sexta-feira, abril 19, 2024

Ter sempre razão não vai levá-lo muito longe

rek Socha / Pixabay

Vicente Falconi

Acredito profundamente que um dos maiores – e também mais recorrentes – erros que se cometem numa empresa é achar que um diretor ou um gerente têm de dominar o conhecimento técnico de seu cargo. Para dar exemplos fora do mundo corporativo: um ministro da Educação não tem de ser necessariamente professor para ser bom gestor.

Da mesma forma, o ministro da Saúde não tem de ser necessariamente médico. Qualquer pessoa que ocupe um cargo de chefia tem de ser é líder – um termo já bem desgastado, mas que, para resumir em poucas palavras, significa aquele que bate metas com o apoio de sua equipe e do jeito certo.

Pela minha experiência, vejo que um bom gerente industrial numa fábrica de chocolates pode perfeitamente passar a ser o bem-sucedido diretor-geral de um hospital. A condição para que isso seja possível é uma só – ele deve ser um bom líder. Deve saber ouvir e cuidar das pessoas. Afinal, quem bate metas e as executa é a equipe.

Quando um técnico que não é líder de verdade ocupa um cargo de chefia, o resultado invariavelmente tende a ser um desastre. Ele acha que precisa ter a solução para todos os problemas. Cai na tentação de se tornar um chefe centralizador e, dessa maneira, só acaba atrasando as decisões da organização.

É claro que nada impede que o chefe seja profundo conhecedor de sua área de atuação. Mas existe o perigo de que ele ceda à tentação de achar que sua solução é a única ou a melhor – o que, para todos os efeitos, dá no mesmo.

Às vezes, ele sente que sua tarefa consiste em ter sempre razão ou entregar a melhor resposta pronta. Na verdade, não é nada disso. O bom chefe sabe buscar na equipe a resposta mais adequada a cada situação. E também sabe fazer as perguntas corretas na hora certa.

Lembro-me de que, em determinada ocasião, uma empresa estava atrás de um executivo para comandar a área de logística. E pode parecer um contrassenso, mas a primeira condição feita explicitamente foi que o candidato tivesse ampla experiência em liderar equipes, gerenciar pessoas, mas que não tivesse conhecimento técnico da área de logística.

Quem resolve os problemas é a equipe da qual o chefe é parte. Vale destacar que não estou fazendo apologia do chefe que vive numa torre de marfim, alheio ao que acontece na vida real. Nada disso. O chefe deve gastar sola de sapato, estar junto à sua equipe e conferir a rotina das operações. Mas deve respeitar a decisão coletiva.

Outro exemplo que presenciamos frequentemente são alguns executivos de gestão que confundem a missão de encontrar respostas com a de criar sozinhos as próprias respostas. Eles acham que devem saber tudo de gestão, criam times próprios e acabam concorrendo com consultores externos – nem sempre com resultados tão bons para a empresa. Em geral, esses profissionais ignoram que o que se espera de um chefe é trazer conhecimentos de gestão para que a empresa possa, o mais rápido possível, melhorar seus resultados.

Portanto, se você percebe que liderança é bater metas com seu time sem deixar de lado princípios éticos, não tenha receios, assuma suas novas atribuições sem medo. Você certamente terá excelentes resultados e crescerá como profissional.

Quanto ao treinamento de novos funcionários, a grande vantagem de um profissional que circula por várias áreas da empresa é que ele percebe melhor as funções de cada uma delas e como todas se integram ao redor de um objetivo comum. Desse modo, adquire a sensibilidade da empresa como um sistema complexo, uma equipe de pessoas que colaboram umas com as outras para a obtenção de uma meta maior.

Se o profissional consegue fazer esse giro dentro da mesma empresa, ele ganha um senso muito apurado e desenvolvido do efeito da cultura empresarial – ou seja, da maneira como as pessoas se relacionam nas diversas áreas da empresa – no resultado da companhia. Uma formação de generalista pode ser mais valiosa do que uma formação de especialista.

É bom dizer, no entanto, que tudo isso é válido para a formação de executivos. No caso da formação de pessoal técnico e operacional, pode ser melhor mesmo manter a pessoa em sua área de especialização. Por exemplo, se seu objetivo for desenvolver um time de bons técnicos de manutenção, deve zelar para que eles tenham o máximo de conhecimento de técnicas de manutenção e conhecimento dos equipamentos a ser trabalhados. Isso só se consegue mantendo as pessoas em sua área de trabalho.

Nesse caso, é preciso construir um plano de carreira atraente para especialistas, fundamental para qualquer empresa que pretenda manter altos níveis de eficiência. Se bem estruturada, essa carreira pode fazer com que as pessoas dessas áreas sintam que estão crescendo como profissionais e sendo reconhecidas e respeitadas como técnicos excepcionais. E não troquem de emprego tão facilmente.

 

Vicente Falconi é sócio fundador e presidente do Conselho de Administração da Falconi Consultores de Resultado, e membro da Academia Brasileira da Qualidade (ABQ).

Este artigo expressa a opinião dos Autores e não de suas organizações.

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