Sua empresa é uma escola?

Werner Heiber / Pixabay

Vicente Falconi 

 

O mercado está sofrendo com a falta de pessoas qualificadas, com a rotatividade e o custo de mão de obra chegando às alturas. Em qual deve ser o papel das empresas na formação de mão de obra qualificada no país? Há uns 45 anos visitei a Embraer para ver o primeiro modelo do turboélice Bandeirantes. Recentemente voltei mais uma vez à empresa, que hoje fabrica aviões pressurizados a jato — alguns dos quais estão entre os mais modernos do mundo. É nítido o quanto os engenheiros da Embraer aprenderam nesses últimos anos. Uma empresa pode ser comparada a um ser vivo que aprende.

E, quanto mais conhecimento direcionado a seus resultados uma companhia consegue acumular, mais desenvolvida ela será. Isso é válido para qualquer ramo. Quanto mais uma empresa parecer uma escola, mais ela estará assegurando seu futuro. Recomendo-lhe investir pesado em treinamento porque esse é o dinheiro mais bem gasto que conheço.

Existem diretores de diversas empresas que são contra esse tipo de investimento sob o argumento de que “não adianta nada gastar e perder o empregado logo em seguida” ou que “não vale a pena investir dinheiro e tempo para treinar profissionais que podem ir para concorrentes e levar todo o conhecimento”.

Quando você perde seus recursos humanos qualificados, pergunte primeiro qual o problema com sua empresa e por que ninguém quer ficar. É sempre bom fazer uma autocrítica nesses casos. Por outro lado, algumas vezes o próprio contexto leva a uma rotatividade maior de pessoal. Sempre que o Brasil acelera seu crescimento, falta gente qualificada. Isso já aconteceu de forma grave na primeira metade da década de 70. Tudo leva a crer que o país entrou num período longo de desenvolvimento, e seria aconselhável que as empresas se preparassem para compensar essa falta de gente. Treinar é barato.

Caras são as perdas incorridas na produção de mercadorias e serviços por pessoas sem treinamento. Equipamentos quebrados, defeitos de produção e clientes insatisfeitos são coisas que afetam muito mais o caixa do que os treinamentos. Temos clientes que decidiram eles mesmos cuidar da formação de seu pessoal por falta de opção. Mas eles agora percebem que, se bem preparados, esses treinamentos são até melhores que os realizados fora da empresa.

A razão é simples: sempre se pode dar exemplos concretos da companhia, e as escolas não conseguem prover esses exemplos vivos. Aconselho-o a ficar com um olho no treinamento e outro no índice de rotatividade de pessoal, desenvolvendo políticas que deixem os funcionários satisfeitos com sua empresa e, assim, reduzindo a perda de bons profissionais.

 

Administração da rotina

Outro problema em muitas empresas é que a administração da rotina é fraca. Creio que, numa hora dessas, o mais importante é cuidar do dia a dia e assegurar que o organismo empresarial funcione bem. As compras são bem feitas, as vendas ocorrem normalmente, a reposição é perfeita, entre outros indicadores de eficiência? Observe a natureza.

Enquanto você lê este texto, não está preocupado com sua respiração, digestão, circulação sanguínea e com o funcionamento de seu sistema nervoso. Para que você possa aprender e melhorar sua vida é necessário que a rotina de sua saúde esteja bem. O mesmo ocorre com as organizações.

Eu daria total prioridade a arrumar a casa, acertando todos os processos, treinando as pessoas, desenvolvendo a cultura certa, mantendo limpeza absoluta e organização perfeita. Quando você tiver a certeza de que pode ficar despreocupado, então vale a pena se preocupar em rever sua estratégia e procurar as demais melhorias necessárias para crescer. Só com a adoção de um bom gerenciamento da rotina seus resultados já irão melhorar substancialmente.

Procure estabelecer o desdobramento de suas metas. Isso pode ser feito por etapas, em cascata, num processo baseado nas lacunas encontradas em cada nível da empresa, sem que os funcionários tenham de parar de fazer o que já fazem. Não se esqueça de ajudar as pessoas a fazer seus próprios planos de ação.

Descobri, após anos de experiência com a realidade, que a maioria das pessoas não sabe montar planos de ação. Após ter seus planos prontos, eu recomendaria acompanhar de perto a execução, já que somos todos procrastinadores — é quase uma regra que deixemos tudo para depois. São medidas muito simples e trazem ganhos substanciais.

 

Vicente Falconi é sócio fundador e presidente do Conselho de Administração da Falconi Consultores de Resultado, e membro da Academia Brasileira da Qualidade (ABQ).

Este artigo expressa a opinião dos Autores e não de suas organizações.

Siga-nos nas Redes Sociais

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Posts Relacionados