Os 20 anos do Instituto de Qualidade Automotiva (IQA)

O IQA completou 20 anos de disseminação da qualidade em 2015, com foco nos ganhos de produtividade da indústria automobilística brasileira por meio de serviços de certificação de produtos, serviços automotivos e sistemas de gestão, além de treinamentos, publicações técnicas e ensaios laboratoriais. Inaugurado em 1995, o IQA teve sua história iniciada em um período de profundas transformações no mercado automobilístico nacional, provocadas pela abertura às importações. Naquela época, a indústria somava esforços para a adequação dos veículos nacionais a novos patamares de qualidade que permitissem a competição com os importados.

O país também reformulava os direitos de quem adquire produtos e serviços pela criação do Código Brasileiro de Defesa do Consumidor. Aumentavam, ainda, as exigências de certificação de sistemas da qualidade, com a consolidação das normas ISO Série 9000. Assim, surgiam pressões para o mercado quanto ao atendimento às crescentes exigências do novo consumidor.

Com os carros comparados a carroças na voz do então presidente Fernando Collor, as montadoras reagiram com pesado investimento em tecnologia de qualidade, ao mesmo tempo em que o Brasil instaurava o Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade (PBQP), em apoio à modernização da indústria por meio de metas relacionadas à produtividade e à qualidade de vida. Nesse cenário, o IQA foi criado pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e pelo Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores(Sindipeças), que identificaram a necessidade da criação de um organismo neutro com  expertise para certificação de produtos e serviços do setor automotivo.

O movimento recebeu a adesão de outras entidades e o apoio de Dorothéa Werneck, então ministra da Indústria e Comércio, e culminou com a constituição do IQA como entidade de direito privado, de atuação nacional e sem fins lucrativos, decidida em assembleia na sede do Sindipeças, em São Paulo. Para a presidência foi indicado Paulo Roberto Lozano, representante da Anfavea.

Um grupo de profissionais voluntários liderados por Antonio Maciel, atual presidente do Grupo Caoa e ex-presidente da Ford na América do Sul, foi responsável pela estruturação do IQA, desde seus estatutos até o modelo de negócio que a entidade viria a adotar. Competência técnica, liberdade para competir no mercado e operação sem fins lucrativos, além de independência financeira de qualquer entidade, foram os principais requisitos estabelecidos para o Instituto.

Acreditado pela Cgcre Inmetro como órgão de certificação de marca de conformidade de produtos automotivos, o IQA recebeu aporte de capital para início de operações e apoio de 15 entidades públicas e privadas, que se uniram para a sua fundação. Surgia então o IQA com a missão inicial de certificar produtos automotivos com base nos regulamentos internacionais. Logo começou a atuar junto ao governo quanto à obrigatoriedade de certificação de itens de segurança. O projeto iniciaria por pneus, depois suspensão e eixos, sistemas elétricos até atingir todas as partes importantes dos veículos produzidos no país.

Não demorou muito para o Instituto delinear um plano estratégico para a ampliação de seu raio de atuação. Firmaram-se então parcerias com entidades internacionais representativas, como AIAG (EUA), VDA-QMC e TÜV SÜD (Alemanha), UTAC (França), etc e abriram-se outras frentes de atuação, como certificação de serviços automotivos, homologação de componentes e veículos, publicações e treinamentos. Contando 20 anos de avanços, o IQA tem hoje importante papel no apoio a uma nova revolução da qualidade, alavancada pelo programa Inovar-Auto. “Os resultados são muito positivos, mas precisamos avançar ainda mais na disseminação da qualidade nas empresas, cujos esforços hoje estão pautados pela busca da excelência”, analisa Ingo Pelikan, atual presidente do IQA.

Além da diretoria executiva, o IQA possui os conselhos diretor e fiscal. No total, 32 dirigentes estão à frente da entidade, representantes de organizações como Anfavea, Sindipeças, Sindirepa, ABCQ, Abiplast, Abividro, AEA, Cetesb, Denatran, Fenabrave, IPT e SETEC/ MCTI.

Para Pelikan, há mais de duas décadas o então presidente Fernando Collor de Mello protagonizou um episódio que marcou a história do setor automotivo brasileiro. “À época ele declarou que os nossos veículos, em comparação com os fabricados lá fora, pareciam carroças. Ao longo dos últimos 20 anos, como todos sabem, houve uma evolução substancial nos processos e produtos da indústria brasileira. De lá para cá, muitas montadoras se instalaram no Brasil assim como diversas autopeças nacionais foram adquiridas com capital estrangeiro e incorporaram diferentes tecnologias. Resultado: hoje são filiadas à Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) 31 empresas, que somam mais de 700 modelos de produtos atuantes em nosso mercado”, historia ele.

Pelikan afirma que o mercado OEM cresceu em diversidade de marcas e tecnologias, o que levou o Brasil a conseguir exportar produtos com qualidade e, por consequência, aumentar a sua participação no mercado global. Em parte essa evolução foi motivada pelas montadoras, alavanca da cadeia produtiva, via regulamentações, desenvolvimento de produtos e sistemas de qualidade.

“Ao longo de todo esse período os processos também evoluíram. A pintura automotiva, por exemplo, se tornou mais adequada ao meio ambiente; as estruturas ficaram mais robustas e intensificou-se a incorporação de itens de segurança aos veículos. Paralelamente a isso o Inmetro trabalhou na área de certificações compulsórias para o desenvolvimento de produtos homologados no padrão mundial”, acrescenta.

Observa, ainda, que é possível afirmar que as exigências do consumidor brasileiro pautaram toda essa evolução. Com mais oportunidades de se informar antes de comprar qualquer produto, o cliente se tornou mais criterioso. Se há alguns anos olhava apenas se o carro era bonito e possuía um motor potente, hoje se importa com aspectos de segurança, consumo de combustível e conforto, além de rede de concessionárias para o atendimento no pós-venda.

“Atualmente a percepção do consumidor é muito diferente também por causa da variedade cada vez maior de produtos no mercado, fator que permite a ele explorar melhor as alternativas e obriga a cadeia produtiva e o segmento de serviços a ficarem mais atentos se quiserem se manter competitivos”, diz. “Os avanços da qualidade são inegáveis, mas, no âmbito desse tema, sabemos que o ponto ideal está sempre à frente – o que chamamos melhoria contínua. Mais ainda quando se sabe que qualidade é coisa global, e que grande parcela dos carros de alta tecnologia ainda não é fabricada no país. Assim, o desafio que o mercado OEM no Brasil tem pela frente é a incorporação de tecnologias avançadas na velocidade do mercado internacional, na necessidade do mercado local e, obviamente, sem abrir mão da qualidade”.

Por fim, prevê que para a indústria alcançar patamares mais elevados de tecnologia e qualidade não pode abrir mão da inovação de processos e da capacitação de pessoas. “Essa é a percepção do IQA, do alto de seus 20 anos de história no fomento da qualidade, cuja missão é também estimular a discussão sobre o desenvolvimento de produtos e o aprimoramento de processos no País, para que a qualidade seja consequência de um processo fabril e não obrigatoriamente de um controle”, conclui.

Este artigo expressa a opinião dos Autores e não de suas organizações.

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