Este artigo expressa a opinião dos Autores e não de suas organizações. |
B.V. Dagnino W. Edward Deming, talvez o mais reconhecido guru da qualidade, propôs os seus famosos 14 pontos, dos quais o oitavo diz: “O medo é uma barreira para a melhoria. Tire o medo do caminho encorajando a comunicação efetiva entre a gerência e os funcionários (e os funcionários e a gerência) e crie outros mecanismos que permitirão a todos serem parte da mudança e pertencer a ela. O medo pode ser encontrado frequentemente em todos os níveis de uma organização: medo da mudança, medo do fato de que possa ser necessário aprender uma forma melhor de trabalhar e medo de que suas posições possam ser perdidas. Este problema frequentemente afeta a alta e a média gerência, embora nas posições mais baixas funcionários podem também temer os efeitos da mudança em seus empregos. Os resultados do medo podem ser vistos na inspeção: operadores podem registrar os resultados da inspeção do seu próprio trabalho incorretamente por medo se exceder a quota aceitável de defeitos, e inspetores podem falsificar resultados para evitar a ira de seus colegas”. A imprensa tem repetidas vezes noticiado o medo que o copiloto Andreas Lubitz do fatídico voo Germanwings tinha em perder a oportunidade de realizar seu grande sonho: ser comandante de grandes jatos da Lufthansa. Diversas informações sobre seus problemas psicológicos e até de visão foram publicadas, bem como suas repetidas manobras para esconder esses fatos. Por outro lado, até 20 de outubro de 2014 a Lufthansa, proprietária da subsidiária de baixo custo, ao longo do ano sofreu oito greves (fonte: UOL), sendo que em agosto e setembro do ano passado foram quatro greves (fonte: rfi brasil/ UOL 30/9/2014). Releva ainda citar reportagem do Jornal Nacional da TV Globo que apresentou gravações de pilotos brasileiros relatando cansaço por excesso de horas de trabalho. Estranho que assunto de tamanha gravidade, por razões que a própria razão desconhece (ou conhece?), não teve acompanhamento posterior. Um subsídio interessante, que evidencia a preocupação dos organismos internacionais que regulam a aviação civil com a gestão de recursos humanos, é o objetivo dos cursos da International Air Transport Association (IATA) e da International Civil Aviation Organization (ICAO). Na área de gestão de recursos humanos o objetivo é transformar a função de Recursos Humanos (RH) para ser um parceiro essencial e eficaz no desenvolvimento e execução de sua estratégia organizacional. Além disso, as habilidades a serem aprendidas são: entender as principais questões estratégicas de RH e tendências que são relevantes para os gestores de RH de hoje; aprender a desenhar e implementar um sistema de informação de RH; integrar as descrições de cargos e avaliações com treinamento e remuneração adequada; e compreender os princípios e aplicações de benchmarking de desempenho. O conteúdo dos cursos inclui: RH estratégico, sistemas de informações de RH, busca de recursos e avaliação, gestão de desempenho e gestão de remuneração. Interessante como subsídio é o resultado da pesquisa da mundialmente conhecida e reconhecida empresa Hay, que realiza pesquisas de clima organizacional em grande número de organizações, inclusive no Brasil, que evidencia que as empresas aéreas concentram seus esforços no aumento da produtividade no trabalho. Verifica-se que os ganhos que se observam nessa área são muitíssimo superiores aos que seriam obtidos melhorando a produtividade das aeronaves e do combustível. O gráfico abaixo evidencia essa diferença no período 1960 – 2005 (fonte IATA). Foi tentada a obtenção de dados mais atualizados sem sucesso, mas a tendência é evidente. Em conclusão, pode-se evidenciar que é indispensável que os órgãos responsáveis pela aviação civil de cada país avaliem o sistema de gestão das empresas aéreas como pré-requisito para conceder licenças de operação. Igualmente, com base no trágico acidente, é importante que essa avaliação inclua a gestão de RH, em particular os resultados de pesquisas de clima organizacional, e a evolução de indicadores de desempenho como reclamações trabalhistas, greves, demissões por e sem justa causa, etc. Por fim, fica claro que os ganhos de produtividade humana não podem por em risco a segurança de voo ou a qualidade do serviço prestado. B.V. Dagnino é vice presidente da Academia Brasileira da Qualidade (ABQ), fellow pela ASQ (EUA), fellow & CQP pelo CQI (Reino Unido) e diretor técnico da Qualifactory Consultoria – dagnino@uol.com.br |