Os caminhos para a competitividade

Jan Vašek / Pixabay

Eduardo Vieira da Costa Guaragna

 

A competitividade existe na medida em que há mercados com capacidade de escolha entre alternativas, por parte dos consumidores. Organizações competitivas obtêm a preferência nas escolhas. A competitividade, dada a sua característica dinâmica e temporal, depende da capacidade da empresa em formular e implantar estratégias diferenciadas que lhe permitam obter e manter, no longo prazo, posição sustentável no mercado.

Para as organizações serem competitivas, dois conjuntos de elementos precisam estar bem atendidos. O primeiro pode-se afirmar que se trata de “fazer bem o tema de casa”. Aqui nos referimos aos aspectos empresariais, ditos microeconômicos, que constroem a competitividade e que são de responsabilidade de seus principais administradores. O segundo conjunto trata das condições de macroambiente e de infraestrutura, externas às organizações, mas que interferem na sua capacidade de competir.

Fazer bem o tema de casa, fundamentalmente, é ser capaz de definir e executar um posicionamento estratégico que contemple o uso mais inteligente das competências e recursos existentes na organização, considerando os aspectos de ordem econômica, social, ambiental, incluindo também a integridade e a ética nas relações com as partes interessadas. Sabemos que nos dias de hoje uma organização por ser um ente vivo e dinâmico e ter as suas fronteiras não limitadas fisicamente em termos de comunicação e relação com a sociedade, os impactos decorrentes do comportamento organizacional inadequado de qualquer de seus lideres e colaboradores, pode ter consequências catastróficas ao seu negócio.

Fazer bem o tema de casa implica em autoconhecimento organizacional, permitindo contextualizar a organização para que melhor formule suas estratégias. Neste particular a inovação e a sua gestão e a tecnologia podem fazer parte das estratégias na abrangência apropriada ao desejo de futuro da organização. O autoconhecimento em sintonia com as estratégias permite que a empresa possa tirar o melhor de suas características e explorar com profundidade o seu DNA empresarial.

Também pode levar a reinventar-se empresarialmente, caso o autoconhecimento mostre que a estratégia apropriada é a saída para um novo negócio. Por último, diríamos que o alinhamento das ações organizacionais com os mecanismos de gestão é facilitado quando há coerência entre o autoconhecimento e a estratégia empresarial.

Esse foco dá sentido a excelência, qualificando e priorizando os processos organizacionais relacionados às estratégias e ao desempenho presente. Dizemos que o “tema de casa” está bem feito quando a organização tem esse alinhamento construído, conhece as lacunas e tem programas e projetos visando minimizá-las, ou seja, roda o PDCA estratégico com qualidade. Apesar de ser uma condição necessária para uma organização ser competitiva, o “tema de casa” bem feito pode não ser o suficiente.

O segundo conjunto de elementos deve ser o facilitador da competitividade. Estamos falando das condições estruturais e macro ambientais necessárias e que são exógenas às ações organizacionais, mas que, pela sua característica sistêmica, alavancam ou inibem a capacidade de competir das organizações. Isso é tanto mais verdadeiro e relevante quanto maior o nível de globalização e de abertura dos mercados, como atualmente.

Assim, quando nos referimos a fatores macroeconômicos, fiscais ou de deficiências em logísticas ou custos transacionais, por exemplo, estamos adicionando uma parcela de custos ou gastos, por conta desses elementos, àqueles custos internos inerentes à atividade fim de uma organização. No jargão brasileiro é o tal custo Brasil. Porter já dissera no passado que a competitividade de uma organização depende do seu posicionamento no setor, mas depende também muito do setor em que atua. Acrescentamos que depende também dos aspectos macroambientais e econômicos.

O somatório dos custos e gastos dos dois conjuntos leva ao custo/gasto final, que pode tornar não competitiva uma organização ou um setor. A solução para pavimentar o caminho da competitividade é, sem dúvida, atuar sinergicamente nos dois conjuntos de elementos.

As organizações devem ser instigadas pelos clientes e pelo nível de exigência dos mercados a entregarem produtos e serviços com qualidade e a custos compatíveis ao valor por eles percebidos e, ao mesmo tempo, com o atendimento às expectativas socioambientais da comunidade e sociedade. O governo e instituições formuladoras de políticas econômico-sociais e os provedores de infraestrutura e demais aspectos regulatórios e burocráticos às atividades empresariais devem atuar com visão sistêmica em prol do resultado final: construção das condições para que as organizações e os setores sejam competitivos. Há muito por fazer.

 

Eduardo Vieira da Costa Guaragna é engenheiro mecânico e mestre em Administração pela UFRGS. ASQSenior, CQE, CQM-OE, CRE, CQA. Juiz do PNQ (2004-2012) e Juiz do PGQP. Diretor do PGQP. Consultor, Professor de MBA e Especialização. Autor do livro Desmistificando o Aprendizado Organizacional, Qualitymark e membro da Academia Brasileira da Qualidade (ABQ).

Este artigo expressa a opinião dos Autores e não de suas organizações.

Siga-nos nas Redes Sociais

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Posts Relacionados