Pesquisa ABQ/Target

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Hayrton Rodrigues do Prado Filho

Nos últimos dez anos, a intensa competição global e as mudanças nas necessidades dos clientes e do ambiente de negócio têm forçado muitas empresas a analisar suas metas organizacionais e de reavaliar a forma de enfrentar seus desafios. Uma concorrência global extrema forçou muitas empresas a desenvolver planos de ação para responder a um mercado cada vez mais competitivo.

Um plano de ação deve identificar a integração de práticas e princípios de qualidade com o planejamento estratégico da organização. E nada melhor do que analisar resultados de uma pesquisa sobre a competitividade brasileira para se posicionar no mercado.

A pesquisa utilizou a ferramenta SurveyMonkey, o link da pesquisa foi disponibilizado para o mundo técnico de diversas maneiras. O perfil dos respondentes correspondeu a 71% de pessoas de empresas industriais, o que corresponde a 95% do PIB industrial do país. Ao se obter 781 questionários respondidos, obteve-se mais de 17.000 respostas, o que é bastante participativo no mundo técnico.

Na pergunta, “Qual o nível de empenho das empresas brasileiras em geral em oferecer produtos e serviços de qualidade?”, mais de 80% consideram os produtos e serviços brasileiros de qualidade regular ou boa. Ou seja, a exagerada tributação nos produtos importados não está mais deixando ele com seu preço final próximo ao produzido localmente. A utilização de produtos, ditos anteriormente como de qualidade mais baixa, está se comprovando ou ao contrário são os fabricantes que tiveram de produzir um diferencial de qualidade para poderem competir mundialmente e concentraram sua produção em países de baixa complexidade e carga tributária.

Uma questão lógica para respostas mais lógicas ainda: “O que acha da qualidade dos serviços públicos no Brasil?” Mais de 94% dos participantes consideram a qualidade dos serviços públicos péssima, ruim ou regular ou seja, parece ser unanimidade de que isso está enraizado no poder público do Brasil. Quando se fala em produtividade e eficiência, deve-se considerar a avaliação e a fiscalização incansável dos servidores públicos como fundamentais para se garantir uma prestação de serviço digna para a toda a população. Deve-se extinguir figuras como a do barnabé, aquele funcionário que passa o horário de expediente fumando, tomando cafezinho, em conversas de corredor, ou navegando nas redes sociais, em vez de executar o trabalho devido.

Uma pergunta emblemática: “Na sua opinião, o que é prioritário para melhorar a qualidade dos produtos e serviços no Brasil?”, as opções de respostas mais marcadas foram: capacitação dos empregados/servidores, sistema de gestão da qualidade, ética, ouvir o cliente/cidadão, o papel da liderança/governança da organização e o projeto e/ou engenharia melhores. A questão “Quais os fatores que influenciam para o país ter pouca competitividade no cenário mundial?”, as opções de respostas mais escolhidas parecem ser lógicas e representam o que os gestores e administradores pensam sobre o mercado brasileiro: falta de investimento em infraestrutura e em educação, impostos e juros altos, falta uma política governamental coerente, gastos excessivos do governo, custos incidentes sobre o salário dos funcionários e câmbio supervalorizado.

Alguns acham que a adoção de uma política industrial de longo prazo na qual a inovação tenha destaque seria fundamental para garantir o desenvolvimento econômico e social. Isso poderia apontar as áreas estratégicas da economia brasileira e considerar o adensamento tecnológico da balança comercial brasileira aliando os esforços em inovação do Brasil em ciência básica e tecnologia.

E, por fim, um problema institucional sério: a normalização no país. Duas questões “Você e/ou sua organização participam de alguma entidade de normalização nacional, regional ou internacional?” e “Sua organização participou da elaboração/votação de alguma norma nos últimos cinco anos?” Somente 60,82% participaram de alguma entidade de normalização nacional, regional ou internacional e 39,18%, não. O pior, 71,20% nunca participaram da elaboração/votação de alguma norma nos últimos cinco anos e somente 28,80%, sim.

Isso é um recado para a atuação do Inmetro, da ABNT e, principalmente, para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) que coordena essas instituições. Se a normalização é o processo de formulação e aplicação de regras para a solução ou prevenção de problemas, com a cooperação de todos os interessados, e, em particular, para a promoção da economia global, isso não está acontecendo no Brasil. Alguma coisa não está funcionando, pois existe pouca participação por parte da sociedade interessada.

Hoje, com a crise e outros problemas, por meio de uma análise apurada dessa pesquisa, pode-se descobrir que algumas iniciativas de qualidade foram abandonadas porque era a hora errada, a cultura estava errada, as expectativas erradas e assim por diante. O governo e as empresas precisam estar atentos.

Não antecipar a futuras necessidades dos seus clientes e seus cidadãos pode colocar em risco a perda de negócios para os concorrentes e as eleições no caso dos governos. As empresas e as nações mais competitivas antecipam essas necessidades e são capazes de cumpri-las. Os gestores privados e públicos devem entender as necessidades presentes e futuras, para que possam posicionar sua organização e a nação por meio da implementação de estratégias de qualidade adequadas, para satisfazer essas necessidades.

 

Hayrton Rodrigues do Prado Filho é jornalista profissional, editor da revista digital Banas Qualidade e membro da Academia Brasileira da Qualidade (ABQ) – hayrton@hayrtonprado.jor.br

 

 

 

Vamos lançar estrelas-do-mar de volta para o oceano

 

Paulo Afonso Lopes

 

Mais de 700 pessoas pensantes e preocupadas com o destino do país demonstraram, em uma pesquisa, realizada pela Academia Brasileira da Qualidade (ABQ) e a Target Engenharia e Consultoria, facilitadores de informação, que “estamos no fundo do poço, em termos de gestão pública, normalização e competitividade”. Para indicar o trabalho a realizar, recordo-me de um vídeo de treinamento da empresa Siamar, há uns 20 anos, início da Qualidade no Brasil, com Joel Barker, sobre Visão do Futuro, no qual ele conta a seguinte história:

Um escritor, que costumava caminhar pela praia antes de começar a trabalhar, um dia observou um vulto humano que parecia estar dançando, o que o fez sorrir, somente ao pensar em alguém que pudesse dançar. Curioso, apressou-se em alcançá-lo e viu que se tratava de um rapaz que não estava dançando, mas se abaixava, pegava algo na areia e, cuidadosamente, atirava-o ao oceano, por diversas vezes.

Quando chegou mais perto, o escritor gritou:

– Bom dia, o que você está fazendo?

O jovem parou, olhou para ele e respondeu:

– Jogando estrelas-do-mar de volta para o oceano. Está muito calor e a maré começa a baixar. Ah, eu acho que você está curioso do porquê eu estar lançando estrelas-do-mar no oceano. Pois é, se eu não as arremessar de volta, elas vão morrer.

Contestou o escritor:

– Meu amigo, você não percebe que há quilômetros e quilômetros de praia e milhares e milhares de estrelas-do-mar em toda essa extensão? É impossível você fazer alguma diferença.

O jovem escutou-o atentamente. Então, curvou-se mais uma vez, apanhou uma estrela-do-mar e a jogou de volta para o oceano, dizendo:

– Fez diferença para essa aí.

Sua resposta surpreendeu o escritor que, confuso, não soube o que responder e resolveu voltar para casa e recomeçar a escrever.

No restante daquele dia, enquanto criava, a imagem daquele rapaz ficou em sua mente. Tentou ignorá-la, mas a visão persistia.

Finalmente, no início da noite, percebeu que, ele, uma pessoa lógica, ele, o poeta, havia deixado de compreender a natureza intrínseca da atividade do jovem, quando percebeu que aquilo que o rapaz fazia era uma opção por não apenas ser um observador no mundo em que vivia, vendo-o, simplesmente, passar, porque decidiu agir e fazer alguma diferença. O escritor ficou envergonhado e, naquele final de noite, deitou-se pensativo.

Ao amanhecer, acordou já sabendo que devia fazer alguma coisa: levantou-se, vestiu-se, tomou seu café matinal e foi à praia. Reencontrou o jovem e com ele passou toda a manhã jogando estrelas-do-mar de volta para o oceano.

O leitor deve perceber o que as ações daquele jovem, e agora a do escritor, representam. É uma dádiva muito especial que temos em cada um de nós, porque todos fomos dotados da capacidade de fazer alguma diferença e, quando nos conscientizarmos da existência desse dom em nós como aquele rapaz, conquistaremos, por meio da força de nossas visões, o poder de construir o futuro que desejamos, agora meu desafio, e também o desafio de todos. Para garantir um final do século 21 com uma qualidade de vida ideal, cada um de nós precisa achar as suas estrelas-do-mar e as lançar de volta para o oceano.

A Academia Brasileira da Qualidade “…tem muito trabalho para tentar mudar esse panorama”, sendo preciso começar, nem que seja com uma pessoa.

 

Paulo Afonso Lopes é estatístico e membro da Academia Brasileira da Qualidade (ABQ).

Este artigo expressa a opinião dos Autores e não de suas organizações.

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