O imperativo da inovação em tempos difíceis

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Eduardo Guaragna

A inovação é contemporânea da qualidade. Enquanto a qualidade nascia na década de 20 pelo o engenheiro e matemático Shewhart com o uso de métodos estatísticos, a inovação, uma década depois, nascia pelas mãos do economista Schumpeter, com o propósito de ser o motor para o desenvolvimento econômico. Hoje, em empresas maduras, a inovação e a qualidade fazem parte do mesmo sistema de gestão, se complementando.

Mas o que há de novo na abordagem da inovação?  Eu diria que há seis aspectos que tiveram seu entendimento amadurecido, principalmente neste novo século e no momento atual em nosso país, embora o saudoso Peter Drucker já os tenha, alguns anos atrás, abordado em suas obras.

  1. O conceito de inovação ampliou-se, agregando a sustentabilidade nas suas atenções e o valor a ser ofertado às partes interessadas como foco, não apenas ao cliente.
  2. A abrangência da inovação ampliou-se, não mais se limitando a área de P&D ou apenas tecnológica.
  3. A inovação passa a ser um trabalho em equipe, com soma de talentos, método e disciplina.
  4. A inovação torna-se uma disciplina e, como tal, pode ser aprendida e desenvolvida pelas organizações.
  5. A consciência sobre a sua importância e necessidade ao negócio elevou-se, ainda que muito se fale e pouco se pratique por falta ainda de conhecimento.
  6. A crise atual no Brasil exige criatividade e inovação para fazer mais ou o mesmo com menos recursos, que se tornaram escassos.

Vejamos cada um deles:

  • Embora não haja um único conceito para inovação, as ideias em geral são similares. Particularmente aprecio o conceito formulado pelo Fórum de Inovação da FGV-EASP: Inovação é uma nova ideia que ao ser implementada gera resultados + para fundadores, investidores e demais partes interessadas, com Responsabilidade Social e por um prazo razoável. Assim, a inovação é mais rica que a criatividade e que a própria invenção. Enquanto a criatividade é uma poderosa fonte de geração de novas ideias, a invenção é a sua realização. Mas a inovação tem algo a mais que a invenção: o compromisso com o resultado, o valor gerado pela ideia implementada, incluindo a sua aceitação pela sociedade. O atendimento aos aspectos econômicos, sociais e ambientais é o grande definidor da inovação, dita como inovação inteligente.
  • Ainda que a tecnologia e a atividade de P&D continuem importantes à inovação, hoje muitas inovações não se limitam a isso. Há pelos menos cinco tipos de mudanças advindas da inovação: Novos modelos de negócio, organizacionais ou em práticas de gestão, novos produtos ou serviços, novos processos e novos mercados. Mudanças estas que utilizam ou não tecnologias de ponta.
  • Fomos educados com a ideia de que a inovação é um atributo de gênios, trabalhando só ou com pequenos grupos. Ainda que isso exista, e sirva como o estopim empreendedor, hoje é mais exceção e voltado a pequenos negócios. Equipes formadas por pessoas criativas, analíticas, gestoras e executoras são bem vindas e necessárias, pois cada uma tem um papel na transformação de ideias em resultados concretos no tempo certo. A inovação é inspiração, mas muito de transpiração, já dizia Edson.
  • Acredita-se hoje que a inovação possa ser estudada, aprendida e incorporada ao modo de ser de uma organização, mesmo àquelas que não tenham nascido com o DNA inovador. Talvez esta seja a maior mudança, pois tira a inovação do pedestal de ser apenas acessível por uma elite de organizações.
  • Por fim, as lideranças, embora mais conscientes sobre a importância da inovação, ainda falam mais do que agem na sua direção. Há ainda muitas ações pouco estruturadas na abordagem da gestão da inovação.
  • A crise hoje exige foco e atenção para sair do problema ou, até mesmo, se valer deste momento para diferenciar-se. Melhoria do desempenho atual, redução de custos, novas soluções, fazer diferente dos demais e ser escolhido pelo mercado é motivador para a inovação. Talvez aqui, via inovação, haja a grande oportunidade para melhorar os indicadores de produtividade no país que pouco evoluíram nos últimos 25 anos.

Muito bem! Mas por que a inovação é fundamental ao meu negócio? E se eu não inovar? Escolher morrer é uma opção, já dissera Drucker com relação a falta de inovação. Enquanto a qualidade dos produtos e serviços e a produtividade no uso dos recursos são os maiores responsáveis pela lucratividade do negócio atual, a inovação é a responsável pela sustentação e crescimento do negócio no futuro. Sem ela, não há futuro promissor.

Talvez, até mesmo, não haja presente no médio prazo. Você, líder, empreendedor, gestor, pense nisso!

 

Eduardo V. C Guaragna é engenheiro mecânico, mestre em administração, professor, diretor do Programa Gaúcho de Qualidade e Produtividade (PGQP) e membro da Academia Brasileira da Qualidade (ABQ).

Este artigo expressa a opinião dos Autores e não de suas organizações.

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