública que já não pode contar com o infame imposto inflacionário para fechar seus “orçamentos”. Diante destas mudanças, cada vez mais rápidas e dramáticas, quem não está disposto a enfrentá-las como elemento de seu dia-a-dia será atropelado por elas.

Estas mudanças são disseminadas em todas as frentes internas e externas da empresa. Diante da aceleração destas mudanças e da complexidade de algumas delas, já não é mais possível para uma empresa ter um ou dois heróis que as “comandem”. As mudanças precisam acontecer em todas as frentes e devem ser atacadas por todas as pessoas da organização de forma alegre e voluntária. Não existe outra forma definitiva de fazê-lo e é por isto mesmo que nos dias atuais a educação é não só importante, mas fator de sobrevivência das organizações e da própria sociedade. O grande desafio é levar competência a todos para que cada um possa conduzir as modificações necessárias dentro de sua área de competência.

Surge aí, então, outro desafio dos tempos atuais: a grande lacuna existente entre a quantidade de conhecimento das pessoas e aquela realmente transformada em benefício para a organização. Dois professores da Universidade de Stanford nos EUA, Pfeffer e Sutton, conduziram pesquisa sobre o assunto e publicaram um livro muito interessante chamado “The Knowing-Doing Gap”, no qual concluem que nada menos de US 60 bilhões de dólares por ano são investidos nos EUA para treinar pessoas que acabam não aplicando aquilo que supostamente aprenderam (conhecimento inútil e desperdiçado). Após estas pesquisas, concluíram que a única forma de levar conhecimento às pessoas com a garantia de que o produto do conhecimento seja aplicado na empresa é “aprender fazendo” no dia a dia do trabalho. Já estamos fazendo isto na FALCONI Consultores de Resultado.

No Brasil temos caminhado razoavelmente por esta estrada. Ainda investimos muito pouco em treinamento e também gastamos de forma inócua em muitos casos. No entanto, nesta última década, por influência japonesa, temos adotado em larga escala, nas empresas, a prática de aprendizado de “aprender fazendo e focado na produção de resultados”. A extensão do trabalho que é feito e os resultados já experimentados por várias empresas nos levam a acreditar que esta década mostrará muitas empresas brasileiras como expoentes mundiais de desempenho, além daquelas que já o comprovaram, coisa inacreditável até poucos anos atrás. Só falta os Governos entrarem nisto para valer!

Tendo como base tudo que temos visto em centenas de empresas brasileiras, estamos convencidos de que se conseguirmos, em nível nacional, fazer uma revolução no ensino e investir em massa na educação de primeiro e segundo graus, colocaremos o Brasil em posição muito vantajosa para enfrentar as gigantescas mudanças que o mundo estará enfrentando neste século.

Somos capazes disto. Está em nossas mãos!

 

Vicente Falconi é sócio fundador e presidente do Conselho de Administração da Falconi Consultores de Resultado, e membro da Academia Brasileira da Qualidade (ABQ).

Este artigo expressa a opinião dos Autores e não de suas organizações.

Siga-nos nas Redes Sociais

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Posts Relacionados